A semente que cresce…
Lectio Divina para o Domingo XI do Tempo Comum (Ano B)
Breve introdução
Vivemos numa sociedade que se rege por lógicas de produção e eficácia. Frequentemente, olhamos para a nossa vida, para os outros e para os acontecimentos que nos rodeiam desde essa perspetiva. A força, a beleza, o poder, e tantas outras realidades, dominam a nossa escala de valores.
Aonde nos leva essa lógica? Que mundo construímos quando assim pensamos e agimos?
Deus apresenta-nos uma ‘lógica’ diferente. Esta alcança a sua revelação plena no acontecimento da cruz, onde Deus se manifesta como fraco e impotente, sucumbindo ao mal e à morte. Mas sabemos que é daí que brota a vida na manhã de Páscoa. A força da ressurreição nasce da fragilidade da cruz, a beleza da vida plena só é possível graças ao escândalo da cruz. A eucaristia que nos alimenta, porque é Corpo e Sangue de Cristo, é feita de grãos triturados e de uvas esmagadas.
Nas parábolas que hoje meditamos, numa linguagem simples e acessível, Jesus apresenta-nos esta nova ‘lógica’, a ‘lógica do Seu Reino. E assim, convida-nos a pôr a nossa confiança, não nas nossas forças e capacidades humanas, mas sim em Deus, que tudo pode.
1. Invocação
Deus Pai, que em Vosso Filho Jesus Cristo nos abriste as portas da vida nova, deixai que o Vosso Espírito Santo penetre hoje os nossos corações. Dai-nos a graça de escutar a Vossa palavra, deixando que ela nos ilumine e transforme à imagem de Jesus, para vivermos desde já o Vosso Reino de amor e de esperança. Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo São Marcos
No início da Sua pregação, Jesus apresenta o Reino que vem instaurar. Sabendo que a multidão ainda não era capaz de tudo compreender, recorre a parábolas, com imagens simples e profundas que permitem entrever a grandeza da novidade que vem trazer. No evangelho segundo São Marcos, as parábolas mais significativas estão concentradas num só capítulo. Vamos meditar as duas últimas parábolas desse capítulo, ambas centradas no Seu Reino.
2. 2. Leitura do Evangelho segundo São Marcos (Mc 4, 26-34)
Naquele tempo, disse Jesus à multidão:
«O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra.
Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce,
sem ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga,
por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo se mete a foice,
porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus?
Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra,
é a menor de todas as sementes que há sobre a terra;
mas, depois de semeado, começa a crescer
e torna-se a maior de todas as plantas da horta,
estendendo de tal forma os seus ramos
que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas,
conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas;
Palavra da salvação
(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)
2.3. Breve comentário
A primeira parábola descreve algo simples e comum na vida do campo: a lançar semente à terra. Mas, imediatamente, quem escuta é levado a refletir sobre algo que frequentemente parece óbvio: a semente germina e cresce de forma natural. O semeador continua a sua vida, o que é expresso nas imagens do dormir e do levantar. Assim também todas as outras realidades seguem o seu percurso, simbolizado pela referência à noite e ao dia, mas, no escondido da terra, no silêncio da profundidade, a semente vai germinando. Graças à terra que a envolve, ela vai-se desenvolvendo naturalmente até chegar a produzir o trigo maduro, que é então ceifado.
A segunda parábola também está centrada numa semente, mas, desta vez, já não é uma semente de trigo, mas sim um grão de mostarda que é semeado. Aqui, o enfoque está na dimensão: o grão de mostarda é algo mínimo, mas que, crescendo, se torna na maior das plantas da horta. Para além da capacidade de produzir fruto, que é dada por suposto, Jesus acentua que o alcance daquele grão vai ainda mais longe, podendo servir inclusive de abrigo para as aves do céu.
Na passagem de uma parábola para a outra e depois no final da segunda, ressalta a preocupação que Jesus tem de falar de acordo com a capacidade dos seus ouvintes. É essa capacidade que determina o modo como fala, as parábolas que utiliza, etc. O Seu objetivo não é simplesmente o de falar, o de anunciar, mas sim que que eles O entendam, que possam deixar-se fascinar pela Sua mensagem e que a possam viver.
3. Silêncio meditativo e diálogo
Jesus fala em parábolas para que O possamos entender, para que a Sua palavra seja acolhida no nosso coração e produza frutos na nossa vida.
* Estou aberto ao encontro com Ele, descobrindo a Sua bondade e o cuidado que tem por mim, estando recetivo à Sua palavra?
Em ambas as parábolas, Jesus utiliza a imagem da semente, num caso um grão de trigo, no outro um grão de mostarda. Ambos podem ser processados e consumidos de imediato, mas também podem ser enterrados para que venham a dar mais fruto.
* Estou pronto a prescindir de outras coisas que me dão prazer e satisfação mais imediata para investir tempo na relação com Ele, na escuta da Sua palavra e na atenção aos outros?
A primeira parábola revela-nos que o Reino de Deus é um dom. A ação é, sobretudo, de Deus. É Ele o protagonista, que toma a iniciativa e que a leva a termo. Ao mesmo tempo, sabemos que Deus nos convida a colaborar com Ele.
* Vivo numa atitude agradecida, com confiança e abandono n’Ele, ou vivo centrado em mim próprio, no que faço ou no que não consigo fazer, pensando, na prática, que tudo depende de mim? Sou consciente de que a obra é Sua e sou persistente ou deixo-me derrotar pelo desânimo e cansaço, esquecendo que é Ele o protagonista da história?
O minúsculo grão de mostarda cresce e torna-se numa planta que até pode abrigar as aves do céu.
* Anseio por grandes manifestações extraordinárias de Deus ou sou capaz de reconhecer os pequenos ‘milagres’ que Deus vai realizando nas coisas simples do dia a dia? Sou paciente comigo e com os outros, sabendo esperar e confiar?
A Eucaristia é a expressão mais clara do modo simples e silencioso de atuar de Deus.
* Deixo-me maravilhar pela simplicidade da Eucaristia, através da qual o próprio Senhor vem a mim e me alimenta? Reconheço o ‘Deus escondido’, presente na Eucaristia? Tento viver com essa mesma simplicidade para ajudar a que os outros reconheçam o Senhor?
4. Propósito e Oração final
– Ao longo desta semana, vou tentar viver com maior confiança em Deus, exercitando a paciência e procurando descobrir os pequenos ‘milagres’ que Ele vai realizando em mim e nos outros; ao final de cada dia, individualmente ou em família, tentarei agradecer por tudo isso.
– Pai Nosso