Preguiça de ser santo(?)…
Lectio Divina para o Domingo XXVIII do Tempo Comum (Ano B), 10.10.2021
Breve Introdução
A liturgia deste domingo XXVIII do Tempo Comum é um convite a desejarmos que Deus nos dê o seu Espírito Santo, com o dom da Sabedoria, que é preferível a todas as riquezas.
De fato, “que importa ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua vida?” (Mc 8, 36). Só temos esta vida para amar e servir a Deus e aos irmãos. Precisamos de aproveitar cada segundo que nos é dado para encontrar essa Água Viva que sacia as nossas sedes.
1. Invocação
Jesus, Bom Mestre, dá-me a tua sabedoria.
Preciso dela para viver de modo mais feliz,
de forma mais parecida à vida que Tu tens e me queres dar.
Confio em Ti, Jesus!
Faz-me experimentar o poder que vem do Teu Amor,
porque para ti nada é impossível.
Amen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 10, 17-30)
Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e perguntou-Lhe: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».
2.2. Breve Comentário
Jesus é a Sabedoria feita carne. Enviado pelo Pai, Jesus transmite a sabedoria que vem de Deus nos seus ensinamentos, mas principalmente através dos seus gestos e em toda a sua vida.
Um homem rico aproxima-se de Jesus e ajoelha-se. Poderemos imaginar quão intensa será a expectativa que ele coloca nos ensinamentos do divino Mestre. Por isso lhe chama Bom; somente para ouvir de Jesus o desafio a reconhecer que só Deus é Bom. No primeiro momento deste Evangelho, é a Fé o motor da aproximação deste homem a Jesus.
A nossa vida precisa de um horizonte que dê sentido ao nosso presente e nos faça viver agradecidos e aprender com o nosso passado. Alcançar a vida eterna é a meta da existência do cristão, o porto onde queremos chegar, sem o qual andamos à deriva no mar desta vida, sem saber quem somos, de onde vimos, para onde vamos.
Mas não basta crer (querer), é preciso viver. Por isso Jesus aponta como primeiro degrau desta subida para uma vida sábia o cumprimento dos mandamentos. Os mandamentos são leis de sabedoria dadas por Deus ao Povo de Israel e a toda a humanidade. São como que os sinais de trânsito numa estrada. Sem os mandamentos, sem uma vida moralmente íntegra, a vida das pessoas seria um caos. Pior ainda, não sairíamos da casa de partida. Mas esta lei não está fora do homem! Está inscrita no seu coração, foi colocada pelo próprio Deus criador na estrutura de toda a realidade, especialmente da alma humana.
No entanto, não basta viver os mandamentos, que nos mostram o que é bem e mal, o que devo fazer e evitar. É necessário mais. O Amor que Deus nos dá exige de nós amor. Por isso, Jesus convoca todas as pessoas de boa vontade, representadas naquele homem, para segui-l’O, deixando tudo por causa d’Ele. É o chamamento à santidade. Não basta não pecar e ser salvo pela fé; é preciso amar, ser santo! E o caminho para essa meta é sempre o mesmo, ontem, hoje e sempre: Jesus! “Segue-me”, é o pregão, a convocatória, o desafio, o fogo que dá luz e calor à vida de cada cristão, de cada comunidade, da Igreja e do mundo.
3. Silêncio meditativo e diálogo
O homem rico parece ter estado à espera de Jesus, para o interrogar. Talvez sem o saber, ele já esperaria pelo Bom Mestre a vida toda.
— Sinto que Jesus é a resposta de Deus para as perguntas da minha vida? O que procuro em Jesus? E, quando procuro, encontro? Qual foi a última vez que fui a correr ter com Jesus?
“Tu sabes os mandamentos?”
— Tenho necessidade de confortar a minha vida moral com os ensinamentos de Deus e da Igreja? Reconheço que não sou o senhor do bem e do mal, e quando Deus diz para não fazer algo é porque Ele me ama e quer o melhor para mim?
“Falta-te uma coisa”
— Que coisa é esta, que me faz falta? Que apegos tenho na minha vida que me impedem de voar para o alto? Compreendo que Jesus não tira nada, mas dá tudo, e quando me pede um desapego de algo concreto na minha vida, é somente para que Ele me possa devolver todas as coisas e pessoas transfiguradas e purificadas pelo seu amor libertador?
Na vida «existe apenas uma tristeza: a de não ser santo» (León Bloy)
— O que me entristece? Porque não decidir-me, hoje (não amanhã), por dar a Deus o que já sei que Ele me está a pedir neste momento.
4. Gesto e oração final
Em família, ou individualmente, pensar em dar a alguém necessitado, algo que possa expressar um verdadeiro desprendimento de algum bem material, sem que a “mão esquerda saiba o que faz a direita”.
Pai Nosso