Lectio divina para o VI Domingo de Páscoa

A liturgia do VI Domingo da Páscoa convida-nos a contemplar o amor de Deus! É um Domingo que nos conduz diretos ao coração, ao núcleo da nossa fé e da Revelação cristã. “Deus é Amor!” (1 Jo 4, 8) Eis que tudo se condensa e converge nesta verdade, transformando tudo o resto em glosa e comentário.

Falemos de Amor…

Lectio Divina para o VI Domingo da Páscoa (Ano B), 9 de maio de 2021

Breve introdução

A liturgia do VI Domingo da Páscoa convida-nos a contemplar o amor de Deus! É um Domingo que nos conduz diretos ao coração, ao núcleo da nossa fé e da Revelação cristã. “Deus é Amor!” (1 Jo 4, 8) Eis que tudo se condensa e converge nesta verdade, transformando tudo o resto em glosa e comentário.

Não há nada em toda a história da humanidade mais desejado, procurado e tantas vezes confundido como o amor. Parece ser algo que nos define, que dá sentido à vida, mas que também destrói e faz sofrer. Mas afinal o que é o amor? Será algo utópico, platónico, como a linha do horizonte que sempre nos escaparia? Ou será algo real, verdadeiro, puro, pleno, profundo e principalmente acessível, próximo, ao meu alcance?

Nós, cristãos, acreditamos que o amor não é uma ideia, não é um sentimento, não é loucura ou devaneio epidérmico. O Amor (verdadeiro, com “A” grande) revelou-Se em Jesus Cristo. E uma vez revelado e descoberto, quer que permanecermos nele. Esta é, afinal, a Grande Notícia: eu sou infinitamente amado!

1. Invocação

Senhor Jesus ressuscitado,
abre-nos as Escrituras,
revela-nos os segredos do teu coração
mostra-nos o quanto nos amas,
ensina-nos a permanecer na tua amizade,
e a fazer da nossa vida um dom a Ti e aos irmãos.

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo São João 

Jesus continua no cenáculo, na última ceia. As suas palavras estão carregadas de amizade e seriedade, de uma gravidade serena, porque são como que o seu testamento, a sua despedida, a sua última vontade. Jesus abre o Seu Coração aos seus amigos e fala-lhes do fogo que n’Ele arde.

2. 2. Leitura do Evangelho segundo São João (Jo 15,9-17)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei.
Permanecei no meu amor.
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor,
assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.
Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa.
É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos.
Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor;
mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai.
Não fostes vós que Me escolhestes;
fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça.
E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá.
O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».

Palavra da salvação

(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)

2.3. Breve comentário

Jesus acabou de contar a parábola da videira, e na continuação imediata fala-nos do amor do Pai por Ele, e do amor d’Ele por nós.

Temos logo no princípio uma revelação trinitária: o Pai, o Filho e o Amor, que é o Espírito Santo. Deus Trindade é uma comunhão de Amor, e foi para nos introduzir nesta comunhão que Jesus veio ao mundo. A seiva desta videira é o Amor: a fonte é o Pai, que o comunica ao Filho, o qual, por sua vez, o comunica aos seus discípulos e amigos, para que estes o vivam e o comuniquem a outros, fazendo-o frutificar.

À mesa com os seus amigos, Jesus revela a sua intimidade, os segredos do seu coração.

No início do Evangelho de São João diz-se que “ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho que está voltado para o peito do Pai no-l’O deu a conhecer” (Jo 1, 18). Jesus conta-nos o segredo entre Ele e o Pai. E o segredo é o Amor. 

É este segredo que Jesus vai revelar plenamente na cruz. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. É como se Jesus estivesse, ali no cenáculo, a antecipar aos seus amigos o que vai acontecer verdadeiramente nas próximas horas: o que será visto por todos será um crime, de um inocente condenado à morte; mas Jesus diz aos seus amigos que será Amor o que acontecerá na cruz, e isto só os seus amigos poderão compreender. São João, o discípulo amado, entendeu-o perfeitamente, porque fez exatamente aquilo que Jesus faz com o Pai na eternidade: reclinou a sua cabeça no peito do Senhor.

Jesus está a revelar a natureza do Amor: amar é dar a vida, transmitir a vida, entregar a vida. O Amor consiste nisto: Deus amou-nos por primeiro, ainda antes de nós o amarmos. O amor que salva é o amor que se recebe. É claro que é necessário amar de volta. Mas em primeiro lugar está o amor gratuito, infinito de Deus, que nos é entregue como Dom.

Eu fui amado! Eu sou amado! Com um amor infinito. É isto que salva!

Por isso, somos salvos pela fé. Porque a fé é amor passivo: eu acredito, eu creio que Deus me ama. Quando olho para a Cruz de Cristo, vejo o Amor de Deus, e creio n’Ele.

A fé é o primeiro passo para permanecer neste Amor.

O segundo passo é corresponder a esse Amor. “Como não amar de volta um Amor assim”, exclama Santo Agostinho, contemplando a cruz do Senhor.

E quando o amor é correspondido, nasce uma coisa nova: a amizade.

Amizade é amor correspondido. Se eu sou amado por Deus, mas não amo a Deus de volta, não sou amigo de Deus. Por isso Jesus diz para guardar os mandamentos.

Mas aqui está o drama. Nós não somos capazes de guardar os mandamentos, principalmente não damos conta de guardar o mandamento que Ele nos está a dar aqui: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Jesus está a pedir que amemos os nossos irmãos como Ele nos amou na Cruz? Parece inacessível às nossas forças…

Este “como” pode ser um comparativo: “assim como” Jesus me amou, da mesma forma, na mesma medida eu preciso de amar.

Mas este “como” pode ser também a realidade que revela a causa escondida. “Como” eu recebi a graça do Amor de Cristo, então eu posso amar. Porque fui amado infinitamente por Jesus, então tenho um reservatório de amor que me torna capaz de amar. Porque Jesus morreu na Cruz por mim, jorra do seu lado aberto uma fonte inesgotável de Amor que me torna capaz de amar também, que me torna capaz de dar fruto e fruto que permaneça.

O amor de Jesus, recebido e vivido, é eterno. Este é o verdadeiro amor, o segredo da história, a nossa origem, o nosso fim, o nosso sustento, a essência de Deus, e também a essência dos filhos de Deus. “A minha vocação é o Amor” (Santa Teresinha). Permanecer neste Amor é a felicidade, a salvação, a libertação, a razão para o qual fomos criados; enfim, é o sumo bem.

3. Silêncio meditativo e diálogo

Permanecei no meu amor.

Temos uma pressa de mostrar aos outros que os amamos. Mas talvez nos seja mais difícil deixarmo-nos amar. Porque talvez pensemos que não merecemos ser amados, sendo tão imperfeitos e pecadores. Aceito que Deus me ame, assim como sou?

Para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa

O fruto de quem sabe que é amado é a alegria. Deus ama-me! Porque permaneço então ainda tão envolto em tristezas? Compreendo que talvez precise de pedir a Jesus que aumente a minha fé, e me faça acreditar, mais e em todas as circunstâncias, no Seu Amor?

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos.

Afinal, o que é para mim o amor? Será somente aquilo que dizem ser, à minha volta, um sentimento, uma paixão, algo extraterrestre? É com Jesus que eu quero aprender o que significa amar?

Já não vos chamo servos… mas amigos

Alimento a minha amizade com Jesus? Falo com Ele, encontro-me com Ele, abro-Lhe o coração, peço-Lhe ajuda? Quanto tempo tenho para Jesus no meu dia-a-dia?

O que vos mando é que vos ameis uns aos outros

Entendo as minhas incoerências quando não amo os outros? Porque se Deus me amou, logo a mim, como não amarei eu também os outros? Mesmo aqueles que não correspondem com amizade. O que me impede ainda de dar a vida pelos outros?

4. Oração final e gesto familiar

– Vou procurar, durante esta semana, estar atento aos momentos em que me deixo dominar pela tristeza e pelo desânimo, e procurar recordar-me destas palavras de Jesus, elevando para Ele o coração, fixando o meu olhar na sua cruz, e dizendo-Lhe: “Senhor, eu creio em Ti, mas aumenta a minha fé; eu amo-Te, mas aumenta o meu amor”.

– Pai Nosso

Repositório LECTIO DIVINA
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