22 de Maio: Dia da Diocese (e da cidade) de Leiria

A diocese de Leiria foi criada em 22 de maio de 1545. Extinta a 4 de setembro de 1882, viria a ser restaurada em 17 de janeiro de 1918. No dia 13 de maio de 1984 foi alterada a sua designação para diocese de Leiria-Fátima. A propósito do aniversário que hoje passa, o semanário diocesano Presente Leiria-Fátima desta semana (22.05.2014) faz destaque do assunto com diversos textos, entre os quais um pequeno resumo da riquíssima história da fundação deste bispado, indelevelmente ligada à criação da cidade, dois acontecimentos que atualmente comemoramos como um só. Transcrevemos também neste portal esse trabalho.

 

 

 

 

 

Missa evocativa na Sé de Leiria

As comemorações do dia da diocese e da cidade já tiveram, em tempos passados, um programa comum ou, pelo menos, complementar. Essa opção tem sido preterida nos anos mais recentes, mantendo-se nesta data, com especial ênfase, as cerimónias civis associadas ao feriado municipal.

A Diocese tem direcionado a sua celebração para o primeiro domingo outubro, assinalando em assembleia festiva o início das atividades de cada ano pastoral, em detrimento da data histórica da fundação.

Ainda assim, a efeméride será recordada numa celebração eucarística, na Catedral de Leiria, neste dia 22 de maio, às 19h15, presidida pelo vigário geral, padre Jorge Guarda.

 

Uma viagem pela história

Podemos dizer que a história de Leiria começa em 1135, com a fundação do castelo por ordem de D. Afonso Henriques, nomeando D. Paio Guterres para seu primeiro alcaide. Perdida para os mouros em 1140, Leiria recebe o seu primeiro foral de D. Afonso Henriques em 1142 e é retomada por este rei em 1145, reedificando-se, a partir daí a sua povoação.

Cerca de 1147, estando integrada na diocese de Lisboa, é fundada a primeira igreja em Leiria, com a invocação de Nossa Senhora da Pena. Em 1155, D. Afonso Henriques doa a povoação de Leiria com toda a jurisdição eclesiástica e secular aos cónegos regrantes do convento de Santa Cruz de Coimbra, privilégio confirmado em 1157, pela bula “Ad hoc uniuersalis”, do Papa Adriano IV.

O crescimento da vila é constante. A segunda igreja de Leiria será a de S. Pedro, erigida por volta de 1195. Em 1203, a bula “Cum olim”, do Papa Inocêncio III, adjudica definitivamente o eclesiástico de Leiria ao mosteiro de Santa Cruz. Cerca de uma década depois, Leiria possui cinco paróquias urbanas (Santa Maria da Pena, S. Pedro, Santiago, Santo Estêvão e S. Martinho) e cinco rurais (S. Miguel de Colmeias, S. Salvador de Souto, Santa Maria de Vermoil, S. Simão de Litém e S. João de Espite), seguindo-se, em 1220, a criação da paróquia de Ourém sob invocação de Nossa Senhora da Misericórdia. Em 1232 começa a construção inicial do convento de S. Francisco, junto ao rio. E D. Dinis viria a instituir a feira anual de Leiria, em 30 de abril de 1295, junto à igreja de S. Martinho.

Passam décadas e séculos de consolidação da povoação e de desenvolvimento local. Em 1498 é fundado o convento de Sant’Ana, mosteiro de religiosas dominicanas. Em 1510, D. Manuel atribui foral novo à vila de Leiria e em 1512 são desanexadas da vila e eretas as paróquias de Santa Cruz da Batalha, de Nossa Senhora dos Remédios do Reguengo e de Nossa Senhora da Piedade de Monte Real, constituindo-se outras nos anos seguintes, como Maceira, Seiça, Mendiga e Arrimal.

2014-05-21 dia diocese rei papaEm 1527, Leiria tem 584 vizinhos (casas) na vila e arrabalde, dos quais 53 são cavaleiros e 40 clérigos. No conjunto de Leiria e do seu termo, somam-se 2060 vizinhos. Serão cerca de 2340 habitantes na vila e 6500 em todo o termo.

É em 1543 que o rei D. João III pensa em alterar a divisão diocesana em Portugal, a propósito da vacância do arcebispado de Braga e do bispado de Coimbra, escrevendo uma carta ao embaixador de Portugal em Roma, para que insista junto do Papa na importância da criação do Bispado de Leiria. Entretanto, em 1544, é instituída a Misericórdia de Leiria.

O rei volta a escrever ao Papa Paulo III, a 16 de fevereiro de 1545, insistindo no pedido da criação de novos bispados, especialmente o de Leiria, propondo o nome de Frei Brás de Barros para seu primeiro bispo.

Finalmente, a 22 de maio desse ano, o pedido real é correspondido, com a criação da diocese de Leiria pela bula “Pro excellenti apostolicae sedis”, desanexando-a da de Coimbra e erigindo-se a igreja de Santa Maria da Pena como sua catedral. Na mesma data, pela bula “Decet Romanum Pontificem”, são aplicadas à nova catedral de Leiria e ao seu bispo – Frei Brás de Barros – as rendas que ali tinham o mosteiro e o prior-mor de Santa Cruz.

Em resposta imediata a esta decisão papal, embora em documento datado de 13 de junho, D. João III eleva a vila de Leiria à categoria de cidade.

A 28 de julho, Frei Brás de Barros toma posse do bispado de Leiria. De início, o bispado tem apenas dezasseis paróquias, das quais dez eram da jurisdição do prior-mor de Santa Cruz (as cinco da cidade e Batalha, Maceira, Monte Real, Pataias e Reguengo do Fetal). A estas somam-se as paróquias desanexadas do bispado de Coimbra: Caranguejeira, Colmeias, Espite, S. Simão de Litém, Souto da Carpalhosa e Vermoil.

Frei Brás de Barros seria sagrado bispo de Leiria a 18 de junho de 1546, ano em que se inicia a construção do paço episcopal.

Luís Miguel Ferraz | Presente Leiria-Fátima

Fonte: Maria Luísa de Albuquerque Melo, “450 datas para a história da diocese de Leiria”,

Leiria-Fátima – Órgão Oficial da Diocese, 8 (maio/agosto de 1995), 87-151.

 

História que continua…

Se quisermos dividir a história propriamente dita da diocese de Leiria, desde a sua criação até à atualidade, podemos encontrar (…) alguns marcos significativos que nos permitem estabelecer cinco períodos.

1.º – O primeiro vai até ao ano de 1586, e pode caracterizar-se pela estruturação da nova diocese.

2.º – A integração de dois largos territórios, em 1586, e mais duas freguesias, em 1614, desmembradas do arcebispado de Lisboa, o segundo sínodo diocesano, em 1598, e a promulgação de novas constituições, em 1601, estão no início de um novo período, que se caracteriza sobretudo por um franco movimento de novas construções de igrejas e ermidas e por outros aspetos de alguma vitalidade. Este período vai praticamente até ao fim do primeiro decénio do século XIX.

3-º- Desde 1810 até ao ano de 1882, verifica-se uma nítida decadência, motivada pela 3.ª invasão francesa e pelas várias tentativas de extinção da diocese, que se consumaram em 1882.

4.º – O interregno em que a diocese esteve dividida em partes iguais pelo patriarcado de Lisboa e diocese de Coimbra durou 35 anos.

5.º- A restauração da diocese, decidida superiormente em dezembro de 1917 e com bula passada nos princípios do ano de 1918, inicia um novo período que vem até à atualidade.

Contemporaneamente, verificaram-se, também em 1917, as aparições de Nossa Senhora, que com a sua aprovação canónica episcopal, em 1930, e a adesão de toda a Igreja à sua mensagem deram uma dimensão internacional à pequena diocese, que recebeu, em 1984, o novo título de Leiria-Fátima.

Luciano Cristino, “Da vigararia crúzia à diocese de Leiria-Fátima”,

Leiria-Fátima – Órgão Oficial da Diocese, 8 (maio/agosto de 1995), 166-167.

 

Painel de opinião

Que importância tem o dia da criação da Diocese?

 

2014-05-21 dia diocese 4P. Jorge Guarda, vigário geral

Lembra-nos as suas origens históricas (1545) e permite-nos celebrar a sua criação como comunidade eclesial autónoma guiada por um pastor, o bispo. O aniversário aviva a nossa memória do caminho histórico que ela fez e ajuda-nos a tomar consciência da nossa identidade como Igreja particular de que somos membros e pela qual estamos inseridos na grande família da Igreja Católica.

A Diocese nasceu gémea com a cidade de Leiria, o que nos leva a valorizar também a cidadania, a convivência fraterna e a cooperação com todos os homens e mulheres que nela vivem. Cito, a esse propósito, um excerto da exortação apostólica “A Alegria do Evangelho” (71), do Papa Francisco: “A nova Jerusalém, a cidade santa (cf. Ap 21, 2-4), é a meta para onde peregrina toda a humanidade. É interessante que a revelação nos diga que a plenitude da humanidade e da história se realiza numa cidade. Precisamos de identificar a cidade a partir de um olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. A presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. Ele vive entre os citadinos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça. Esta presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada. Deus não se esconde de quantos o buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando, de maneira imprecisa e incerta”.

 

2014-05-21 dia diocese 1aAmbrósio Santos, paróquia de Leiria

Na família ou nas organizações, o dia do nascimento lembramo-lo sempre, geralmente em ambiente festivo. Não será diferente em relação à grande família cristã que é a Diocese. O dia da sua criação será sempre uma data que merece ser recordada. E não apenas como mera evocação histórica. O dies natalis da nossa Diocese convida-nos, sobretudo, a renovar os laços de pertença, grata e alegre, a esta porção do Povo de Deus e a envolvermo-nos, com generosa dedicação, numa missão que é de todos.

 

2014-05-21 dia diocese 5Ambrósio Ferreira, paróquia da Cruz da Areia

Para uma qualquer comunidade cristã ser constituída em diocese é um acontecimento importante, que merece ser celebrado. Nós, humanos, precisamos de ritos ou rituais, que nos ajudem a interiorizar valores, sentimentos ou afetos. Por isso, temos tantas celebrações, temos dias aniversários para quase tudo… Celebrar o aniversário da diocese há-de ser, para o cristão diocesano, um reavivar do seu amor pela Igreja mãe, um confessar mais sentido daquele artigo do Credo: “creio na Igreja”!

 

2014-05-21 dia diocese 6Paulo Lameiro, direção pedagógica do Berço

Celebrar a criação da Diocese é celebrar o ser Igreja em comunidade. Mais do que evocar a história dos muitos que lutaram para ter um pastor perto de nós, mais do que agradecer às várias gerações de cabidos o seu esforço em construir uma comunidade de fiéis unida e forte, mais do que lembrar a grande família de padres e leigos que souberam construir uma catedral de homens e mulheres de fé, é alimentar a Igreja que somos hoje.

 

2014-05-21 dia diocese 2João Paulo Leonardo, diretor da Revista Invest

São dias históricos. O primeiro diz respeito à fundação da Diocese, originariamente conhecida como Diocese de Leiria, que foi constituída a 22 de maio de 1545, dia esse ainda hoje feriado municipal do concelho leiriense, que celebra a passagem a cidade (ainda que tivesse sido elevada mais tarde) e a sede de bispado. O segundo, a 13 de maio de 1984, quando foi dado à Diocese o título Leiria-Fátima, precisamente o dia da Aparição da Virgem Maria aos três pastorinhos, na Cova de Iria, Fátima.

 

2014-05-21 dia diocese 3Ana Silveira, professora

Tendo em conta o significado eclesial e cultural da efeméride, a sua celebração ajuda a tomar consciência das raízes e da identidade, além de constituir um sinal de que, respeitando as diferenças de todos, podemos viver em união.

 

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