José Allamano nasceu em 1851, numa terra e numa família de santos: era seu tio S. José Cafasso, diretor espiritual de S. João Bosco, que foi, por sua vez, diretor espiritual do Allamano. Tinha boas “raízes”, portanto, o fundador dos Missionários da Consolata, falecido em 1926 e também ele beatificado, em 1990.
Nessas raízes, teve papel preponderante a mãe, católica convicta, pois o pequeno José ficara órfão de pai aos 3 anos de idade, com os seus cinco irmãos. Aos 15 anos entrou para o seminário, vencendo alguma resistência dos irmãos, e foi ordenado em 1873. Recebeu como missão ser professor no seminário de Turim e reitor do quase arruinado Santuário de Nossa Senhora da Consolata, padroeira da cidade, que viria a restaurar.
Anunciar a glória de Deus a todas as nações
A missão com que sonhara, no entanto, era outra. Ainda seminarista, ao assistir a uma conferência do cardeal Massaia, missionário na Etiópia, nasceu nele um profundo desejo de rumar às missões estrangeiras. Mas a sua frágil saúde não lhe permitia essa “aventura”. Uma broncopneumonia chegou a deixá-lo às portas da morte, mas também esse obstáculo seria vencido para fundar a obra que lhe ardia no coração: o Instituto Missionário da Consolata é aprovado pelo arcebispo de Turim em 29 de janeiro de 1901. Um ano depois, partem os primeiros quatro missionários para o Quénia.
Será a essa causa que se dedicará daí em diante, tornando-se um dos grandes missionários da história da Igreja, sem nunca ter saído da sua terra.
Carisma e missão
Tomando como lema a frase de Isaías “anunciarão a minha glória às nações” (66,19), José Allamano recomenda aos que envia: “Primeiro, quero-vos santos, depois missionários… E cheios de devoção ao Santíssimo Sacramento!… E quero-vos ‘consolatinos’, verdadeiros devotos de Nossa Senhora da Consolata”. Quanto ao trabalho concreto, a indicação: “Primeiro, tendes de formar bem o ser humano, para depois nele enxertardes Cristo”.
São atualmente cerca de mil os missionários da Consolata, 56 dos quais portugueses, em 26 países da África, América, Ásia e Europa. O seu carisma é a evangelização do mundo que Cristo entregou aos apóstolos e a animação espiritual e missionária do Povo de Deus.
Um dos meios que usam para esse fim é a comunicação social, como é o caso em Portugal da revista “Fátima Missionária”, também online em www.fatimamissionaria.pt.
Entrada em Portugal pelas Aparições de Fátima
Em 1943, chega a Fátima o padre João De Marchi, jovem missionário da Consolata. Em contacto com os familiares dos Pastorinhos, é profundamente tocado pela Mensagem das Aparições e ali funda, no ano seguinte, o primeiro seminário consolatino no nosso país. Será ele o autor de duas das primeiras obras de fundo sobre a Mensagem de Fátima: “Era Uma Senhora mais Brilhante que o Sol” e “Foi aos Pastorinhos que a Virgem Falou”.
É no edifício deste ex-seminário que uma comunidade de nove consolatinos faz atualmente o atendimento a peregrinos, colaborando ainda no serviço pastoral em diversas casas religiosas, nos lares de idosos de Vilar dos Prazeres e da Caranguejeira, no Santuário de Fátima e nas paróquias de Santa Catarina da Serra e de Nossa Senhora das Misericórdias – Ourém.
Além disso, a comunidade de Fátima realiza regularmente atividades de animação missionária, como retiros e encontros, promove iniciativas de apoio económico às missões e dinamiza o Museu de Arte Sacra e Etnologia, como espaço dinâmico de cultura e evangelização.
Testemunho vocacional
“Maquinista de comboios, o meu sonho de infância”
O padre Eugénio Butti é o superior da comunidade de Fátima há sete anos. Com 63 de idade e 42 de consagração, é natural de Valmadrera, diocese de Milão, em Itália. Pedimos-lhe uma partilha sobre a sua vocação à vida religiosa.
Quero iniciar o relato da minha experiência vocacional recordando um momento muito importante da minha infância e que reconheço estar na origem da minha vocação. No dia da Primeira Comunhão, depois de ter recebido Jesus Eucaristia, minha mãe sugeriu-me que fizesse esta oração: “Se quiseres, Jesus, podes chamar-me para ser um teu sacerdote”. Sem entender plenamente o sentido de tudo isso, mas em obediência à minha mãe, fiz com toda a sinceridade o pedido a Jesus.
E foi aos 16 anos, através de uma experiência rica e memorável com o grupo de adolescentes e jovens do Oratório da minha paróquia de origem, que aquele pedido foi atendido e a voz de Deus começou a falar alto no meu coração.
Durante uma semana de férias nas montanhas, fiquei fascinado pela beleza da criação que nos envolvia a todos, mas também pela beleza do espírito de fraternidade vivido no grupo. É a partir desta experiência de vida em grupo na paróquia, alimentada pela oração, sob a orientação espiritual do sacerdote que nos acompanhava, e também graças ao testemunho de um nosso conterrâneo e jovem sacerdote, missionário da Consolata que foi às missões de Roraima, Brasil, que foi delineando-se com cada vez mais clareza a minha vocação missionária.
Antes de ingressar no seminário dos Missionários da Consolata, de dia trabalhava numa fábrica de máquinas para padarias e, à noite, frequentava o curso profissional de desenhista mecânico. Dentro do meu coração, porém, a voz de Deus que me convidava a entregar-lhe totalmente a minha vida fazia-se sempre mais forte. Ajudado no meu discernimento espiritual pelo sacerdote que nos acompanhava na paróquia, mas também pela coragem de uma minha irmã mais velha que tomou a decisão de entrar num convento, cheguei à conclusão de que devia eu também decidir-me e dar a minha resposta ao Senhor que me chamava. Não foi fácil: devia renunciar à possibilidade de exercer a profissão de desenhista, mas também ao desejo de um dia tornar-me maquinista de comboios, que sempre, desde criança, se aninhava no meu coração.
A voz de Deus, porém, foi mais forte; com 18 anos de idade, ingressei no Instituto dos Missionários da Consolata. Terminados os anos da formação e dos estudos da filosofia e teologia, fui ordenado sacerdote na pequena paróquia de Vallo Torinese, perto da cidade de Turim e, seis meses após a ordenação sacerdotal, fui enviado para o Brasil, onde fiquei 30 anos inesquecíveis.
Resumi-los em poucas linhas, não me é fácil: 10 anos dedicando-me à formação de jovens seminaristas da Consolata, na região de Rio Grande do Sul e Paraná; 10 Anos na atividade pastoral direta, como pároco em São Paulo e Cascavel (Paraná); 10 anos ao serviço do Instituto como ecónomo da nossa província brasileira.
Do Brasil, voltei para a Europa, para Portugal, onde há 7 anos estou em Fátima como superior da comunidade dos Missionários da Consolata.
Foram 37 anos de vida missionária: vividos em diferentes latitudes e em contacto com diferentes realidades; alimentando, com o anúncio da Palavra e a oferta do Pão da Vida, muitas comunidades; vivendo muitos momentos de alegria, mas também passando por tempos de grandes desafios e provações; enxugando as lágrimas de muitos irmãos, mas também enriquecendo-me de muitos valores que eles me comunicavam com seu exemplo de fé e perseverança nas dificuldades.
Mas, acima de tudo, anos que me permitiram descobrir ainda mais a grandeza do amor de Deus e do imenso dom da fé em Jesus Cristo, que recebi no seio da minha família e da minha comunidade paroquial de origem.
P. Eugénio Butti, superior da Consolata de Fátima
Família Consolata
Como acontece com outras congregações, a Família da Consolata não se limita aos religiosos que dela fazem parte. Muitos leigos estão integrados em serviços de voluntariado missionário “ad gentes” e apoiam localmente as suas iniciativas, campanhas e trabalhos apostólicos, nomeadamente na pastoral juvenil e vocacional, vivendo o mesmo carisma inspirado pelo Espírito Santo ao Allamano.
Números…
…no mundo
Casas: 226
Membros: 978
…em Portugal
Casas: 8
Membros: 35
…na Diocese
Casas: 1
Membros: 6 padres e 3 irmãos leigos
Mais novo: 48 anos
Mais velho: 90 anos
Média de idades: 66 anos