Perfil de Emília Oliveira

 Emília Oliveira nasceu em 1927, no Freixial, na paróquia do Arrabal, onde foi a primeira menina a frequentar a instrução primária, após a qual, aprendeu o mister da costura, que cumpriu até se reformar.

No tempo em que não trabalhava, dedicava-se à vida apostólica. No Apostolado da Oração, na Ação Católica Rural e na catequese paroquial, entregou-se com espírito empenhado, numa ação precursora que assumiu na primeira pessoa. Ao PRESENTE, desfiou memórias de uma vida que serve de modelo.

Os quase 88 anos de Emília Oliveira não a impedem de subir e descer a escadaria da entrada da sua casa, situada a poucos metros da capela de Nossa Senhora da Conceição, no Freixial, paróquia do Arrabal. Descemos a rua e, à esquerda, somos convidados a entrar na casa que a viu crescer. “Já vem da família” é a resposta que serve para justificar a origem do edifício e a ligação à Igreja. Aceitamos o convite. Entramos e sentamo-nos para a conversa numa sala logo à entrada. Emoldurado na parede, um diploma de corte e costura com data de meados do século passado. “Ganhei a vida a costurar… Sempre foi o que quis fazer”, diz, enquanto aponta para o certificado. A manta de retalhos colorida que cai sobre o encosto do sofá foi obra sua e atesta, por si só, a mestria da autora na arte da costura. A sala ao lado ainda é reservada para aquele ofício. A matiz dos tecidos e das linhas preenchem a palete do espaço, apenas interrompido pelo claro da máquina de costura, à frente da vidraça de uma janela que todos os dias faz entrar o sol que ilumina e aquece o aposento.

Acolhidos pelo ambiente, convidamos Emília a desfiar o seu percurso de vida.

A menina Emília

O facto de ser solteira e de ter ensinado costura a muitas jovens, deu-lhe o trato carinhoso de “menina Emília”, pelo qual todos a conhecem na comunidade.

A Emília menina foi a primeira a entrar para a escola primária do Arrabal. “Só havia meninos a estudar, mas a minha mãe, a pedido da professora, deixou-me continuar até fazer o exame da 4.ª classe.” Enquanto filha mais velha, Emília era imprescindível para os trabalhos domésticos e para ajudar a cuidar dos cinco irmãos mais novos.

Quando acabei a 4.ª classe, com 13 anos, tinha a ânsia de aprender costura.” Satisfez a ambição na Martinela, onde aprendeu o mister com a madrinha. Quando depois regressou a casa, lembra-se de se refugiar muitas vezes no sótão da casa da avó entre pontos, tecidos e linhas, até porque, apesar de viver na casa dos pais, passava grande parte do seu tempo na casa dos avós, confessa.

Foi da avó materna e da família em geral que veio a ligação à atividade apostólica, que manteve durante a sua vida. No início desta entrega, lembra a chegada do padre António Simão à paróquia e a dinâmica por ele criada. Tinha então 14 anos. “Nessa altura, o que existia na Igreja com mais força era a Cruzada Eucarística e eu também a integrei.” Quando o novo pároco chegou, Emília era já zeladora desta secção do Apostolado da Oração (AO) ligada às crianças, naquele que foi o primeiro vínculo de Emília à vida apostólica. Mais tarde, o sacerdote viria a convidá-la para assumir a função de zeladora do AO, que ela ajudou a dinamizar na paróquia. Antes de estar ligada ao AO, Emília participava da vida da comunidade ao ajudar a embelezar a capela do Freixial. “Nas festividades, havia uma senhora que vinha de Leiria para ornamentar a capela. Na altura, eu era pequenita e ‘serigaita’ e a senhora lá me achou piada e, sempre que vinha, pedia à minha mãe que me levasse para a ajudar.”

Corri a Diocese quase toda”

Foi também na adolescência que Emília iniciou o seu percurso na Ação Católica Rural (ACR). Com a idade adulta, foi assumindo um papel de maior responsabilidade no movimento ao nível paroquial, até ser convidada para integrar a equipa regional, onde ajudou a dinamizar equipas paroquiais num trabalho de apostolado. “Corri a Diocese quase toda neste serviço da ACR.”

Pelo empenho que dedicava ao movimento, Emília foi eleita presidente diocesana da ACR. “Chorei, perante tamanha responsabilidade, porque duvidava das minhas capacidades para assumir o cargo, mas com o apoio do nosso assistente, consegui cumprir o meu dever.”

Ainda no âmbito diocesano, recorda a colaboração na dinamização da colónia de férias para pessoas idosas, organizada pelo movimento cristão de reformados “Vida Ascendente”, que ainda hoje se continua a realizar na casa da Cáritas Diocesana de Leiria.

Catequese no domicílio

Durante a semana, Emília trabalhava na costura e os domingos eram reservados para a ação apostólica. “Trabalhei muitos serões para conseguir ganhar a vida.” O sótão, que na adolescência servia de refúgio para alargar a aprendizagem do corte e costura, passou a ser, na idade adulta, o seu local de trabalho. Era ali que, ao final do dia, depois das conversas de família à quentura da lareira, se deixava entrelaçar pelas linhas do ofício que lhe aquecia a alma.

A casa onde hoje mora já serviu, em tempos, a catequese da comunidade, quando Emília se empenhou na criação desta atividade apostólica no Freixial. “Em conjunto com outras pessoas, resolvemos juntar esforços e dinamizar a catequese. Fomos de porta em porta e, com a vontade de todos, conseguimos iniciar as sessões de catequese. Ocupámos vários espaços e cheguei a ceder a minha casa para as sessões de catequese.” Hoje, o Freixial é um dos três centros de catequese da paróquia do Arrabal também graças à iniciativa de Emília.

Uma manta de retalhos

Em maio próximo, Emília vai fazer 88 anos e a costura continua a ser a sua principal ocupação. Foi nesta função que trabalhou no Centro de Saúde de Leiria, onde esteve empregada até se reformar.

Na conversa com o PRESENTE, Emília recordou as dinâmicas em que colaborou como quem desfia um tear de memórias e as volta a tecer numa bela manta de retalhos, numa obra final que nos ajuda a perceber a importância das partes. Nos alicerces desta entrega que serve de modelo, está a herança familiar que a alinhavou. No centro, um ponto em cruz, que é linha mestra de uma fé que alimenta quase 90 anos de serviço apostólico.

 

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