Com o título “Viver em família com a graça de Cristo”, o guião propõe uma preparação espiritual para a Páscoa como caminho de fé e de conversão, de “uma profunda purificação de nós mesmos, uma cura interior, uma renovação da mente e do coração, do pensamento e dos sentimentos”, refere D. António Marto na apresentação.
“A leitura orante da Palavra de Deus em comum permite uma gratificante experiência da luz divina, da sabedoria, do amor e da comunhão em Cristo, que gera abertura uns aos outros, partilha de dons espirituais e comunhão fraterna”. É desta afirmação, nas orientações para o retiro popular deste ano, que parte esta proposta de caminho quaresmal no fortalecimento da fé e do amor “que tornam mais fortes os vínculos familiares e cristãos”.
Certo de que “o verdadeiro défice da Igreja não é tanto de organização, mas sobretudo de fé e de espiritualidade”, o Bispo diocesano lança este convite à leitura orante da Palavra de Deus, através da qual “Deus concede-nos o dom do seu Amor, que nos abre à experiência vivificante da comunhão com Ele, sólido fundamento para a vivência do amor nos casais e nas famílias”. Por outro lado, “a partilha em grupo permite o enriquecimento e o estímulo mútuos, que fortalecem em cada um a sua fé, tornando-o mais capaz de a testemunhar no ambiente familiar e social”.
Como fazer?
O retiro é destinado a todos, de qualquer idade, muito ou pouco participantes na vida da Igreja. Seja em família ou grupo de famílias, em grupos já existentes ou informais, não será necessária uma especial preparação para o realizar, embora seja importante um animador que prepare o encontro, conduza os vários momentos e promova a participação de todos e o respeito pela sensibilidade de cada um.
Não se pretende “dar uma lição” bíblica teórica, mas escutar Deus, meditar a sua Palavra e fazer uma experiência da fé em comum. Trata-se de ler e interiorizar um texto bíblico, meditar em algumas pistas para a sua melhor compreensão, refletir pessoalmente no que a Palavra diz ao coração e partilhar, depois, essa reflexão com o grupo, num ambiente de conversa espiritual e enriquecimento mútuo.
Cada um dos encontros começa e termina com a oração, poderá ser enriquecido com cânticos ou outros elementos que brotem da criatividade do grupo, e deverá ter como resultado algum propósito concreto, pessoal ou coletivo, em ordem a colocar em prática uma vivência mais firme e um testemunho mais ativo da fé. Poderá prolongar-se com um convívio entre os participantes.
Programado para cerca de uma hora, o encontro pode decorrer na igreja ou numa sala da paróquia, mas também em qualquer casa, cuidando-se um ambiente acolhedor e propício à oração, até pela decoração com algum elemento simbólico cristão.
Os seis encontros são previstos para as semanas da Quaresma, mas podem reduzir-se ou prolongar-se conforme a dinâmica do grupo. Sugere-se ainda que possa haver, no final, um encontro entre grupos na paróquia, para partilha mais alargada de experiências e, talvez, de propósitos de vida cristã comunitária. Para isso poderá ser útil a ficha de avaliação que se apresenta no guião.
Independentemente das opções, serve para todos o voto de
D. António ao terminar a apresentação: “Bom retiro a todos, sob o fogo do amor de Deus que suscita fé e enche de amor os nossos corações, tornando-nos mais capazes de o viver com generosidade e irradiação nas relações interpessoais e no ambiente familiar!”.
D. António Marto insiste…
Uma das propostas pastorais em que o Bispo de Leiria-Fátima mais tem insistido é, sem dúvida, o retiro popular. Apresentou-o na sua Carta Pastoral “Testemunhas da Ternura de Deus”, em 2007, como uma ajuda para que todo o Povo de Deus possa “viver a Quaresma como um tempo de recolhimento”, concretizada na “leitura familiar e orante da Palavra de Deus (Lectio divina)”, de modo a que cada diocesano possa sentir que essa Palavra “não é longínqua nem impessoal, mas fala hoje, pessoalmente, ao coração de cada um”. E pedia aos párocos que fizessem “atempadamente, uma especial sensibilização e organização do Povo de Deus” para esta iniciativa.
De então para cá, todas as cartas pastorais têm renovado esta proposta anual para a Quaresma, sempre dentro da temática de cada ano. Em 2014, primeiro ano do biénio dedicado à família, lá está essa referência como uma forma de promover “a espiritualidade do amor e da comunhão”, concretamente, no ambiente familiar (ver abaixo).
Também nas assembleias diocesanas que marcam o início de cada ano pastoral e nas mensagens para a Quaresma, tem sido recorrente o sublinhar de D. António Marto para a importância desta iniciativa e o seu apelo a que se estenda ao maior número de pessoas e grupos em todas as paróquias, nos movimentos e noutras comunidades.
Apesar de haver registos de mais de 300 grupos e cerca de 6.000 pessoas a fazer o retiro popular quaresmal, o Bispo diocesano considera que este número não é ainda satisfatório. Tem afirmado isso mesmo nos diversos encontros que promove anualmente por cada uma das vigararias e referiu-o, por exemplo, na conferência sobre a Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, do Papa Francisco, no passado dia 31 de janeiro, no Seminário de Leiria, aquando do início do segundo semestre do Centro de Formação e Cultura. Falando sobre as consequências práticas das orientações desta Exortação na diocese de Leiria-Fátima, D. António frisou que espera “um maior testemunho de Cristo no mundo, fazendo mais pontes entre a fé e a cultura e em diálogo com a sociedade” e apontou o retiro popular como um meio privilegiado para reforçar o “entusiasmo por Cristo” que levará, depois, a esse testemunho vivo e alegre por parte dos cristãos. “Apesar de serem já muitas as pessoas que o fazem, não é ainda um número expressivo dos fiéis desta diocese”, considerou.
Compete a cada um de nós aumentar essa expressão. Na apresentação do retiro deste ano, o Bispo insiste, mais uma vez, em que se invista na sua realização “em família ou grupos de famílias, (…) indo além dos grupos habituais”.
Luís Miguel Ferraz (Presente Leiria-Fátima, 06.02.2014)
A família em oração e a oração pela família
Conscientes da grandeza do dom e da missão, por um lado, e das resistências do egoísmo, por outro, os esposos sabem que é necessário alimentar a espiritualidade do amor e da comunhão entre eles e em família, para serem fiéis à sua vocação em cada dia. A oração presente na vida do casal e da família (por exemplo, no início e no fim do dia, antes das refeições, ou noutros momentos e modos) e a fidelidade à Eucaristia dominical são caminho para manter viva e fazer brilhar na sua vida a intensidade e a beleza do amor que os habita. (…)
Um Matrimónio sem espiritualidade é como um corpo sem alma, ou como uma planta sem água e sem sol. O bom vinho não provém duma vinha ao abandono e o amor também se cultiva e trabalha. (…)
Para promover esta espiritualidade, é bom valorizar o Retiro Popular sobre este tema e a celebração dos dias litúrgicos de caráter familiar (Sagrada Família, Dia da mãe…), bem como a celebração dos jubileus dos 25 e 50 anos de Matrimónio a nível diocesano.
D. António Marto, Carta Pastoral “A beleza e a alegria de viver em família”
Testemunhos
No jornal Presente Leiria-Fátima desta semana (06-03-2014), o habitual painel de entrevistas rápidas da página 2 é dedicado ao tema do retiro popular. Dada a importância do tema, partilhamos neste portal, extraordinariamente, os testemunhos ali publicados:
Cristina e José Carlos, Golpilheira
Esta experiência começou um pouco por acaso, na Quaresma do ano passado. Numa conversa de café entre amigos, estávamos a falar sobre a educação dos filhos, a nossa vida cristã, os problemas em família, etc., quando surgiu a ideia de nos reunirmos de vez em quando para partilhar estes temas num ambiente mais calmo. Convidámos mais alguns casais, num total de seis, e combinámos um encontro. Tinha acabado de sair o retiro popular e aproveitámos esse guião para a nossa reflexão. Foi uma experiência muito gratificante, pela oportunidade para pararmos, pensarmos, rezarmos e partilharmos ideias com outros cristãos com problemas e anseios semelhantes aos nossos, mesmo tendo diferentes graus de envolvimento na Igreja. Todos gostaram muito e nunca mais parámos, reunindo regularmente uma a duas vezes por mês.
Estamos entusiasmados com o guião deste ano, que vem ao encontro da nossa principal preocupação, a vivência da fé em família. Confiamos que vai ser uma caminhada muito útil e enriquecedora para o nosso grupo.
Cristina Mendes, Santa Catarina da Serra
Comecei a frequentar o retiro popular desde o início. Em anos anteriores, no Vale Sumo, freguesia de Santa Catarina da Serra, organizámos grupos coincidentes com os anos de catequese. No ano passado, juntámos o 1.º e 5.º anos da catequese e, além das crianças e catequistas, incluímos os pais e a população que quisesse participar. Os encontros eram semanais, após a Missa dominical, organizados por grupos de crianças e pais que preparavam o encontro em casa. Foram muito produtivos e enriquecedores, porque houve apresentações diversas e com muita imaginação. Tomando como ponto de partida os textos do guião, eu e os meus dois filhos, de 7 e 11 anos, fomos à internet pesquisar e apresentámos o nosso tema em slides. Além de motivar o interesse dos meus filhos com as novas tecnologias, isso captou a atenção também dos mais novos.
Na nossa paróquia, houve grupos variados em diversos locais da freguesia, desde os mais novos, na catequese, até aos mais idosos, no Centro Social e Paroquial de Santa Catarina da Serra. A participação foi alargada a cerca de 1.200 pessoas, com a coordenação do pároco, padre Mário Verdasca.
Família Portela, Meirinhas
Cremos que a caminhada feita ao longo do Retiro Popular nos permitiu refletir no nosso próprio crescimento na Fé e nas diferentes formas de cimentar a nossa relação com Deus. Por outro lado, importa salientar que esta experiência reforçou a coesão, convívio e diálogo familiar. Esta caminhada foi uma experiência muito profícua que queremos repetir!