O padre franciscano Joaquim Carreira das Neves, natural da Caranguejeira, Diocese de Leiria-Fátima, faleceu no dia 28 de abril, aos 82 anos de idade.
A Missa exequial, no Seminário da Luz, em Lisboa, no dia 29, foi presidida por D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, que se referiu ao padre Carreira das Neves como uma figura com “grande aceitação e grande acolhimento” em vários quadrantes da cultura e da sociedade. “Era uma figura verdadeiramente nossa”, disse na homilia da celebração, destacando no seu percurso a “enorme vontade de comunicar e enorme capacidade para o fazer, onde fosse preciso, dentro e fora da esfera eclesial”.
Após as exéquias, o cortejo fúnebre seguiu para a terra natal de frei Carreira das Neves, onde o seu corpo fica sepultado.
Biografia breve
Joaquim Carreira das Neves nasceu a 26 de junho de 1934, na Caranguejeira, e foi ordenado sacerdote a 13 de julho de 1958. Licenciou-se em Teologia em Roma, doutorando-se em Teologia Bíblica na Universidade Pontifícia de Salamanca (1967), sobre a Teologia na tradução grega dos Setenta.
Professor de Teologia Bíblica na Universidade Católica Portuguesa (UCP) e autor de várias obras científicas e de divulgação ligadas aos estudos bíblicos – entre as quais ‘As Grandes Figuras da Bíblia’ –, o frei Joaquim Carreira das Neves foi homenageado em 2005 com uma edição especial da revista ‘Didaskalia’, na qual o padre João Lourenço, atual diretor da Faculdade de Teologia da UCP, falava numa “vida em prol da Bíblia”.
Para além do estudo sobre os textos evangélicos, o padre Carreira das Neves desenvolveu investigações sobre a pessoa de Jesus e a Cristologia das primeiras comunidades cristãs. A vida e obra do religioso, membro da Academia das Ciências de Lisboa, estão no centro do livro ‘O coração da Igreja tem de bater – Um biblista confessa-se’, entrevista ao jornalista António Marujo.
Notas de pesar
Foram várias as personalidades, dentro e fora da Igreja, que manifestaram pesar pelo falecimento do padre Carreira das Neves. Damos nota de alguns exemplos, citados pela agência Ecclesia.
O presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou o seu “grande desgosto pessoal” com o falecimento de um amigo que evoca como “uma grande figura” da cultura portuguesa que se dedicou “ao ensino, à investigação da Bíblia e ao serviço dos outros”. Uma nota divulgada pelo site da Presidência da República refere: “Sacerdote franciscano dotado de uma invulgar cultura teológica e humanística, o padre Joaquim Carreira das Neves distinguiu-se pela lucidez da sua voz, pelo rigor e pela serenidade do seu pensamento e pela elevação do seu espírito”.
A Associação Bíblica Portuguesa (ABP) associou-se ao pesar pela morte de um dos seus fundadores e “um dos seus mais ilustres membros”, que dedicou toda a sua vida adulta a procurar chaves hermenêuticas para entender e ajudar a entender a Bíblia como Palavra de Deus”, refere o padre Mário Sousa, atual presidente da direção.
D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e Patriarca de Lisboa, elogiou a pessoa do “amigo, padre e franciscano”, cuja vida foi marcada pela simplicidade, a proximidade e a vontade de “chegar a todos”. E manifestou a sua “gratidão” pelo percurso como professor de Teologia Bíblica na UCP, um homem com “capacidade inclusiva, no atendimento de todos, em que se salientou”. Recorda “tudo aquilo que o padre Carreira Neves fez” durante tantos anos, sendo “dos professores mais presentes, mais disponíveis para tudo o que fosse preciso fazer”, com “familiaridade”, “disponibilidade” e uma personalidade “absolutamente franciscana”.
D. José Ornelas, bispo de Setúbal e especialista no estudo da Bíblia, falou do padre Carreira das Neves como alguém que marcou a vida da Igreja e da Universidade Católica, desde o Vaticano II e o 25 de Abril. “Ele foi um dos timoneiros dessa mudança, do entendimento da fonte da constante mudança que é a Bíblia”, sustentou, evocando-o como um homem “rigoroso e investigador”, constantemente atualizado, “um peregrino da Palavra, da vida, da alegria, da amizade”.
No Seminário da Luz, o professor Adriano Moreira foi prestar homenagem ao amigo de “muitos anos”, membro da Academia das Ciências, “respeitadíssimo” nos meios eclesiásticos e fora deles. “Da geração dele, é o que deixa uma obra escrita mais importante na área da Teologia e, sobretudo, na renovação da doutrina em relação ao mundo diferente, e bem diferente, que ele conheceu durante a sua vida”, defendeu.
O padre João Lourenço, franciscano e diretor da Faculdade de Teologia da UCP, recordou a “grande simplicidade” do seu confrade, que fez parte de “uma notável geração de homens, conhecedores do mundo da Cultura, da Teologia”. Nas Ciências Bíblicas, acrescenta, o padre Carreira das Neves desempenhou um papel “muito importante”, fazendo passar para o espaço público o seu saber, de forma acessível.
O padre José Tolentino Mendonça, vice-reitor da UCP e também professor de ciências bíblicas, afirmou que o padre Joaquim Carreira das Neves era “um homem verdadeiramente apaixonado pela Bíblia”, sendo o que “mais e melhor falou da Bíblia”, revelando ser “capaz de aprender com todos e ensinar a todos”.
Ao Gabinete de Informação e Comunicação da Diocese de Leiria-Fátima chegaram, ainda, duas manifestações de pesar. Uma delas é da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, enviada pela presidente Silvina Queiroz, dando conta das “saudades e sentimento de perda” pela “chamada para junto do Senhor do eminentíssimo sacerdote Carreira das Neves” e expressando as “mais sentidas condolências a toda a Igreja Católica Romana e aos familiares e amigos do saudoso Padre”.
Outra é Conselho Português de Igrejas Cristãs, assinada pelo presidente da direção, pastor Paulo de Medeiros Silva. Prestando “a sua homenagem a um servo de Deus que foi homem de cultura, professor de excelência e biblicista de relevo”, sublinha que “a sua abertura ao diálogo ecuménico bem como a sua participação em projetos como o da tradução da Bíblia, incluído numa equipa interconfessional, ficarão na memória e no reconhecimento de todos os evangélicos portugueses”.