Lectio divina para o 30º Domingo do Tempo Comum

Com o trecho deste domingo concluímos a parte central da narração evangélica de S. Marcos. Jesus apontou as condições para se ser seu discípulo e a meta para onde caminha.
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A Luz que ilumina a partir de dentro

Breve introdução

Com o trecho deste domingo concluímos a parte central da narração evangélica de S. Marcos. Jesus apontou as condições para se ser seu discípulo e a meta para onde caminha: Jerusalém onde vai dar a vida. Está agora em Jericó, a 27 Km de distância, no início da última etapa que os peregrinos faziam até chegar à cidade santa, que se elevava sobre as montanhas de Judá. Lugar de passagem de grandes grupos, a saída desta cidade era o lugar estratégico onde muitos pobres mendigos aproveitavam a generosidade dos fiéis. O cego Bartimeu vai encontrar a luz que o iluminará. Jesus já tinha curado o cego de Betsaida. Agora Bartimeu aparece-nos como uma alegoria de todos quantos, cegos nesta vida, precisam de ser iluminados por Jesus. 

Com a luz da fé, aproximamo-nos da Eucaristia e podemos reconhecer Jesus vivo presente de vários modos na celebração comunitária: nos irmãos reunidos, no ministro, na Palavra, no Pão consagrado… 

1. Invocação

Senhor Jesus, 
que irrompes nas trevas do mundo 
e que brilhas para nós, em cada manhã,
como o sol nascente em cada aurora, 
pela luz da fé pascal recebida no Baptismo,
ilumina os olhos do nosso coração e da nossa mente.
Ámen

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho de S. Marcos

O relato evangélico deste domingo narra-nos o chamamento, encontro e cura do cego Bartimeu por parte de Jesus. A cegueira, para além da limitação física, tinha associada a si, na cultura judaica, uma conotação espiritual. Como outras doenças, era encarada como castigo de Deus para algum pecado cometido. Particularmente associado à cegueira estaria um pecado grave, pois aquele que a contraía estava impedido de ver o Messias Salvador quando Ele viesse à terra. Ser curado da cegueira era encarado como uma graça extraordinária de Deus.

2.2. Leitura do Evangelho de S. Marcos (Mc 10, 46-52)

“Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de Jericó com os discípulos e uma grande multidão, estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho. Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar: «Jesus, filho de David, tem piedade de mim.» Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem piedade de mim.» Jesus parou e disse: «Chamai-o». Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te que Ele está a chamar-te.» O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que Eu te faça?» O cego respondeu-lhe: «Que eu veja.» Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou.» Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.

2.3. Breve comentário

A partir deste relato da cura do cego Bartimeu percebemos que o evangelista Marcos compõe o relato com uma clara intenção catequética. Quer fazer-nos identificar uma cegueira em muitos dos discípulos que acompanhavam Jesus e nos de hoje à qual o Senhor, Filho de David, quer pôr termo. «Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? Tendes olhos e não vedes?» (Mc 8,17-18).

A população de Jerusalém, por altura da Páscoa, triplicava. Ajuntamento de pessoas era oportunidade de negócio e, para os pobres, era a época mais propícia para amealhar mais alguma coisa. Bartimeu é um destes que, à beira do caminho, esperava ter um dia como tantos outros que já tinha vivido. Mas ao ouvir dizer que era Jesus que passava, iluminou-se o coração. Certamente já teria ouvido falar das curas e milagres que Jesus operava. E por isso grita a plenos pulmões: «Jesus, Filho de David – um título messiânico, tende piedade de mim». Estaria aqui a oportunidade de mudar profundamente a sua sorte. Agarra-a com toda a sua energia, mesmo diante daqueles que o tentam silenciar. Percebe que oportunidades destas podem não surgir mais. 

Jesus aparece na vida dos crentes como a Luz que ilumina nas trevas. Todos nós já fizemos a experiência da cegueira temporária, em brincadeiras de criança, quando nos vendavam os olhos e tínhamos de caminhar. Ou quando falta a energia e ficamos sem luz artificial. Os nossos passos tornam-se débeis, perdemos as referências; os obstáculos, os abismos e o perigo de quedas paralisam-nos. Ficamos com medo de caminhar ou, ao invés, ignoramos os perigos. É a parábola da cegueira do coração. Olhamos, mas não vemos ou vemos mal. Não é por acaso que a luz é tomada como o símbolo da fé daqueles que andam iluminados pela Luz da Páscoa da Ressurreição de Cristo. E uma vez iluminados, seguimos aquele que ilumina os nossos passos. 

Não podemos ignorar que no meio das luzes que o mundo nos oferece, nem sempre é fácil distinguir a luz de Deus. Que o azeite da almotolia não nos falte para que quando o esposo chegar, possamos participar nas Suas núpcias. 

3. Silêncio meditativo e diálogo

 -… sentado à beira do caminho a pedir esmola

Símbolo do viver é caminhar, é agir, numa sucessão de actividades que preenchem o dia. Pelo contrário, passar o dia sentado, pode ser símbolo de impossibilidade, de resignação de quem não encontra mais motivos para sonhar uma vida melhor. No caso de Bartimeu, seria mais um dia de pedir esmola para sobreviver. Depende totalmente da generosidade dos outros. Mas no fundo não se resigna à sua condição de cego e pobre. Interiormente reconhece as suas limitações e essa consciência é o primeiro passo para desejar mudar de vida. 

– …Jesus, Filho de David, tende piedade de mim»

Ouviu dizer que era Jesus que passava constituía a oportunidade da sua vida. Sendo invisual, viu mais do que muitos que acompanhavam Jesus. Chama-lhe Filho de David, um título messiânico. Identifica em Jesus o Salvador esperado. Nos milagres de Jesus reconhece a mão poderosa de Deus e a sua bondade. 

Muitos repreendiam-no para que se calasse

O confronto dos que se convertem e se aproximam de Deus nem sempre é pacífico com os que já fazem parte da comunidade. Muitas vezes vistos com desconfiança, basta recordar as suspeitas que se levantaram inicialmente contra o apóstolo S. Paulo devido ao seu passado contra os cristãos, precisam de uma fé reforçada para não desistir ao primeiro embate. Bartimeu diante de quem o manda calar, grita ainda mais. Está convencido interiormente que nada nem ninguém lhe fará perder a oportunidade de se encontrar com o Mestre. Quem se converte, sente até das pessoas mais próximas, por vezes sem maldade, comentários jocosos sobre a mudança de vida operada. Só com grande convicção e persistência é possível não desistir do caminho novo agora iniciado. Saberemos se estamos iluminados por Deus, se não ignorarmos o grito do pobre.

Chamai-o

Deus escuta e responde. Nem sempre no tempo e modo como muitas vezes desejamos. Mas responde. Não é insensível a quem, na fé, se Lhe dirige. E Deus, tantas vezes, como neste caso, serve-se de outras pessoas, para nos chamar. «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar». Não encontramos aqui qualquer juízo moral. Pelo contrário, uma palavra de encorajamento. 

O cego atira fora a capa, dá um salto e vai ter com Jesus

A atitude do cego é surpreendente. A capa era quanto um pobre tinha para se agasalhar e recolher as moedas que lhe davam. Desfazer-se dela é aqui símbolo de confiança num futuro diferente. De quem quer deixar para trás uma vida de mendicidade e dependência. De quem dá um salto para uma vida com futuro e reconhece em Jesus a razão da sua esperança. Ainda assim é preciso ter coragem para cortar com o passado, com as nossas (poucas) seguranças e atirar-se nos braços da Providencia de Deus. O mesmo acontece quem se converte e se sente iluminado por Deus a abraçar uma vida nova. De quem no Baptismo se reveste do homem novo e abandona as velhas roupas do pecado. 

Que queres que Eu te faça? … Mestre, que eu veja … Vai, a tua fé te salvou

Finalmente temos o diálogo de Jesus com Bartimeu. No sentido espiritual, é um diálogo que acontece na mente, no coração. Saber o que se quer é importante. Ajuda a tomar consciência do pedido. Mais do que informar Deus do que precisamos – Ele bem o sabe – a oração/diálogo com Deus aclara, ilumina os nossos sonhos e necessidades e nos faz perceber que caminhos o Senhor nos leva a percorrer. 

O cego seguiu Jesus. Não voltou ao que era. Quem se deixa iluminar pela fé, deve viver pela fé e segundo a fé. Seria ingratidão não ser consequente com a graça de ver concedida por Jesus.  

4. Oração final e gesto familiar

– Em silêncio, cada um procure fazer memória agradecida dos benefícios, dons, graças que ao longo da sua vida recebeu da parte de Deus. Igualmente fazer memória dos momentos em fez da experiência da noite escura da alma, em que se deixou cegar pelas ilusões deste mundo e se fechou à luz da fé.

– Depois, livremente, quem se sentir interpelado, partilhar um ou outro momento em que perdeu o pé e se sentiu perdido, bem como a graça de voltar a ver segundo a luz de Deus.

– No final da partilha rezam juntos o Pai Nosso finalizando com o cântico: Senhor Tu és a Luz que ilumina a terra inteira

Repositório LECTIO DIVINA
https://bit.ly/2W4uDI6

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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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