Hoje ouvi uma jovem de 14 anos que me procurou para a ajudar no seu luto. A mãe morreu-lhe nos braços, no sentido literal. Não sabia o que fazer, ligou para o 112 e abraçou a mãe. Disse-me “eu não fiz nada, podia ter feito mais, eu até percebo de primeiros socorros…”.
Naquele momento não me contive e disse-lhe “fizeste tudo o que deverias ter feito!”. Com o decorrer da conversa, percebi que a mãe, apesar de nova, já tinha problemas crónicos de saúde, e o coração não aguentou mais.
Neste momento em que a morte está tão hospitalizada – como se morrer fosse um falhanço da saúde! – acabei por questionar: que mais podemos desejar, na nossa morte, que morrermos no lugar que sentimos como sendo a nossa casa, sem dores e junto das pessoas que mais amamos? Meros pensamentos de quem não se conforma com uma sociedade na qual, falar de morte, deixou de ser algo natural… Ou onde a própria morte parece já não ser encarada com naturalidade…
Mas voltando à jovem com quem tive o privilégio de me cruzar… Nunca pensei que uma alma de apenas 14 anos, que já passou por tanto, pudesse demonstrar tanta força…! Hoje falou-me de mais uma das suas formas de crescimento (que a psicologia também gosta de chamar de coping) – o baú das memórias. Quando perguntei que baú era aquele, respondeu-me que tinha uma grande caixa onde colocava papéis e que, nesses papéis, escrevia o que gostaria de falar com a mãe: como se sentia, o que queria partilhar ou relembrar sobre algo que acontecera entre elas, os desejos, as saudades…
Fiquei impressionada com ela. Aquilo que ela estava a fazer revelava uma grande maturidade emocional. E, de seguida, ainda acrescentou: “e um dia, quando tiver coragem, vou abrir o baú e ler tudo o que escrevi!”
Meu Deus, que coração tão simples e tão iluminado!
Obrigado Laura [nome fictício] pelo que aprendi contigo;
Obrigada pelo teu exemplo… porque, perante a perda, escolheste nutrir o teu crescimento pessoal em vez de te entregares ao desespero e à alienação.
Obrigada!