Sob o tema “Num só coração, uma só família humana”, está a decorrer a Semana Nacional Cáritas, que se estende até 8 de março.
Partindo do Sínodo dos bispos e da campanha da Cáritas internacional, ambos sobre o tema da família, serão realizadas um conjunto de ações locais das quais se destaca o habitual peditório, que na Diocese se realiza entre o dia de hoje e o próximo domingo, 8 de março.
Anualmente, a Semana Nacional Cáritas aponta as luzes para uma instituição que é “expressão da atividade sócio caritativa organizada da Igreja” e que, no decorrer do ano, alumia as realidades sociais mais prementes de pobreza. A contribuir para a concretização dos projetos sociais da Cáritas na Diocese, estão colaboradores, voluntários e funcionários que, através do seu trabalho e donativos, fazem desta instituição sócio caritativa, umas das mais proeminentes no campo sócio caritativo.
No XVIII Encontro da Família Cáritas, que se realizou no passado dia 1 de março, no Seminário diocesano, D. António Marto falava da Cáritas como uma “ilha de misericórdia, num mundo de incertezas”. No encontro estiveram presentes cerca de uma centena de pessoas , entre grupos sócio-caritativos, voluntários, colaboradores e funcionários da Cáritas Diocesana.
Uma semana num ano
Em entrevista ao semanário Ecclesia, Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Nacional, explica os objetivos da Semana Cáritas deste ano. “Reforçar a campanha ‘Uma só família humana’, que foi lançada há pouco mais de um ano pela Caritas Internationalis, com o apoio do Santo Padre e que visa consciencializar a humanidade de que é possível a erradicação da fome no mundo. Mata-se a fome em família.”
O presidente da Cáritas Nacional fala de uma “responsabilidade acrescida” que cada cristão tem ao saber “que Deus é Pai, um Pai que não faz aceção dos filhos e que quer tratar todos por igual”, apelando a uma atitude que “não encara as fronteiras humanas ou territoriais”. “Aquilo que temos de fazer é construir na humanidade uma família, que não faz distinções de raças, pensamentos, posição social, de qualquer tipo de poderes. É aqui que reside também a escolha deste tema”, explica Eugénio Fonseca.
Ao sublinhar esta “noção de fraternidade” familiar, o presidente da Cáritas Portuguesa alarga a responsabilidade também às nações do mundo, para que sirvam de exemplo à ação sócio caritativa num âmbito local, “a começar cada um na sua família, depois na sua paróquia, na sua empresa, no clube a que pertence, para depois irmos para a cidade, a região e o país e todos juntos conquistarmos essa família humana universal”.
Um contributo fundamental e fundador
“Fundamental”, é este o adjetivo usado na página de internet da Cáritas Portuguesa para caracterizar a ajuda dos colaboradores e voluntários, que apoiam a ação sócio caritativa. “Só juntos é possível construir um mundo mais justo e solidário”, aponta o lema que ilustra esta contribuição vital para que se possa “combater as causas que perpetuam a pobreza e ferem a dignidade humana”, como apontam os objetivos da instituição.
Na prática, este apoio consubstancia-se através de donativos ou da ajuda voluntária nos diversos projetos que a Cáritas tem em curso. Na diocese de Leiria-Fátima, a Cáritas Diocesana “é a expressão da atividade sócio caritativa organizada da nossa Igreja” e um “organismo pastoral para ajudar toda a comunidade diocesana a tornar-se comunidade de caridade, respondendo às necessidades imediatas das situações de pobreza.” As palavras são do bispo diocesano e descrevem aquela que é a identidade matriz da Cáritas. Na Diocese, existem pessoas que assumem este como um projeto seu. O PRESENTE foi falar com funcionários e voluntários, que pela sua entrega, espelham a essência da fraternidade e da caridade benevolente.
Quem é quem na Cáritas
Nelson Costa e Elda Santos são os técnicos que fazem o atendimento social aos utentes. Partilham o espaço de trabalho com Maria do Carmo, que faz o trabalho administrativo daquele serviço diocesano há quase 23 anos. “Existe uma reciprocidade muito grande no trabalho da Cáritas”, refere a funcionária, enquanto fala de um emprego que acaba por ser diferente pelo seu objetivo solidário.
Quando falámos com Maria do Carmo, estava a preparar as latas para serem enviados às zonas onde vai ser realizado o peditório de rua. Entre o dia de hoje e o próximo dia 8 de março, mais de 300 latas vão ser utilizadas por voluntários, devidamente identificados, para recolher o peditório nas paróquias e em diversos estabelecimentos comerciais. “As latas que vão para cada zona estão numeradas e vão ser utilizadas por pessoas que coordenam localmente o peditório”, informa Maria do Carmo.
Este ano, o peditório da Cáritas vai ser realizado em Leiria, Fátima, Ourém, Batalha, Porto de Mós, Pedreiras, Maceira, Bidoeira, Minde, Mira d´Aire, Pataias, Marinha Grande, Vieira de Leiria, Juncal.
No final do peditório, as latas regressam à Cáritas Diocesana, onde é contabilizado o valor recolhido, de acordo com um prazo estipulado pelo Ministério da Administração Interna.
“Ao longo do ano, tentamos dar resposta da nossa atividade, para que as pessoas possam saber para onde vai o seu contributo”, refere Maria do Carmo, enquanto recorda as situações em que não é possível dar resposta. “Mesmo nestas situações, há sempre um acompanhamento atento”, garante. Para ilustrá-lo, relembra as palavras de uma utente. “Não me puderam ajudar na minha situação, mas deram-me tudo o que eu precisava simplesmente na forma atenta como me ouviram e acolheram.”
Para além do atendimento social e da loja solidária, a colónia balnear do Pedrógão é outra das valências da Cáritas Diocesana. Aquele setor está a cargo de Maria da Saudade, que há muitos anos vê passar ali gerações de jovens monitores voluntários nas colónias de verão que a Cáritas proporciona às crianças mais necessitadas.
Fiquei desempregada e dediquei-me ao voluntariado!
Isabel Amaral é voluntária na Loja Solidária da Cáritas Diocesana há mais de um ano, onde faz a triagem dos bens que ali chegam. A vontade de se dedicar ao voluntariado já vinha de trás, mas foi a realidade do desemprego, aos 57 anos, que a levou a efetivar este desejo. Quinze dias após ter deixado de exercer funções de administrativa, na empresa onde trabalhou durante cerca de 40 anos, Isabel iniciou o serviço de voluntariado na Loja Social, ainda antes de começar a receber subsídio de desemprego.
A manhã de sexta-feira é o dia que Isabel reserva a esta atividade, embora acabe por dedicar mais horas da sua semana àquele serviço. Isabel é viúva e os dois filhos, maiores, dão-lhe todo apoio para que possa contribuir com a sua ajuda.
A equipa de 16 voluntárias coordena entre si e com a Cáritas Diocesana o trabalho a fazer e vai lá sempre que há necessidade, assegura Isabel, ao falar do profissionalismo de quem lá trabalha e da “boa camaradagem” que se vive entre os colaboradores.
A ação de Isabel não se limita a um trabalho prático. Muitas vezes, as voluntárias acabam por dar um apoio que implica uma maior proximidade, sendo confidentes dos “desabafos” de todos os que, para além, de receber a ajuda da Cáritas Diocesana, recebem ali também o conforto das palavras.
Para Isabel, o espírito solidário que dá do seu trabalho sem esperar nada em troca é essencial para quem se quer dedicar ao voluntariado. “Quando eu tinha um emprego, a recompensa pelo meu trabalho era a minha remuneração, mas agora que não recebo salário, sinto-me mais realizada por aquilo que faço. Sinto-me feliz por saber que, com o meu contributo, posso melhorar o bem-estar de quem precisa.”
O voluntariado de Isabel ajuda pessoas como Maria Reis, que já recorreu à ajuda da Cáritas Diocesana, depois de se ver forçada a reformar-se aos 54 anos, devido a problemas de saúde. “Desde as palavras de conforto até à ajuda que me deram, o meu coração ficará grato eternamente”, reconhece, num testemunho que deu à cerca de um ano. No “momento crítico” da sua vida, orgulhou-se da contribuição que chegou a dar, com uma “simples moeda que não fazia falta nenhuma”, mas que perante a adversidade pela qual se viu forçada a passar, reconheceu o verdadeiro valor do contributo para o bem-estar de tantas pessoas carenciadas.
Maria Reis é apenas uma das mais de 2.800 utentes que a Cáritas Diocesana ajudou no ano passado, num total de quase mil famílias apoiadas.
365 dias por ano
Para concretizar toda esta ajuda, o peditório anual acaba por se apresentar como o grande momento em que os cidadãos poderão dar o seu contributo para que a Cáritas possa garantir a sua ação, refere Júlio Martins, presidente da Cáritas Diocesana.
Se o peditório se estende por quatro dias, já a Cáritas não “atua por campanhas, mas sim durante todo o ano”, numa ação desenvolvida através de diversas valências: no atendimento social, na loja solidária, na colónia de férias do Pedrógão e, mais recentemente, através da Cáritas Jovem. “É uma colaboração ativa e muito enriquecedora que partiu dos jovens, que se constituíram em grupo, com alguma autonomia, dentro do espírito da instituição”, explica Júlio Martins, que sublinha a “alegria, o entusiasmo e a dedicação” que os dinamizadores têm colocado nos projetos já em desenvolvimento.
Os valores angariados no peditório público são canalizados para as diferentes valências da Cáritas Diocesana e servem para fazer face aos diversos pedidos de ajuda que ali chegam. Pagamento da renda de casa, da conta da luz, da água, da farmácia ou vestuário são alguns exemplos.
Mafalda Silva é uma das jovens que dinamiza a Cáritas Jovem. “Neste momento temos o ‘Explica-me’, que é um projeto de explicações e acompanhamento do estudo para jovens de famílias carenciadas que frequentam o 2.º e 3.º ciclos, que acontece aos sábados em dois turnos, de manhã e de tarde.”
Foi há cerca de um ano e meio que Mafalda começou o voluntariado na Cáritas. Na altura, estava a terminar o curso de Relações Internacionais e Ciência Política, em Lisboa, e a sexta-feira livre, deu-lhe espaço para concretizar o desejo que tinha de participar na ação voluntária. Começou na Loja Solidária, a inventariar material e, no ano passado, foi monitora da Colónia de Férias do Pedrógão. Com a finalidade de alargar a oportunidade para os jovens poderem participar em ações de solidariedade social num trabalho mais contínuo, ajudou a criar a Cáritas Jovem.
Uma ajuda alicerçada em valores
Outra atividade da Cáritas Jovem é o Coro da Colónia de Férias (CCF). Pedro Graça é responsável pelo projeto, que junta os monitores e crianças da Colónia de Férias do Pedrógão. “Mostrar aquilo que se vive na colónia de férias através do talento musical dos monitores” foi o mote que deu origem a uma dinâmica que “mais tarde ou mais cedo o coro ia aparecer naturalmente”, diz. Da Colónia de Férias, a participação voluntária estendeu-se à Cáritas Jovem, onde, para além de ser o responsável pelo CCF, é um dos 11 explicadores do “Explica-me”.
A acicatar a vontade destes jovens, está a necessidade de potenciar os recursos financeiros e materiais, através da criatividade, referem.
“Sou um ‘católico no ativo’ e por isso a palavra ‘próximo’ está muito presente no meu dia a dia”, garante Pedro Graça, que diz ter “aguçado a capacidade de estar atento ao mundo” pela participação nos projetos da Cáritas. Já Mafalda, fala de uma “tranquilidade” de saber que, pelo seu contributo, pode melhorar a vida de alguém.
A ajuda da Cáritas não é apenas monetária ou material, mas alicerçada em valores de matriz cristã, que lhe dão um cunho de proximidade, explica o presidente da Cáritas Diocesana, sublinhou ao PRESENTE o presidente da Cáritas Diocesana. “Somos um serviço da Igreja diocesana ao dispor dos mais pobres, muitas vezes apenas para desabafar, porque se sentem isoladas e encontram na Cáritas e nos seus técnicos e voluntários uma presença amiga e disponível.”
Nos alicerces desta ação está o trabalho dos técnicos da instituição, com o apoio crucial dos voluntários. Júlio Martins sublinha a dádiva importante do trabalho voluntário que é realizado num espírito de amizade. “É bom que as pessoas se sintam bem, dando o seu tempo e o seu esforço, cuja ajuda é preciosíssima.”
Acerca do serviço da instituição que preside, Júlio Martins fala de um “duplo sentido”. “Por um lado somos um serviço que socorre quem precisa de ajuda, por outro somos um espaço onde quem quer ajudar pode canalizar o seu contributo.”