Lectio divina para o III do Tempo Comum

O ano litúrgico centra-se em torno dos tempos fortes da celebração dos mistérios principais da vida de Jesus (Natal e Páscoa), preparados por tempos de conversão e oração (Advento e Quaresma).
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Atrás de Jesus, como discípulo missionário

Lectio Divina para o Domingo III do Tempo Comum, 24 de janeiro de 2021

Breve introdução

O ano litúrgico centra-se em torno dos tempos fortes da celebração dos mistérios principais da vida de Jesus (Natal e Páscoa), preparados por tempos de conversão e oração (Advento e Quaresma). No restante tempo, a Igreja, que em cada Domingo celebra Cristo, Deus feito homem, morto e ressuscitado, convida-nos a seguir Jesus na sua vida pública, escutando as suas palavras, deixando-nos tocar e curar pelos seus milagres, aprendendo a acreditar n’Ele e a ser seus discípulos. O Tempo Comum é o tempo do discipulado cristão. Deixamo-nos conduzir pelas páginas do Evangelho, ouvindo o chamamento de Jesus a irmos atrás d’Ele, para que depois nos envie como missionários da Boa Notícia da Salvação. Esta é da dinâmica de cada Eucaristia: vamos até Jesus, ouvimos a sua Palavra, ficamos com Ele e somos enviados, levando-O connosco para cada periferia da nossa vida e das nossas relações. Precisamos constantemente de regressar ao Evangelho, encontrando em Jesus a fonte de água viva, que constantemente nos convoca e desinstala, nos sacia e dá sentido a toda a nossa vida.

1. Invocação

Vem, Espírito Santo,
dispõe o meu coração
para escutar as palavras de Vida que saem da boca de Cristo.
Ajuda-me, Espírito Santo, a seguir Jesus
onde quer que Ele vá,
e faz-me ser “pescador de homens” para Deus,
em todos os meus gestos e palavras,
em toda a minha vida.
Ámen.

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo São Marcos 

Neste ciclo litúrgico B, lemos o Evangelho de São Marcos, de forma semi-contínua, precisamente a partir deste Domingo III. Na abertura do seu Evangelho, São Marcos conduz-nos ao deserto. Depois de uma rápida aparição de São João Batista, Jesus entra em cena, vem de Nazaré até ao rio Jordão e é batizado; depois retira-se para a solidão durante quarenta dias, onde é tentado. O cenário muda, com um salto temporal (“depois de João ter sido preso”), para a Galileia, terra de constante contacto entre judeus e gentios, longe dos holofotes da centralidade religiosa de Jerusalém. É na Galileia que Jesus vai iniciar a sua missão. São Marcos já fixou a nossa atenção em Jesus, mas ainda não ouvimos a sua voz. Ouvimo-la agora pela primeira vez.

2. 2. Leitura do Evangelho segundo São Marcos (Mc 1, 14-20)

Depois de João ter sido preso,
Jesus partiu para a Galileia
e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo:
«Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Caminhando junto ao mar da Galileia,
viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar,
porque eram pescadores.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens».
Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus.
Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os.
Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados
e seguiram Jesus.

2.3. Breve comentário

Os versículos que lemos têm duas partes distintas: a) Jesus inicia a sua pregação, afirmando a proximidade do Reino de Deus, e a necessidade de conversão e de Fé no Evangelho; b) o chamamento dos primeiros quatro discípulos, em dois pares de irmãos, Simão e André, Tiago e João, junto ao mar da Galileia, e o seu pronto seguimento do Senhor.

Jesus proclama o Evangelho de Deus. Ele veio ao mundo para isto, para trazer aos homens a Boa Notícia de Deus. O início da pregação deixa claro que Ele vem para falar de Deus, como um arauto que comunica uma notícia que provém de uma autoridade superior. A sua pregação é resumida em duas frases programáticas, que condensam o essencial do anúncio cristão. “Cumpriu-se o tempo”, não o tempo cronológico que registam os relógios e os anais da história, mas o tempo de Deus, o kairós, o tempo da graça, o tempo da colheita, o tempo dos frutos maduros. Acabou-se o tempo das promessas e da espera; o Messias chegou, a presença de Jesus no mundo é a plenitude dos tempos! Por isso, está próximo o Reino de Deus, tão próximo que o Filho de Deus já se encontra no meio dos homens. Ele é o Reino de Deus em pessoa, n’Ele Deus já reina, é Senhor, e através d’Ele, Deus vai realizar os seus desígnios de misericórdia e salvação. Ao mesmo tempo, o Reino está próximo, mas ainda não está completo, porque Jesus ainda não morreu e ressuscitou, e também porque é necessário que cada pessoa responda ao convite de Jesus e se disponha a entrar neste Reino.

A primeira condição para aderir ao Reino de Deus é a conversão (metanoia), a mudança profunda de vida, o giro de 180 graus, que exige a luta contra o pecado e contra tudo aquilo que nos pode desviar do amor de Deus. Mas a fuga do pecado é apenas uma primeira fase da conversão. Jesus exige em seguida a Fé no Evangelho. É preciso aderir a Jesus positivamente, acreditando n’Ele, e vivendo o mandamento do amor, não apenas através de uma aceitação teórica, mas procurando evidenciá-lo com a vida prática.

Porque se cumpriu o tempo, chega logo a necessidade de chamar, de romper amarras, de ir atrás de Jesus. É Deus quem chama, a iniciativa é sempre d’Ele. Jesus viu aqueles homens da Galileia, e o Seu olhar transformou as suas vidas. No início de cada vocação cristã está sempre este olhar de Jesus, esta iniciativa sua de se aproximar de quem Ele escolhe. Deus olhou para mim, e me escolheu, no dia do meu Batismo, para uma vocação altíssima, a de ser seu discípulo, seu amigo, seu companheiro de viagem. Jesus veio chamar-nos para sermos filhos de Deus e participarmos da intimidade que Ele tem com o Pai. Esta é a meta do discipulado, a vocação (inimaginável) à santidade. Espanta aquele “deixaram logo” dos discípulos, sem reservas nem calculismos, imediatamente. A vida cristã decide-se neste seguimento incondicional de Jesus: “Irei aonde quer que Tu vás”.

3. Silêncio meditativo e diálogo

Cumpriu-se o tempo 

“Tenho medo do Deus que passa e não volta” (Santo Agostinho). Deus tem os seus tempos, em que nos visita e nos chama. Ele está à porta e chama; se alguém ouvir a sua voz e lhe abrir a porta, entrará em sua casa e ceará com ele (cf. Ap 3,15). Como tenho aproveitado as visitas de Deus à minha vida? O que me distrai e impede de reconhecer as suas passagens? Acredito que Jesus não desiste de mim?

Está próximo o Reino de Deus

O Reino de Deus consiste na tomada de posse de Deus sobre aquilo que Lhe pertence. “Criaste-nos para Vós, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansa em Vós” (Santo Agostinho). Tenho consciência de que não me pertenço a mim mesmo, pertenço a Deus? Jesus é Rei no meu coração, nas minhas palavras e obras?

Arrependei-vos

Ser cristão exige uma constante revisão de vida à luz do exemplo e do ensinamento de Jesus. Ele vem para mudar a minha vida. O que preciso de mudar para me tornar mais semelhante a Jesus? Oiço a voz da minha consciência, e procuro formá-la de acordo com aquilo que Deus ensina? Quanto tempo ainda vou adiar aquele “sim” a Deus que me falta dizer?

Acreditai no Evangelho

“O Evangelho é força de Deus para todo aquele que crê” (Rom 1,16). Procuro conhecer melhor a vida de Jesus, através da leitura assídua da Palavra de Deus? Tenho alimentado a minha fé com a oração e os sacramentos? Quais são as minhas dúvidas de fé? Onde posso encontrar respostas para elas?

Vinde comigo…

Onde quer Deus levar-me neste momento da minha vida? Confio que a Sua Vontade é o melhor caminho para mim? Recorro a Deus antes de tomar decisões na minha vida? Reconheço que a Eucaristia é oportunidade que Jesus me dá para o encontro com Ele e os irmãos, encontro que marca, alimenta e fortalece a vida?

Farei de vós pescadores de homens

A vida do discípulo de Cristo não está completa sem o apelo profundo a partilhar com os outros a experiência desse seguimento. Tenho vergonha de ser cristão, no trabalho, na família, na escola? Como posso mostrar o amor de Deus às pessoas com quem me cruzo todos os dias? Quantas vezes falei de Jesus aos outros nesta semana? Tenho rezado pelos sacerdotes? Vivo a minha vocação própria com alegria e fidelidade? 

4. Oração final e gesto familiar

– Em silêncio, cada um recorda o momento da sua vida em que o olhar de Jesus acendeu em si a chama da fé e a decisão de O seguir.

– No Domingo, antes ou depois da Eucaristia, a família pode ir junto do Sacrário alguns minutos, renovando o desejo de seguir Jesus cada dia, e podem rezar esta ou outra oração:

Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, 
a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, 
tudo o que tenho e possuo;
Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. 
Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. 
Dai-me o vosso amor e graça, que isto me basta.

(Santo Inácio de Loiola)

Repositório LECTIO DIVINA
https://bit.ly/2W4uDI6

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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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