O caminho de Advento em direção ao Natal, no final deste ano de 2024, apresenta-se densamente ensombrado por situações de guerra, de desastres naturais e de ceticismo que contradizem e desafiam o tom pacífico e alegre das celebrações que se aproximam. Infelizmente, os conflitos armados, com o seu séquito de morte, destruição e miséria humana e ambiental, não são recentes. Contudo, tem recrudescido a perda de vidas humanas e a acumulação de escombros de cidades e estruturas fundamentais para a sobrevivência de populações inteiras, bem como a ferocidade insana com que são atingidas crianças inocentes, com as suas mães, os anciãos e as famílias indefesas. É isto que vimos acontecer este ano, particularmente na Faixa de Gaza, mas que vai igualmente continuando na Ucrânia, no Iémen, no Sudão e em tantos outros focos de conflito no mundo.
Raízes preocupantes de crescente conflitualidade encontram-se igualmente na manipulação política, chegando mesmo à suspeita e evidência de falsificação do voto democrático, em muitos países, com as suas consequências de revolta, repressão e descrença nas instituições nacionais e internacionais.
É neste ambiente que nos preparamos para celebrar o Natal, com a sua proposta de luz, alegria, fraternidade, paz e esperança. Esta celebração, em contraste com a generalização dos conflitos, não pode ser confundida com qualquer atitude de esquecimento e alienação dos problemas que atingem a humanidade e o planeta de que somos hóspedes. Pelo contrário, celebrar significa recusar a resignação, o medo paralisante e o enclausuramento individualista ou de grupos de privilegiados. No Menino de Belém, reconhecemos o Filho de Deus que quis vir para o meio desta humanidade, como semente e luz para as trevas que nos cercam e que continua a dar força, coragem e amor solidário, para traçar novos caminhos de paz, humanização e solidariedade, que cure feridas e crie esperança de futuro.
Por isso, no meio deste Natal, a Igreja dará início às celebrações do Ano Jubilar de 2025, que assinala o nascimento de Jesus, não apenas como memória do passado, mas sobretudo como luz para o nosso conturbado mundo. Significativamente o lema proposto pelo Papa Francisco para este Ano é: “Peregrinos da Esperança”, realçando precisamente a necessidade de acender esperança no coração e nas relações entre as pessoas, as instituições e as nações. No dia 24 de dezembro, o Papa abrirá oficialmente, em Roma, este Ano Santo e cada Bispo, na sua Diocese, fará o mesmo no domingo seguinte, 29 de dezembro. É isso que faremos igualmente na Sé de Leiria, unindo-nos a esta cadeia de paz e de esperança de toda a Igreja.
Sim, a esperança é possível e necessária, particularmente quando grassa o pessimismo, a desilusão e o medo. Mas é preciso pôr-se a caminho, como peregrinos, guiados pela luz do Menino de Belém e levar presentes, necessários e urgentes, a todos os meninos e meninas, de modo especial, aos de Gaza e de tantas outras situações de penúria e destruição: presentes de solidariedade ativa, de vozes que não toleram a guerra e que lutam, com as armas da paz, para deter agressores e criar uma cultura de justiça, humanização e solidariedade.
A Igreja em Portugal quer também participar, com um gesto de efetiva solidariedade, nesta campanha especial em favor da população de Gaza. No dia 4 e 5 de janeiro, festa da Epifania (celebração dos sábios do Oriente que vieram adorar e oferecer presentes ao Menino Jesus), os peditórios das Eucaristias celebradas na Diocese de Leiria-Fátima terão como finalidade ajudar as populações da Terra Santa, especialmente de Gaza. A ajuda será diretamente canalizada para o Patriarcado Católico de Jerusalém, que coordena a ajuda às populações de Gaza. Além disso, estará disponível uma conta bancária, para onde podem ser canalizados contributos de pessoas e instituições.
Que a generosidade e partilha com os que sofrem, possa ser expressão da nossa aceitação da luz e da esperança que nos move, para que alivie o sofrimento, ajude a curar feridas e a abra caminhos de esperança, neste Natal e no Ano Jubilar em que vamos entrar.
† José Ornelas Carvalho
Bispo de Leiria-Fátima
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