Semana Cáritas sensibiliza o País (e a Diocese) para a solidariedade

Estamos em plena Semana Cáritas, a decorrer até ao próximo domingo, este ano com o tema “Família, construtora de paz”. São diversas as iniciativas de sensibilização para a pastoral social, promovidas pelas Cáritas diocesanas espalhadas pelo País, a mais visível das quais é o Peditório Público, nos dias 16 a 19 de março.

A este propósito, noticiamos o Encontro da Família Cáritas de Leiria-Fátima, no passado domingo, apresentamos um dos grupos sócio-caritativos mais recentes da Diocese, “Braços Abertos” de Carvide, e revelamos alguns dados sobre a ação desta instituição diocesana (ver ao fundo).

Fomos também entrevistar Júlio Martins, presidente da Cáritas Diocesana, que nos fala dos projetos presentes e futuros da instituição e dá conta do fundamental da sua missão.

“Novos serviços respondem a necessidades concretas”

2017-03-14 caritas2Na Semana Cáritas, é usual fazer-se o balanço do ano anterior. Como correu?

Podemos dizer que correu bem, com os objetivos traçados a serem cumpridos. E, felizmente, o número de pedidos de ajuda estabilizou, depois de ter aumentado nos anos de maior situação de crise.

Qual o foi o campo de ação prioritário?

No meio das diversas linhas de ação, a prioridade é a do atendimento social, em que acolhemos as pessoas em situação de maior fragilidade e tentamos dar resposta às suas carências, desde a alimentar à medicamentosa.

Pode contar-nos um caso em que tenha sentido que a Cáritas fez toda a diferença na vida de alguém?

Acredito que sejam muitos. Recordo, por exemplo, uma senhora que perdeu rendimentos e ficou doente, sendo obrigada a mudar para uma casa com renda mais barata. Tinha dificuldade em pagar as duas primeiras rendas exigidas pelo novo senhorio e pediu-nos ajuda. Voltou mais tarde, para agradecer esse apoio que lhe permitiu ter conseguido refazer a sua vida com sucesso.

Qual é o problema a que esteja a ser mais difícil dar resposta?

O pior problema é o da pobreza estrutural, em que as pessoas acabam por se acomodar à denominação de pobres. Seja pela idade, por situações de alcoolismo e outras dependências, ou porque acham que não têm capacidade para encontrar trabalho, acabam por ficar acomodados, recorrendo sistematicamente à ajuda da Cáritas ou outras instituições sociais. E a resposta é continuar a ajudar, porque são pessoas que merecem a nossa compreensão e carinho, além de, muitas vezes, estarem envolvidas crianças.

Em rede

O que significou o Encontro da Família Cáritas, no passado domingo?

É um encontro anual, no início da Semana Cáritas, em que convidamos todos os que colaboram connosco, seja de forma mais assídua ou esporádica. Fazemos o balanço do ano anterior e perspetivamos o futuro próximo, aproveitando para preparar o peditório público que ocorre nesta semana. É ainda uma ocasião para a reflexão sobre a atualidade; este ano falámos de refugiados.

Na relação com a pastoral social nas paróquias, há algum exemplo a destacar?

Há diversos bons exemplos de grupos estruturados ou de cidadãos que se mobilizam para a atenção aos mais desfavorecidos das suas comunidades. Poderia destacar, pelas boas práticas e organização, os serviços sócio-caritativos da Marinha Grande ou da Caranguejeira. Mas tentamos relacionar-nos com todas as paróquias de forma igual.

Mas ainda há algumas sem este serviço de pastoral social…

Sim, em algumas, este pilar da ação da Igreja ainda não está organizado, apesar das recentes insistências do nosso Bispo. Há também casos de grupos fechados em si e sem relação com a realidade diocesana.

Como é a relação da Cáritas com as autoridades e serviços públicos?

Sentimos que há um grande respeito pelo serviço da Cáritas por parte das autoridades autárquicas e das que constituem a administração pública. Temos sempre encontrado a maior recetividade para as nossas iniciativas e é também nossa preocupação colaborar nas ações que desenvolvem a bem dos cidadãos.

E há ligação à estrutura nacional e internacional?

O nosso relacionamento com a Cáritas Portuguesa é o mais colaborante possível, pois todos ganhamos quando pomos em comum as capacidades próprias e procuramos encontrar as melhores soluções. E, através dela, estamos também em colaboração com a Cáritas Internacional.

Contas

Recentemente surgiram notícias sobre um elevado saldo nas contas da Cáritas de Lisboa. O que pensa do assunto?

Não conheço a situação além do que foi noticiado. As opções desta Cáritas irmã terão sido, certamente, ponderadas perante a sua realidade e merece-me todo o respeito. Entendo que a gestão de qualquer entidade, seja da Igreja ou não, tem de equilibrar o momento presente e o futuro próximo. Neste caso, há que atender às necessidades presentes, sob pena de a ajuda se tornar ineficaz, mas não se pode perder o futuro do horizonte, pois essas pessoas continuarão a pedir o nosso apoio e outras continuarão a ser empurradas para situações de pobreza.

Mas essa gestão deve ser pública…

Penso que a transparência é hoje uma exigência, principalmente nos organismos da Igreja. Não temos nada a esconder das pessoas, nomeadamente dos que contribuem para que possamos continuar a prestar ajuda aos desfavorecidos da sociedade.

Como estão as contas da Cáritas de Leiria?

Não sentimos preocupação em relação ao futuro próximo. Recebemos da direção anterior uma situação confortável, de cerca de quinhentos mil euros, a que se juntou um donativo por herança de cerca de cem mil euros. É esta verba que temos tentado não delapidar, apesar do aumento significativo de pedidos nos últimos anos de crise mais aguda ter causado exercícios negativos. Os pedidos de ajuda são muitos e as pessoas têm também menos possibilidades de contribuir. Daí que este saldo seja importante para garantir a resposta permanente da instituição.

Futuro

Além da assistência regular, estão a surgir novos serviços na Cáritas de Leiria…

Sim. No próximo dia 24, o Bispo diocesano irá apresentar o Serviço de Apoio à Maternidade em Dificuldade, uma resposta às famílias com dificuldade em sustentar um novo filho, sobretudo nos primeiros tempos. E em abril iniciamos o novo Gabinete de Apoio à Psicologia, por exemplo. Os novos serviços respondem a necessidades concretas que vão surgindo na sociedade.

E o futuro do voluntariado está também assegurado?

Como resposta, aponto a extraordinária ação do grupo Cáritas Jovem junto das crianças e adolescentes, por exemplo com os projetos “Explica-me” e “Equipa-te”, em que oferecem explicações gratuitas e atividades pedagógicas a estudantes carenciados, promovendo a sua autoestima e integração social. São mesmo extraordinários estes jovens!

Qual o seu sonho para a Cáritas?

Que conseguíssemos ajudar todos os que vivem em situação de carência económica, de autoestima ou de descrédito em si próprios a encontrarem um lugar na sociedade que lhes devolva a dignidade muitas vezes perdida, a sentirem-se cidadãos donos dos seus destinos, sentindo-se amados por Deus e respeitados pelos irmãos.

 

Serviço de Apoio à Maternidade em Dificuldade

Vai ser apresentado, no próximo dia 24 de março, às 11h00, no Seminário de Leiria, o novo Serviço de Apoio à Maternidade em Dificuldade (SAMD), no âmbito dos serviços de pastoral social, da saúde e da família. Esta será uma nova resposta social a funcionar no âmbito da Cáritas de Leiria-Fátima, proposta por Élia Santiago, médica obstetra do Hospital de Santo André, após um estudo em que detetou “haver mulheres a procurar a interrupção voluntária da gravidez por não terem condições económicas para criarem o filho que estavam a gerar”. A sessão de apresentação contará com a presença do Bispo diocesano, D. António Marto.

 

Gabinete de Apoio à Psicologia

No próximo mês de abril, a Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima vai inaugurar um novo serviço de apoio a quem a procura com problemas do foro psicossocial. O novo Gabinete de Apoio à Psicologia pretende ser “uma mais-valia, quer do ponto de vista do acompanhamento social e psicológico, quer no que diz respeito à promoção e desenvolvimento de competências pessoais e sociais que permitam aos utentes prevenir comportamentos de risco”, refere Júlio Martins. O presidente esclarece que o gabinete se destina preferencialmente às “pessoas desfavorecidas social e economicamente”, funcionando às quintas-feiras, mediante marcação prévia para o telefone 244823692.

 

Grupos paroquiais

Das 75 paróquias da Diocese de Leiria-Fátima, 47 têm um grupo organizado de pastoral social. Apenas 4 são grupos paroquiais da Cáritas: Bidoeira, Caranguejeira, Fátima e Minde. Mas a estrutura diocesana relaciona-se de forma igual com os 17 grupos locais autónomos e com os 26 grupos das Conferências de São Vicente de Paulo.

 

“Braços Abertos” em Carvide

O Grupo Sócio Caritativo “Braços Abertos”, da paróquia de Carvide, será o mais recente da Diocese. Partiu da iniciativa de seis paroquianos que frequentaram um Curso de Cristandade, a meados de 2014, e decidiram a partir daí assumir a “missão de evangelização” na sua comunidade. Concretamente, “responder às necessidades concretas dos habitantes da paróquia de Carvide, com opção preferencial pelos que se encontram em situação de maior fragilidade e vulnerabilidade social”, afirma Tânia Brites, um dos membros.

Para iniciar o caminho, procuraram o apoio da Cáritas de Leiria, “uma instituição experiente e credível e que desempenha esta missão a nível diocesano”. E com esta parceria foram definidos os objetivos do grupo: “contribuir para resolução de problemas sociais, na Comunidade de Carvide, no âmbito das respostas de primeira necessidade e de emergência social; desenvolver ações de solidariedade destinadas às pessoas em situação de maior carência; contribuir para a promoção da inserção e da coesão social de pessoas e de famílias mais desfavorecidas; garantir a boa integração de cada elemento no grupo e contribuir para o aprofundamento da fé dos seus elementos”.

Assim, desde setembro de 2014, têm centrado a sua atividade na assistência às famílias, com visitas periódicas e a recolha, seleção, tratamento e distribuição dos bens materiais oferecidos por particulares, empresas e a Cáritas Diocesana. Fazem também atendimento, mediante marcação, e participam regularmente nas campanhas de recolha da Cáritas e da Paróquia.

O grupo reúne-se quinzenalmente e tem promovido alguns eventos para angariação de fundos, como a Festa do Vinil, o Baile de Carnaval e o Dia da Porta Aberta, além de participar em eventos locais como as Tasquinhas de Carvide e o Encontro de Motards do Outeiro da Fonte.

Instalado nos anexos da igreja de Moinhos de Carvide, está presente também no facebook.

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