Lectio divina para o 2º Domingo do Tempo Comum, Ano C

Finalizámos o tempo natalício com a Festa do Baptismo do Senhor e demos início ao Tempo Comum da liturgia, celebrando agora o 2º domingo.
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As Bodas de Caná: da atenção de Maria ao amor de Jesus

Breve introdução

Finalizámos o tempo natalício com a Festa do Baptismo do Senhor e demos início ao Tempo Comum da liturgia, celebrando agora o 2º domingo. O Evangelho que nos é proposto é o primeiro sinal dado por Jesus, ao terceiro dia, depois do chamamento do Filipe e do Baptismo no Jordão, do desvelamento da sua identidade e missão. Será sinal do terceiro dia pascal, em que Jesus ressuscitará para que a nossa alegria e felicidade não tenham fim. Maria, Jesus e os discípulos são convidados para umas bodas matrimoniais. Reassumindo a linguagem esponsal dos profetas para falar da Aliança de amor de Javé pelo seu povo eleito, Jesus manifestará obediência não apenas ao Pai, mas também a Sua mãe, Maria.

1. Invocação

Senhor Jesus, 
que vieste ao mundo
para que a nossa felicidade seja completa, 
faz das nossas famílias comunidades de vida e de amor 
nas quais brotem sentimentos de alegria e gratidão
por tudo quanto recebem de Vós
e para que as famílias com mais dificuldades
nunca percam a esperança
de encontrar na oração e na atenção dos outros
a ajuda necessária para uma vida familiar em plenitude.
Ámen

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho de S. João

O relato evangélico deste domingo narra-nos o milagre ocorrido numas bodas matrimoniais em Caná da Galileia. Faltando o vinho, logo vieram pedir a intercessão de Maria junto de Jesus. “Não tendo ainda chegado a sua hora”, Jesus não deixou de escutar os apelos de Sua Mãe, Maria. Ela tem a graça de antecipar a hora de Jesus e de O fazer manifestar todo o seu poder para que a alegria familiar daquele evento não terminasse com críticas aos noivos. 

2.2. Leitura do Evangelho de S. Marcos (Jo 2, 1-11)

“Naquele tempo,
realizou-se um casamento em Caná da Galileia
e estava lá a Mãe de Jesus.
Jesus e os seus discípulos
foram também convidados para o casamento.
A certa altura faltou o vinho.
Então a Mãe de Jesus disse-Lhe:
«Não têm vinho».
Jesus respondeu-Lhe:
«Mulher, que temos nós com isso?
Ainda não chegou a minha hora».
Sua Mãe disse aos serventes:
«Fazei tudo o que Ele vos disser».
Havia ali seis talhas de pedra,
destinadas à purificação dos judeus,
levando cada uma de duas a três medidas.
Disse-lhes Jesus:
«Enchei essas talhas de água».
Eles encheram-nas até acima.
Depois disse-lhes:
«Tirai agora e levai ao chefe de mesa».
E eles levaram.
Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho,
– ele não sabia de onde viera,
pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam –
chamou o noivo e disse-lhe:
«Toda a gente serve primeiro o vinho bom
e, depois de os convidados terem bebido bem,
serve o inferior.
Mas tu guardaste o vinho bom até agora».
Foi assim que, em Caná da Galileia,
Jesus deu início aos seus milagres.
Manifestou a sua glória
e os discípulos acreditaram n’Ele.

Palavra da Salvação

2.3. Breve comentário

O episódio evangélico situa-nos numas bodas matrimoniais, ocorridas em Caná da Galileia. Ao contrário do habitual, em que os noivos são os protagonistas, (da noiva nem se fala e do noivo apenas de passagem e de forma passiva, limitando-se a ouvir o elogio do chefe da mesa), neste relato os protagonistas são Jesus e Maria, sua mãe, apontando já por dois níveis de leitura deste relato: o cristológico, em que Jesus transforma a água em vinho e o mariológico, em que se manifesta claramente o papel de intercessora de Maria, papel esse que ao longo dos séculos o Povo de Deus jamais deixará de reconhecer àquela que é Mãe de Deus e mãe da Igreja.

Segundo o quarto evangelho, o milagre das bodas de Caná é o primeiro dos que Jesus realizou. «Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele» assim termina o relato e é esta a razão da sua introdução aqui: levar à fé em Jesus os que presenciaram e os que escutam este mesmo relato. 

Na linguagem joanina, este Sinal/milagre tem um significado mais profundo do que transformar simplesmente água em vinho. 1) é manifestação de Jesus, que por intercessão de Sua mãe, Maria, antecipa a sua hora definitiva (a glorificação na cruz); 2) é sinal do banquete messiânico do Reino de Deus, no qual não faltarão manjares suculentos e vinhos deliciosos; 3) é tipo da Eucaristia, em que o vinho se transformará no Sangue do próprio Jesus, sangue da nova e eterna aliança nupcial de Deus para dar vida e salvação ao mundo; 4) é imagem do amor esponsal de Deus para com a Igreja, para usarmos a linguagem profética para falar do amor de Deus para com a humanidade criada. 

Por outro lado, sobressai a atenção carinhosa que uma mãe sabe ter sempre. Maria antecipa a hora de seu Filho. Nada pede para si, mas indica o caminho que os serventes devem seguir para que a alegria (simbolizada no vinho) não termine. Ao longo dos séculos a Igreja nunca deixou de invocar nas suas necessidades, que os múltiplos títulos marianos invocam, a intercessão da Mãe de Deus. E Maria não deixará de corresponder, como a bela oração de S. Bernardo de Claraval faz alusão: «Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa protecção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado…»

3. Silêncio meditativo e diálogo

– … A certa altura faltou o vinho. Jesus, Maria e os discípulos foram convidados para uma festa de casamento. É um dia de muita festa e alegria, sobretudo para os noivos, e o que todos desejam é que seja assim até ao fim, nomeadamente para aqueles que são os responsáveis de a organizar. Porém, o inesperado aconteceu: faltou o vinho. Seria uma grande vergonha para os noivos e para a família, pois o vinho, a par da água e do azeite, eram os líquidos mais apreciados e preciosos. Sendo o vinho símbolo da alegria, faltar o vinho era sinónimo de faltar a alegria. Isso pode acontecer hoje, nas nossas vidas e na vida das nossas famílias. Inesperadamente, faltar a alegria, faltar a esperança.

 – Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho». Maria estaria ali como convidada. Não teria, certamente, responsabilidades na organização da festa. Porém, como mãe não deixou de estar atenta e, antes de todos os outros, apercebeu-se do facto e falou dele a Jesus. Que belo exemplo de caridade e que grande fonte de inspiração para nós. Estarmos atentos, para que não falte alegria à festa. Falar do assunto, com discrição, a quem o pode resolver. Assumir como seus (com interesse) os problemas dos outros e ajudar a solucioná-los. Como fiz eu em situações semelhantes?

Jesus respondeu-Lhe: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora». Jesus, aparentemente, parece desvalorizar o pedido de Sua mãe. Mas não resiste em ouvi-la e tudo fará para resolver aquele problema. Jesus, fonte de toda a alegria, veio até nós porque nos ama e de Caná ao Golgota, foi-nos dando sinais/milagres que testemunham o seu grande amor por nós. Sabemos que a hora de Jesus é a hora da cruz/glorificação. Mas os milagres que vai fazendo, para ajudar à nossa pouca fé, são manifestações do seu amor e do seu poder. 

Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser». No quarto evangelho são as últimas palavras que encontramos de Maria e servem para nós como seu testamento espiritual. Maria apontará sempre para Seu filho Jesus. Uma devoção mariana correcta não poderá nunca colocar Maria a disputar atenções e protagonismos em relação a Jesus. Seria, até contradizer o seu mais íntimo desejo: que a humanidade ame Aquele que a amou profundamente. Fazemos nós tudo o que o Senhor nos diz? A Eucaristia é escola de caridade e ponto de partida. É o tempo da escuta da Palavra e que se faz Pão e vida em nós.

Mas tu guardaste o vinho bom até agora». O noivo não se apercebeu do que se passou, pelo menos num primeiro momento. Foi elogiado pelo chefe da mesa por ter guardado o vinho bom até ao fim. Muitas vezes não nos damos conta, mas há quem na discrição (Deus, família, amigos, colegas…) trabalham para que não nos falte a alegria e sermos elogiados sem termos merecimento. Guardar o vinho bom até ao fim é trabalhar para que o amor matrimonial, a harmonia da família, o entusiasmo de uma consagração a Deus, nunca esmoreçam, antes, se apurem com o passar dos anos, como acontece com os vinhos bons. Para isso há que apostar nas castas (sentimentos, virtudes, atitudes) que valham a pena. Na Eucaristia o vinho se transformará no Sangue do Senhor, no cálice da nova eterna aliança derramado por todos para remissão dos pecados. Por isso, a celebração eucarística é a festa maior para a qual cada um de nós é também convidado. Como aceito este convite e com que atenção participo nela?

4. Oração final e gesto familiar

– Em silêncio, em família ou em comunidade cada um procure fazer memória agradecida dos benefícios, dons, graças que ao longo da sua vida recebeu da parte de Deus, incluindo aqueles que nunca agradeceu nem se deu conta até agora de ter recebido.

– Depois, livremente, quem se sentir interpelado, partilhe ocasiões em que, como Maria, esteve atento às necessidades dos outros.

– No final da partilha rezam juntos o Pai Nosso finalizando com o cântico: Cantarei, cantarei a bondade do Senhor.

Repositório LECTIO DIVINA
https://bit.ly/2W4uDI6

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