Movimento dos Focolares

Quando soavam as sirenes a avisar mais um bombardeamento aéreo, a jovem professora Silvia Lubich e as suas amigas corriam a abrigar-se nos refúgios, como faziam milhares de italianos e outros povos atingidos pelo flagelo da II Guerra Mundial.

Foi nesse clima de ódio e violência que começou a anunciar que só Deus-Amor poderia trazer a paz e a unidade a todos os povos. E assim nasceu um grupo de espiritualidade e ação que é hoje um dos maiores movimentos eclesiais do mundo, os Focolares.

 “Que todos sejam um”

Silvia Lubich nasceu em Trento em 1920 e desde muito nova seguiu as pegadas da mãe, católica praticante, sobretudo através da Ação Católica. Professora primária desde 1938, descobre a sua vocação após uma visita ao santuário mariano de Loreto: não num convento, no matrimónio ou na consagração, mas numa comunidade segundo o modelo da família de Nazaré. Adota o nome de Clara (Chiara) de Assis e, no dia 7 de dezembro de 1943, faz o voto pessoal de castidade perante Deus.

Esta é considerada a data do nascimento do Movimento dos Focolares, que nos anos seguintes ela iria desencadear. Perante os horrores da Guerra Mundial, ela confia no único ideal que não pode ser destruído, Deus, e junta em seu redor um primeiro grupo de amigas atraídas pela mesma convicção. No final da Missa de Cristo Rei, em 1944, após ouvirem as palavras “pede-me e eu te darei as nações por herança e estenderei o teu domínio até as extremidades da terra” (Sal 2,8), elas respondem: “Tu sabes como realizar a unidade. Nós estamos aqui. Se queres, usa-nos”. O seu ideal passa a ser o testamento de Cristo, nas palavras que dirige ao Pai momentos antes da Paixão: “que todos sejam um” (Jo 17,21). Vivem num pequeno apartamento no centro de Trento, dedicando-se ao trabalho profissional e a socorrer por amor os feridos e desalojados da guerra. Foi o primeiro Focolare.

Pelo mundo

Em poucos meses, este primeiro núcleo de raparigas alarga-se a mais de 500 pessoas que partilhavam o ideal da unidade, de todas as idades e condições sociais, mulheres e homens. Quando a guerra terminou, espalharam a sua experiência pelas várias cidades italianas para onde foram estudar ou trabalhar. Foi no verão de 1949, num campo de descanso e experiência evangélica com as companheiras, que Chiara intuiu a grandiosidade do seu Movimento. Nos anos seguintes, mais e mais pessoas se lhes foram juntando, até que, em 1959, a Mariápolis, a cidade de Maria, atraiu mais de dez mil pessoas de 27 países.

De facto, já tinha começado em 1956 a sua difusão pela Europa, seguindo-se a América Latina e a América do Norte. No ano de 1963 chegou a vez da África, depois a Ásia e, por fim, em 1967, a Austrália. Apesar da aprovação do Bispo de Trento, logo em 1947, passaram por algumas dificuldades e testes por parte da hierarquia da Igreja, mas em 1962 receberam a primeira aprovação pontifícia “ad experimentum” e, em junho de 1990, foi finalmente aprovado o Estatuto que define a multíplice fisionomia do Movimento dos Focolares.

Quando Chiara faleceu, em março de 2008, o Movimento estava presente em 182 países, com cerca de cinco milhões de aderentes e simpatizantes, predominantemente católicos, mas não só. De maneiras variadas, participam nele milhares de cristãos de 350 Igrejas e comunidades eclesiais, muitos seguidores de outras religiões, entre os quais judeus, muçulmanos, budistas, hindus, sikhs… e mesmo pessoas de convicções não religiosas.

Lema da unidade

O espírito, as finalidades e a estrutura do Movimento dos Focolares continuam hoje marcados pelo lema da unidade. O “que todos sejam um” é o ideal a atingir, não só dentro da Igreja Católica, mas na relação com os irmãos de outras Igrejas cristãs e, até, com pessoas de outras religiões ou sem religião. E concretiza-se através do diálogo e da promoção de atividades que se enquadrem neste “interesse comum” de chegar à realização da fraternidade universal.

Estrutura

Dada a sua dimensão, o Movimento tem hoje uma vasta estrutura, com diversas ramificações. Na sua base estão as secções das focolarinas e dos focolarinos, uns de vida comum, outros casados. Depois, há os grupos de sacerdotes e diáconos diocesanos, das voluntárias e dos voluntários de Deus, dos Gen (jovens, adolescentes e crianças), dos Gen’s (jovens com vocação ao sacerdócio), dos genre (jovens orientados à vida religiosa), das religiosas e dos religiosos, dos bispos amigos do Movimento, e vários movimentos de largo alcance que operam nos vários campos civis e eclesiais: Famílias Novas, Humanidade Nova, Movimento Político para a Unidade, Jovens para um Mundo Unido, Movimento Juvenil para a Unidade, Movimento paroquial e diocesano.

Nesta complexa estrutura destacam-se as 35 Cidadelas existentes no cinco continentes, pequenas cidades-modelo onde os membros vivem em comunidade e procuram ser testemunhas dessa vida evangélica. A partir desse modelo surgiu o novo paradigma da “economia de comunhão”, que o Movimento procura difundir como alternativa para o desenvolvimento das sociedades e que consiste em tornar o Homem como centro da atividade económica.

São de referir, ainda, vários projetos internacionais que dinamiza, como é o caso da AMU – Associação Mundo Unido, uma organização não-governamental que tem como objetivo cooperar para o desenvolvimento dos países mais desfavorecidos e difundir a fraternidade universal entre indivíduos e povos, e o “Apoio à Distância”, do movimento Famílias Novas, destinado a apoiar a educação, saúde e habitação de crianças nos países em vias de desenvolvimento.

Em Portugal

O primeiro centro português dos Focolares estabeleceu-se em Lisboa em 1966. Atualmente, o nosso país conta com cerca de 2.000 membros e 23.000 simpatizantes, espalhados por todas as dioceses, com centros regionais estabelecidos em Lisboa, Porto, Coimbra, Faro e Ponta Delgada. O Centro Nacional situa-se na Cidadela Arco-íris, em Abrigada (Alenquer), onde funciona também o Centro Mariápolis para encontros de formação dos seus membros.

O Movimento detêm, ainda, a Editora Cidade Nova, que conta com cerca de 70 títulos publicados e edita a revista mensal com o mesmo nome, com cerca de 4.000 assinantes.

Assembleia Geral Mundial

Está a decorrer em Castelgandolfo (Roma), de 1 a 28 de setembro, a Assembleia Geral do Movimento, onde serão definidas as grandes linhas de orientação para os próximos seis anos. Participam 494 membros representando os diversos organismos e atividades do Centro Internacional de Rocca di Papa (Roma), as regiões que compõem a organização territorial no mundo. Provêm de 48 nacionalidades, sendo dois portugueses. Foram ainda convidadas 49 pessoas, sem direito a voto, onde se incluem representantes dos “bispos amigos dos Focolares”, pessoas pertencentes a outras Igrejas cristãs, a outras religiões e até de convicções não religiosas.

Nesta assembleia, foi já eleita Maria Voce (Emmaus) para o segundo mandato consecutivo como presidente dos Focolares, entretanto confirmada pela Santa Sé, como está previsto nos estatutos. Foi também eleito e confirmado como copresidente o padre Jesús Morán Cepedena, a quem compete “estar sempre na mais profunda unidade com a presidente”, símbolo da unidade do Movimento.

Está prevista para o dia 26 uma audiência dos participantes com o Papa Francisco, no Vaticano.

Entrevista a Lúcia Melo e António Faria Lopes, responsáveis diocesanos

“Ser focolarino é dar a vida pela fraternidade universal”

Lúcia Melo, de 64 anos, professora do 1.º ciclo aposentada, nasceu em Areias, Ferreira do Zêzere, e vive nos Marrazes. Conheceu o Movimento dos Focolares há 33 anos e é responsável diocesana pelo setor feminino desde os anos 90.

Desde a mesma altura, António Faria Lopes, empresário de 57 anos, é responsável pelo setor masculino. Nasceu e vive nos Pousos e conheceu o Movimento há 41 anos.

Falámos com eles para conhecer um pouco melhor os Focolares e a sua dinâmica diocesana.

O Movimento nasce em 1943 e chega a Portugal em 1966. Quando e como foi o processo de entrada na diocese de Leiria-Fátima?

Sabemos que o Movimento chegou a Leiria através de um irmão marista. E em Fátima havia já alguns membros, sobretudo entre religiosos e sacerdotes, quando se realizaram ali as primeiras Mariápolis, encontros anuais de 3 dias, nos finais dos anos 60.

Como se organiza a estrutura diocesana e de que forma se assegura a ligação aos níveis nacional e internacional?

Os seus membros estão geralmente inseridos na igreja local, mas ligados aos Focolares, comunidades constituídas por consagrados, de onde recebem a formação e a assistência. Em Portugal há sete Focolares, que estão diretamente ligados ao centro nacional, na Cidadela Arco-Íris, junto à Abrigada (Alenquer). Esta, por sua vez, está ligada ao centro mundial, em Roma.

Localmente, organizamo-nos por idades: crianças, adolescentes, jovens e adultos. Os adultos encontram-se entre famílias e por grupos de interesse, reunindo-se semanal ou mensalmente.

Acham que o Movimento é conhecido e está bem integrado na Diocese?

Julgamos que sim, até porque os seus membros estão inseridos nas paróquias, nas diversas comissões e serviços, na pastoral familiar e nos grupos de jovens.

Serão cerca de 90 os membros mais empenhados, mas são algumas centenas as pessoas que conhecem e participam desta espiritualidade.

O ponto central do vosso carisma é a promoção da unidade entre cristãos e entre todos os homens e mulheres. Como concretizam esse objetivo?

A espiritualidade deste Movimento caracteriza-se pela procura de amar todos, cristãos ou de outras confissões e até não crentes. Ninguém pode ser privado de ser amado, ouvido, acolhido. Se possível, como sugere o Papa Francisco, chegando mesmo às periferias. Aos cristãos pede-se mais testemunho, mais coerência com o evangelho. Todos são sensíveis ao Amor. Onde falta o Amor, falta a Unidade.

Para responder a tal desafio, que tipo de iniciativas promovem na Diocese?

É um desafio a que cada um dos membros deve responder na vida quotidiana, com a sua forma de agir. As iniciativas do Movimento são mais de apoio e formação para ajudar a essa vivência. É o caso dos encontros mensais “Palavra de Vida”, onde se partilham experiências vividas a partir de uma frase do Evangelho, dos grandes encontros Mariápolis, realizados anualmente em finais de julho ou início de agosto, e dos contactos de proximidade que vamos fazendo. Face à dimensão da zona onde nos inserimos, que inclui Leiria, Santarém, Castelo Branco e Lisboa, há encontros noutras dioceses que envolvem também a organização por membros da nossa, além dos encontros nacionais e internacionais em que participamos.

Quem quiser integrar o Movimento, o que deverá fazer?

Basta informar-se sobre o carisma que praticamos e querer segui-lo também. Para além de poder contactar diretamente algum membro que conheça, poderá aproveitar as Mariápolis e os encontros de Palavra de Vida para se aproximar do Movimento. E temos o sítio www.focolares.org.pt na internet, onde é disponibilizada toda a informação e formas de integração.

*O que significa para mim ser focolarino?  

“Pertencer a este movimento significa para mim responder ao Amor de Deus por mim, amando todos. Dar a vida pela fraternidade universal, pela unidade pedida por Jesus ao Pai.”

Lúcia Melo

“Ser membro do Movimento representa, como dizia Chiara Lubich (a fundadora), um empenho renovado em amar todos, sempre e onde quer que me encontre. Cada um é um próximo para Amar.”

*António Faria Lopes

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