A vida não acaba com o fim da atividade profissional. Então como fazer desta etapa um período útil e fecundo para si e para os outros?
Foi esta questão que levou um grupo de reformados franceses, em 1962, a juntarem-se para refletir em conjunto e encontrar respostas para as mudanças profundas da sociedade e para o papel ativo que queriam desempenhar, vivendo nessa nova condição o seu compromisso de fé.
André d’Humières, Léon Harmel e Anne-Marie Couvreur foram os três leigos que, com o apoio de monsenhor Courbe, bispo auxiliar de Paris, puseram de pé a “Vie Montante”, entre nós conhecida como Vida Ascendente – Movimento Cristão de Reformados.
Depois de uma vida profissional e familiar ativa, os reformados têm pela frente mais algumas décadas. Dada a maior esperança de vida, são cada vez mais os que, em todo o mundo, se debatem com o problema de como continuar a ser uma força ativa na sociedade e, também, nas suas comunidades cristãs. É aí que surge a Vida Ascendente, como ajuda para dar um novo sentido à vida dos reformados cristãos leigos.
Logo após a fundação, esta associação privada de cristãos reformados, aposentados ou em situação equiparada (pré-reformados, donas de casa, etc.), rapidamente se espalhou pela Bélgica, Suíça, Canadá, e está hoje em mais de 50 países, nos cinco continentes. Em 1985, foi criada em Roma a “Vie Montante Internationale”, uma estrutura que coordena os meios e as ações desses vários movimentos nacionais e lhe dá unidade e universalidade. Dez anos depois, foi admitida na Conferência das Organizações Internacionais Católicas e, no ano de 1996, foi reconhecida pelo Conselho Pontifício para os Leigos como associação internacional privada de fiéis de direito pontifício.
Foi também em 1985 que chegou a Portugal, pelas mãos de Maria Elvira Abranches, estando presente atualmente na maioria das dioceses e com personalidade jurídica reconhecida pela Conferência Episcopal Portuguesa.
Vida e espiritualidade
Apesar desta estrutura internacional, nacional e diocesana, a Vida Ascendente faz-se, sobretudo, nos grupos de base, onde se dá corpo a três objetivos primordiais: viver fraternalmente (amizade), aprofundar a fé e a vida espiritual (espiritualidade) e traduzir em atos concretos o seu empenho cristão na sociedade e na Igreja (apostolado/evangelização/compromisso). Numa palavra, viver à luz do Evangelho os compromissos e desafios atuais da sociedade.
Para o concretizar, para além das reuniões dos grupos para aprofundamento dos temas definidos a nível nacional para cada ano (têm uma revista bimestral do Movimento), organizam ações de formação e espiritualidade, passeios, convívios, etc.
Na diocese de Leiria-Fátima
A responsável diocesana, Maria João Silva, conta-nos como chegou o Movimento a Leiria-Fátima: “No inicio de 2007, num encontro ocasional de um membro da direção nacional da Vida Ascendente com uma amiga de Leiria, falou-se sobre o interesse de trazer o Movimento para a Diocese. Em Maio, um grupo de amigas, antigas dirigentes e membros da Ação Católica, foram convidadas para um encontro nacional em Fátima. Em outubro, a presidente nacional, Marta Melo Antunes, veio falar ao bispo D. António Marto e este mostrou-se muito recetivo a essa criação. O arranque foi dado com um grupo de 21 senhoras de cinco paróquias e, a partir daí, formaram-se dois grupos, um no meio urbano em Leiria e outro no meio rural no Soutocico (Arrabal). Posteriormente, formou-se nesta paróquia um terceiro, no Freixial. Em outubro de 2009, o Movimento foi oficializado pelo Bispo diocesano, foi eleita a primeira direção diocesana e nomeado assistente o padre Pedro Viva. Entretanto, estamos já no 2.º mandato e o assistente é o padre Gonçalo Diniz”.
Entrevista a Maria João Silva, presidente da direção diocesana
Maria João Silva, professora natural das Colmeias e residente em Leiria, está reformada há 15 anos. Entrou para o primeiro grupo da Vida Ascendente criado na diocese de Leiria-Fátima, em 2007, e desde há cindo anos assumiu a coordenação diocesana do Movimento.
Como teve conhecimento do Movimento e porque decidiu associar-se a ele?
Foi através de um grupo de amigas. Tendo-me debruçado sobre os objetivos do mesmo, decidi integrar-me, pois concluí que podia contribuir para a minha valorização espiritual e sociocaritativa e para aprofundamento da fé.
E tem contribuído?
Sem dúvida. Tem-me proporcionado uma vida ativa, dinâmica e contribuído para que tenha posto em prática os três pilares do Movimento: amizade, espiritualidade e apostolado. As palavras de Paulo VI na Evangelii Nuntiandi, dizendo que o homem “escuta mais as testemunhas do que os mestres” ou “se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”, dão-me força para continuar e sentir-me útil à sociedade. Tenho aprendido muito com o Movimento.
Quais as vossas atividades mais regulares?
Embora possa não parecer, são muitas. Temos reuniões quinzenais ou mensais dos grupos de base, para estudo de temas de fé, participamos em encontros de reflexão e espiritualidade no Advento e Quaresma e nos convívios de Natal, Páscoa e fim de ano pastoral, fazemos visitas culturais a monumentos e locais de interesse na região e pelo País, vamos à assembleia, ao retiro e ao encontro nacionais em Fátima, etc.
Mas promovemos muitas outras atividades, em ligação com outros movimentos, nas paróquias e na Diocese. Por exemplo, visitamos pessoas em situação de isolamento ou internamento em instituições de acolhimento ou cadeias, participamos na Aldeia de Natal organizada pela Câmara Municipal de Leiria com fins solidários, fazemos artesanato e trabalhos manuais para esse fim, organizamos uma colónia de férias com idosos no verão, no Pedrógão.
O que deve fazer um reformado que queira entrar na Vida Ascendente?
Basta vir participar nas reuniões organizadas pelo Movimento como simpatizante e, passado algum tempo, inscrever-se como membro efetivo. Nessa altura, dentro das suas possibilidades, deve participar nas atividades organizadas pelo Movimento na Diocese e a nível nacional.
O que se exige é apenas que viva os três pilares do Movimento: a amizade de vida fraterna, a espiritualidade de aprofundamento da fé e o apostolado de traduzir em atos concretos o compromisso cristão na sociedade e na Igreja.
Palavras do Patrono, S. João Paulo II
“Na minha Carta Aos Mais Velhos, eu convidava todas as pessoas idosas a ver esta importante fase da vida como uma oportunidade de renovação espiritual pessoal e um apelo à construção de uma civilização de amor e de solidariedade. Os mais velhos podem dar o exemplo, tão necessário, de fé, de sabedoria e de alegre esperança a um mundo cuja visão está, cada vez mais, limitada a um presente efémero. Eles mostram-nos que os anos da idade avançada podem ser um tempo empregue de modo criativo para aprofundar a nossa vida espiritual através de uma oração mais fervorosa e para um compromisso ao serviço dos nossos irmãos e irmãs na caridade”.