Perfil da família Do Mar Ventura

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São nove da noite. Helena do Mar, Nuno Ventura e as filhas do casal, Luísa e Júlia esperam-nos para uma entrevista, na sua casa, que fica na Serra do Porto de Urso, em Monte Real.

Vamos conhecer o dia a dia desta família que transborda de dinamismo. Envolvidos na catequese, nos escuteiros e na pastoral familiar, concretizam a sua entrega através de uma dinâmica dirigida pela batuta do “bom planeamento”. “Tem de ser assim, de outra forma, não dava para podermos fazer aquilo que queremos”, garante a mãe. O encontro já está agendado há alguns dias e exigia a presença de todo o agregado. Só assim faz sentido, até porque a vitalidade desta família é resultado do compromisso de cada um dos seus membros, em que juntos são muito mais para si e para os outros.

O dia desta família começa antes das sete da manhã. Júlia, a mais nova, de 12 anos, é quem normalmente se levanta primeiro. Segue-se Luísa, três anos mais velha. Os pais estão descansados… Ali, todos sabem o que devem fazer e a hora a que têm de estar prontos. É Helena que leva as filhas até à escola, em Leiria, onde também trabalha como bancária. Nuno Ventura é engenheiro de automação e sistemas e é quem fecha a porta de casa rumo a mais um dia de trabalho.

O regresso da família ao lar avizinha a hora de jantar. Sentados à mesa, dão graças em oração pelo dia, que é evocado enquanto põem a conversa em dia. Até se deitarem, ainda há tarefas a cumprir no que toca ao trabalho de cada um. O casal numa mesa de sala que se disfarça de mesa de trabalho e elas no silêncio do quarto, num expediente que é apenas interrompido pelas solicitações resolvidas com a ajuda mútua da família.

 

Crescer em família

Helena é catequista do 4.º ano e integra o secretariado da catequese na Serra do Porto de Urso. Está também na equipa paroquial da pastoral familiar, que representa no conselho pastoral.

Natural de Tomar, cedo veio morar para a Serra de Porto Urso, de onde é a família. Ao falar da infância, recorda um momento marcante no seu percurso de fé: a altura em que os pais fizeram um Curso de Cristandade. Helena tinha quinze anos e fala de uma mudança que favoreceu muito a vida em família. “Começámos a sentir uma relação entre pais e filhos mais próxima e alegre.” Esta experiência de aproximação vivida pelos pais fez com que a sua entrega à dinâmica pastoral fosse bem recebida, uma espécie de “fator de mudança” que possibilitou o seu percurso de fé. No tempo que se seguiu, recorda outros momentos em retiros, encontros de jovens e peregrinações, que vieram a consolidar a sua fé, que na pastoral juvenil se fazia adulta. Viria a ser na ação com os jovens que a sua vida se viria a cruzar com a do marido.

Na paróquia onde agora vive, Nuno assume pontualmente as funções de leitor. É escuteiro, desde os dez anos, no agrupamento de Cós, do Patriarcado de Lisboa, na altura, o mais próximo da comunidade da Cumeira, na paróquia do Juncal, onde nasceu. Ali, integrou um grupo de jovens, foi catequista e até ajudou a distribuir, de bicicleta, o semanário diocesano “A Voz do Domingo”, do qual o pai era coletor.

O percurso de fé de Nuno foi linear, mas muito eclético: Convívios Fraternos, peregrinações a Taizé, Movimento da Mensagem de Fátima, grupos juvenis… Um conjunto de vivências que alimentavam o testemunho de fé que herdara dos pais e que quis aprofundar na frequência da Escola Teológica Diocesana. “A fé não pode ficar apenas pela 4.ª classe, temos que procurar esclarecê-la”, diz.

Foi na entrega à ação eclesial que Helena e Nuno se conheceram. Ainda enquanto namorados, partilharam momentos da caminhada na fé que alicerçaram a família que fundaram.

 

Uma aposta na família

Helena e Nuno casaram em maio de 1997, depois de um namoro de três anos. Conheceram-se enquanto animadores de grupos de jovens. “Encontrávamo-nos com frequência em atividades e o namoro surgiu depois de termos trabalhado juntos numa apresentação da Diocese para o Fátima Jovem de 1994, no Ano Internacional da Família.” No dia da apresentação já tinham consolidado um conhecimento mútuo que se traduziu no início do namoro. “Algumas coisas que muitos casais só falam depois de casados, nós já tínhamos falado antes de sermos namorados, através da preparação deste projeto.”

Juntos, viriam ainda a integrar a pastoral juvenil diocesana durante dois anos, um vínculo que só terminou com início da vida em casal. A ligação eclesial manteve-se, desta feita, ligados à pastoral familiar. “Temos de estar nos movimentos consoante as idades e, naturalmente, da pastoral juvenil, passámos para a pastoral familiar”, diz Nuno com um sorriso.

 

Uma entrega em família

Agora, a entrega à vida em comunidade faz-se em família. Pertencem, há 14 anos, à equipa vicarial do Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM). Apesar de já fazerem encontros com noivos há 11 anos, notam, em cada partilha que fazem, que há aspetos diferentes que são acrescentados. “Fazemos um esforço para que o nosso testemunho seja o mais atual possível e que englobe as experiências que vamos acumulando.” Enquanto casal, consideram que o esquema de revisão de vida, no qual se baseia o CPM, é uma ajuda preciosa na vida familiar.

Conciliar este empenho exige uma coordenação atenta do dia a dia. “Acho que tem muito que ver com a forma de planear. Houve momentos em que foi necessário ajustar as atividades ao tempo disponível, mas com o esforço de todos, vai sendo possível manter todas as atividades”, refere Helena. Dos momentos em que foi necessário “reequilibrar os pratos da balança”, os laços familiares saem mais fortalecidos, conclui. Nuno assegura que “nunca houve nenhum corte radical com nada, mas apenas alguns ajustes pontuais”.

 

Vale a pena?

Ao falar da razão que move esta família a efetivar esta entrega, Helena fala de “um trabalho em prol da família que importa fazer e que passa pelo testemunho”. Nuno apela ao espírito escutista e lembra uma citação de Baden Powell que fala sobre a realização humana através da felicidade. “A única forma de sermos felizes é ajudar os outros a sê-lo. Por isso, é preciso sermos fecundos na felicidade e estendê-la aos que nos rodeiam. Só assim podemos mostrar aos outros o quanto tudo isto vale a pena”, argumenta.

Neste lar, nota-se que o “ser cristão” se assume como fator diferenciador que orgulha. Esse testemunho cumpre-se no dia a dia desta família: na forma como perspetivam a vida, na relativização dos problemas à luz da entrega de Cristo à humanidade, na tentativa de acolher o próximo em ambiente profissional e, de uma forma mais concreta, nas diferentes dinâmicas eclesiais em que participam de forma dedicada.

A sustentar este empenho está a fé como “porto seguro”, ancorada na família, num barco onde todos trabalham e dão o melhor de si, cientes de que, só assim, a navegação ganha sentido. Vale a pena? “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.

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