Vigília Pascal enche a Sé de Leiria com luz, esperança e novos batismos

Na noite escura e chuvosa de sábado, 19 de abril, as portas da Sé de Leiria abriram-se para acolher o mistério mais profundo da fé cristã contido na celebração da Vigília Pascal. Presidida por D. José Ornelas, bispo da diocese de Leiria-Fátima, a assembleia que enchia a catedral deu corpo a uma comunhão viva, silenciosa e expectante, que se transformou, ao longo de várias horas, num espaço de luz, de cântico e de esperança.

A noite em que nasce a luz

A escuridão envolvia a cidade quando, no adro da Sé, teve início o rito inicial: a bênção do fogo novo. À volta do pequeno braseiro vigiado pelas seculares muralhas do castelo, o bispo traçou na cera do círio pascal as letras gregas alfa e ómega.

Com o círio aceso, a procissão entrou no templo escuro. À medida que a chama era partilhada, uma onda crescente de luz, embora ainda ténue, atravessou a nave, iluminando os rostos de centenas de fiéis. O anúncio jubiloso da Páscoa, cantado no precónio, ergueu-se como um clamor de vitória sobre as trevas da morte.

Esta imagem não tem texto alternativo. O nome do ficheiro é: Vigilia-Pascal-enche-a-Se-de-Leiria.jpg

Palavra viva e promessa cumprida

Seguiu-se a liturgia da Palavra, marcada por três das sete leituras possíveis do Antigo Testamento e duas do Novo, culminando no Evangelho da Ressurreição. As Escrituras desenharam diante da assembleia o percurso da história da salvação, desde a criação do mundo até ao túmulo vazio.

Na homilia, D. José Ornelas convidou todos a mergulhar no significado profundo da noite pascal. “Acendemos um fogo novo que nasce nesta terra, a cada ano”, afirmou. “Também nós somos confrontados com desafios novos. Precisamos que o nosso coração se aqueça para lhes responder.”

O prelado evocou o caminho dos primeiros discípulos, marcados pela desilusão e pelo medo, mas tocados pela presença do Ressuscitado. “Pensávamos que a salvação vinha pelos exércitos, pela força, pelos triunfos. Mas não — esse não era o caminho”, declarou. “Nascia uma nova maneira de viver: oferecendo a vida, animando tudo o que é vida, criando fraternidade, paz, um mundo para todos.”

Uma vida nova que nunca mais acaba

O momento mais sensibilizador da noite aconteceu durante a liturgia batismal, quando cinco jovens, depois de um percurso catecumenal nos meses que antecederam a celebração, receberam o batismo. As águas do cântaro que se podia ver à frente do altar foram abençoadas, a ladainha dos santos invocou a comunhão da Igreja celeste, e os novos cristãos professaram publicamente a fé. Toda a assembleia renovou as promessas do próprio batismo, numa proclamação conjunta de fidelidade.

“Para vós, este é o primeiro dia da vossa ressurreição”, disse o bispo aos recém-batizados. “Recebeis hoje uma vida que não acaba. A vida que se recebe no batismo é a vida de filhos e filhas de Deus.”

D. José Ornelas destacou a missão que agora começa para estes novos membros da Igreja, recordando que a fé não é um tesouro escondido, mas uma luz que deve brilhar. “Viestes para assumir a vossa vocação na Igreja. E contais. Contais muito. Do vosso coração nascerão coisas belas.”

Um povo renovado, uma missão para todos

Na liturgia eucarística, que concluiu a celebração, a comunidade, agora acrescida de novos membros, uniu-se em acção de graças. O aleluia, suprimido durante toda a Quaresma, ecoou por diversas vezes ao longo da noite, como sinal do júbilo pascal.

Ainda durante a homilia, o bispo tinha dirigido palavras de encorajamento aos presentes, com particular atenção aos que assumem novos serviços e compromissos na Igreja: “Vivam o que anunciam. Não finjam alegria e esperança. Vivam-na. E transmitam-na.”

A Vigília Pascal, mãe de todas as vigílias, terminou já nas primeiras horas de Domingo de Páscoa, deixando nos corações uma certeza que só se explica pela fé de quem acredita: a luz venceu as trevas, a morte foi derrotada, e a vida nova de Cristo continua a renascer no seio da Igreja.

Transcrição da Homilia

Vamos sentar-nos um momento. Nesta noite, uma noite longa. Mas uma noite, espero, onde a verdade sempre cresce.

Os actos que celebrámos até agora foram actos de palavra — não tanto do passado, mas das raízes, daquilo que está mais fundo. Começámos por acender um fogo, lá fora, porque é um fogo novo que nasce nesta terra, a cada ano.

E, em cada ano, também nós somos confrontados com desafios novos. Precisamos que o nosso coração se aqueça para lhes responder. Para responder pela nossa fé, com o coração preparado, animado pela Palavra interior.

A Palavra é como uma mulher: gera, dá vida. É uma Palavra com séculos. E é hoje que se repete o momento. Depois de séculos a escutá-la, é nesta noite que ela se cumpre: ele, que passou pela morte, ressuscita.

Quando chega o novo dia, aparece uma nova luz. Nós cantamos ao celebrar o santo círio, que acendemos para iluminar esta noite. Por isso entrámos, trazendo luz para dentro da igreja.

Sem esta luz, tudo estaria mergulhado na escuridão. Mas trouxemos luz. Olhemos o que aconteceu há dois mil anos, em Jerusalém.

Tudo parecia ter acabado na vida de Jesus e dos seus discípulos. Eles acreditavam que o mundo ia mudar, que Jesus vinha para instaurar um novo tempo.

Mas tinham feito um plano para Jesus — e estavam longe de perceber o plano de Jesus para si e para eles. Por isso não estavam preparados para o escândalo da cruz.

Quando ele foi morto, todos fugiram, com medo. Tinham jurado que estavam dispostos a morrer com ele… mas caíram.

Agora estavam desanimados. Pedro e os outros, que tinham negado Jesus. Judas terminou o seu caminho longe do Mestre. Tudo parecia perdido.

Na manhã de domingo, um deles já estava a caminho. Os outros estavam fechados em casa, cheios de medo. E é precisamente nesta noite que brilha uma nova luz sobre este grupo de discípulos.

Porque muitos duvidaram: “Mas ele não era o Messias? Como é possível?” Pensavam que tudo tinha sido um sonho. Afinal, ele tinha feito tantos milagres, tinha falado como ninguém antes…

Mas foi esse mesmo Jesus que veio ao encontro deles, e isso mudou tudo. Nessa presença, perceberam que ele tinha razão. Nós é que não tínhamos compreendido a razão de Deus.

Pensávamos que a salvação vinha pelos exércitos, pela força, pelos triunfos. Mas não — esse não era o caminho. O verdadeiro caminho era novo: um mundo que nascia onde essas armas desapareciam.

Nascia uma nova maneira de viver: oferecendo a vida, animando tudo o que é vida, criando fraternidade, paz, um mundo para todos. Esse é o mundo novo que está a nascer.

Então, os discípulos começam a entender. Esta é a primeira palavra de Deus: ele tinha razão. Aquela luz não se apagou.

Simplesmente teve de passar pela morte, como todos nós. Para mostrar que a luz deste mundo não basta. Acender o fogo é bonito e simbólico, mas não chega.

Se essa luz não entrar no nosso coração, se não o aquecer, não serve de nada. A fé não é apenas para depois da morte. É agora que tudo se transforma.

O Jesus ressuscitado é o mesmo que passou por esta terra a fazer o bem, a curar os doentes, a ensinar. Ele veio criar um mundo novo no coração das pessoas. É este o caminho que nos liberta do mal.

E, por isso, daqui a pouco vamos celebrar o dom da Igreja: os nossos irmãos e irmãs, catecúmenos, que hoje professam a fé.

Foram momentos de descoberta, em que perceberam que o Senhor não os abandonou, mas está presente, e caminha com eles até ao fim. Por isso foram enviados ao mundo. E se nós estamos aqui hoje, é porque eles mudaram de mentalidade e compreenderam a lógica de Jesus: uma lógica nova.

Deixaram o medo. Abriram as portas. Ninguém sai para anunciar se não tiver esta certeza. Eles não anunciavam apenas para si — o que tinham vivido merecia ser comunicado ao mundo inteiro.

É por isso que os nossos irmãos e irmãs vão hoje ser batizados. São frutos da mesma fé. E não é por parecer bem — é porque, a partir de agora, têm uma vida nova, que nunca mais acaba.

Mesmo quando chegar a hora de apagar a luz da vida na terra, essa vida nova permanece. Uma antiga liturgia do batismo dizia: aquele que foi batizado subia três degraus e escutava: “Se permaneceres fiel ao Espírito que recebeste, este é o primeiro dia da tua ressurreição.”

Pois bem, irmãos e irmãs: para vós, este é o primeiro dia da vossa ressurreição. Recebeis hoje uma vida que não acaba. A vida que se recebe no batismo é a vida de filhos e filhas de Deus.

E é com esta vida que todos começamos, juntos, a caminhar. Vós, que hoje vos batizais, estais a entrar nesta terra nova, que é a Igreja.

E não estais sós. Todos nós estamos convosco. Mas hoje, de modo especial, também um grupo de adultos se junta nesta preparação, redescobrindo a luz do seu próprio batismo.

Vêm hoje professar a fé diante da Igreja, nesta noite santa. Porque, em todas as igrejas do mundo, começa agora o mesmo caminho. E a profissão de fé não é um sentimento vago.

É dizer: hoje recebo o Espírito que me liga aos meus irmãos e irmãs. E, por isso, estou aqui nesta casa nova — a casa do Pai — que não está em oposição à minha casa, ao meu marido, à minha mulher, aos meus filhos. Pelo contrário: inclui tudo isso.

Estamos todos juntos, porque em Cristo somos um só. Esta é a vida que recebemos.

É esta Igreja que procuramos renovar. E não é um favor que Deus vos faz. É um dom para ser posto ao serviço.

Juntos, testemunhamos que a vida vale a pena. E que não é só quando tudo corre bem que temos esperança.

Jesus não fugiu quando tudo correu mal. Ele sabia que, apesar do sofrimento e da angústia, o amor do Pai era maior.

É esta fé que somos chamados a viver. Vivam-na com gosto. Vivam-na com verdade. Não viestes aqui apenas para receber uma benção pessoal. Viestes para assumir a vossa vocação na Igreja. Do vosso coração nascerão coisas belas.

A Igreja precisa de todos: de bispos, de padres, de diáconos, de artistas, de servidores… o Espírito passará por vós. Deixem-no agir.

Sejam homens e mulheres de vida, de esperança, de alegria, de paz.

E não desanimem. O mundo precisa de vós. Deus precisa de vós.

Aos irmãos e irmãs que aqui estão de modo especial, a renovar o seu compromisso, e aos que iniciam hoje um novo serviço na Igreja, repito o que disse há dias: vivam o que anunciam.

Não finjam alegria e esperança. Vivam-na. E transmitam-na nas vossas famílias, nas vossas comunidades, nas vossas casas.

Porque os filhos e filhas da Igreja, hoje, têm de brilhar.

Não para se esconderem — porque a luz não é para esconder, é para brilhar. Que brilhe sempre no vosso coração, nas vossas atitudes, nas vossas acções.

Que brilhe sempre na presença do Senhor, que está vivo e que vos acompanha para sempre. Ámen.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO
https://photos.app.goo.gl/2MVB7cc9Xd4zGAE77
Cantata “Santo Agostinho – O cantor da sede de Deus”
22 de Maio
a 24 de Maio
59º Dia Mundial das Comunicações Sociais
1 de Junho
Dia Jubilar das Famílias e dos Jovens
1 de Junho
, às 10:00
Partilhar

Leia esta e outras notícias na...

Receba as notícias no seu email
em tempo real

Pode escolher quais as notícias que quer receber: destaques, da sua paróquia

plugins premium WordPress