Lectio divina para o 4º Domingo do Tempo Comum, Ano A

O grande objetivo de todos os homens e mulheres é serem felizes. Nisso investem todos os seus esforços e mobilizam os meios à sua disposição.

 

Deus quer-nos felizes

Lectio Divina para o Domingo IV do Tempo Comum (Ano A), 29.01.2023

Breve introdução

O grande objetivo de todos os homens e mulheres é serem felizes. Nisso investem todos os seus esforços e mobilizam os meios à sua disposição. Há, no entanto, muitos que se enganam, pois focam os seus interesses em caminhos errados de felicidade. Esta nasce no íntimo da pessoa, no seu coração, e os seus principais fatores são o dom de Deus e a atitude espiritual humana, que leva a acolher e a corresponder ao que lhe é oferecido. Vamos escutar o que Jesus, nas bem-aventuranças, ensina como Deus nos quer e faz felizes. A celebração da Eucaristia, fonte e alimento de alegria, gera em nós sentimentos de fraternidade e sentido de missão para fazermos os outros felizes.

1. Invocação

Jesus, nosso mestre e amigo,
Tu nos ensinas como Deus nos quer felizes.
Com o teu Evangelho geras em nós alegria
e nos impeles à compaixão e à generosidade.
Dá-nos o Espírito Santo, uma vez mais,
para que escutemos as tuas palavras com docilidade,
acreditemos nelas com firmeza e sabedoria
e as ponhamos em prática com confiança e diligência,
partilhando com outros o dom da felicidade.
Ámen.

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo São Mateus

“A liturgia deste domingo faz-nos meditar sobre as Bem-Aventuranças (cf. Mt 5, 1-12a), que abrem o grande sermão chamado “da montanha” (…). Jesus manifesta a vontade de Deus de conduzir os homens à felicidade. Esta mensagem já estava presente na pregação dos profetas: Deus está próximo dos pobres e dos oprimidos e liberta-os de quantos os maltratam.” (Papa Francisco)

2.2. Leitura do Evangelho segundo São Mateus (Mt 5, 1-12)

Naquele tempo,
ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se.
Rodearam-n’O os discípulos
e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados.
Bem-aventurados os humildes,
porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa,
vos insultarem, vos perseguirem
e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Alegrai-vos e exultai,
porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Palavra da salvação

(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)

2.3. Breve comentário

Nos primeiros capítulos do seu evangelho, S. Mateus começa por apresentar Jesus e a sua missão. Depois, narra a concretização dessa missão: com palavras e gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o Reino de Deus. Ele quer anunciar e fazer os homens experimentarem a vida, o bem e a alegria que Deus oferece a quem O recebe. 

Relativamente à mensagem proclamada pelos profetas, “nesta sua pregação, Jesus segue um caminho particular: começa com o termo «bem-aventurados», ou seja, felizes; prossegue com a indicação da condição para ser tais; e conclui fazendo uma promessa. O motivo da bem-aventurança, ou seja, da felicidade, não consiste na condição exigida — por exemplo, «pobres em espírito», «aflitos», «famintos de justiça», «perseguidos»… — mas na promessa sucessiva, que deve ser acolhida com fé como dom de Deus. Parte-se da condição de mal-estar para se abrir ao dom de Deus e aceder ao mundo novo, o «reino» anunciado por Jesus. Este não é um mecanismo automático, mas um caminho de vida na esteira do Senhor, motivo pelo qual a realidade de mal-estar e de aflição é considerada numa perspetiva nova e experimentada segundo a conversão que se realiza. Não podemos ser bem-aventurados se não nos convertermos, se não formos capazes de apreciar e viver os dons de Deus.” (Papa Francisco, Angelus, 29.01.2017)

3. Silêncio meditativo e diálogo

Na meditação, com a ajuda do Papa Francisco, fixemos a nossa atenção em algumas das bem-aventuranças, que, de certo modo, nos ajudam a vivê-las todas.

«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus.»

“O pobre em espírito é o cristão que não confia em si mesmo, nas riquezas materiais, não se obstina nas suas opiniões pessoais, mas escuta com respeito e aceita de bom grado as decisões de outros. Se nas nossas comunidades existissem mais pobres em espírito, haveria menos divisões, contrastes e polémicas! A humildade, como a caridade, é uma virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs.” (Papa Francisco)

Reconheço-me de algum modo nesta bem-aventurança e espero a promessa que ela contém? Como posso promover as atitudes espirituais e o estilo de vida proclamados por Jesus?

«Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.»

“Esta justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um, sendo justo nas próprias decisões, e depois manifesta-se na busca da justiça para os pobres e vulneráveis. É verdade que a palavra «justiça» pode ser sinónimo de fidelidade à vontade de Deus com toda a nossa vida, mas, se lhe dermos um sentido muito geral, esquecemo-nos que se manifesta especialmente na justiça com os indefesos: «Procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas» (Is 1,17). (Papa Francisco, Alegrai-vos e exultai, n. 79)

Sinto realmente fome e sede de justiça? Que faço e posso fazer melhor com outros para defender os oprimidos, injustiçados e esquecidos da comunidade e da sociedade de que faço parte?

«Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.»

“A misericórdia tem dois aspetos: é dar, ajudar, servir os outros, mas também perdoar, compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (7,12). O Catecismo lembra-nos que esta lei se deve aplicar «a todos os casos», especialmente quando alguém «se vê confrontado com situações que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão difícil».” (Papa Francisco, Alegrai-vos e exultai, n. 80).

Tenho consciência dos meus pecados, espero a misericórdia de Deus e peço-lhe perdão? Compreendo os outros nas suas fraquezas e falhas, como desejo que façam para comigo? Sou capaz de olhar e agir com misericórdia, perdoando as ofensas dos outros, particularmente quando me pedem? 

«Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.»

“Esta bem-aventurança faz-nos pensar nas numerosas situações de guerra que perduram. Da nossa parte, é muito comum sermos causa de conflitos ou, pelo menos, de incompreensões. Por exemplo, quando ouço qualquer coisa sobre alguém e vou ter com outro e lho digo; e até faço uma segunda versão um pouco mais ampla e a espalho. E, se o dano que consigo fazer é maior, até parece que me causa maior satisfação. O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz. Pelo contrário, tais pessoas são inimigas da paz e, de modo nenhum, bem-aventuradas. Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a paz por todo o lado, Jesus faz-lhes uma promessa maravilhosa: «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5,9). (Papa Francisco, Alegrai-vos e exultai, n. 87-88).

Já reparei na oração e na saudação de paz que fazemos em cada Eucaristia, antes da comunhão? Reconheço o apelo a tornar-me artífice da paz em todo o lado onde estou? Que posso fazer mais ou melhor para promover o respeito e a harmonia nas relações entre as pessoas e os grupos?

4. Propósito e Oração final

– Durante esta semana, rezo este texto do Evangelho, louvo e agradeço a Deus pelas belas e promissoras palavras de Jesus. Procuro estar atento às oportunidades para as pôr em prática e ajudar outros a viverem com mais alegria e confiança.

– Pai Nosso

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