É matemático: todos os anos, por esta altura, são às centenas que se juntam escuteiros de toda a Região de Leiria-Fátima para celebrar o aniversário seu fundador. Robert Baden-Powell — BP, para os amigos — nasceu em Londres no dia 22 de fevereiro de 1857, e é essa efeméride que se transforma num momento de festa e convívio um pouco por todo o globo.
Cá na Diocese, sob a coordenação do Agrupamento 1346 da Memória que completava 25 anos de existência, juntaram-se os restantes 33 agrupamentos da Região no passado domingo dia 24. O centro das operações foi o pavilhão desportivo das Colmeias, ali mesmo junto ao agrupamento de escolas.
À medida que os participantes iam chegando, o procedimento era simples: escuteiros para um lado, pais para outro. Tanto uns como outros teriam o seu espaço de participação durante o dia que, oficialmente, começou com a celebração eucarística presidida por D. António Marto. Uma mancha de quatro cores correspondentes a cada uma das quatro secções do escutismo, preenchia na totalidade o campo de jogos do pavilhão. Já os pais deles tinham direito a lugar sentado nas bancadas do recinto, com vista privilegiada para o que se passava lá em baixo. Bem, nem todos conseguiram sentar-se, já que a afluência era de tal forma numerosa que, fazendo contas de cabeça, seriam tantos os familiares quantos os dois milhares de escuteiros sentados lá em baixo.
Três orientações para a vida
A celebração da Missa foi o momento forte do dia. Com animação musical a condizer e cânticos próprios do movimento, o protagonista, como não podia deixar de ser, foi o Bispo diocesano. Durante a homilia, o Cardeal foi simples, direto e, por isso, não deixou por créditos alheios a atenção da assembleia. Começou com habitual saudação que o caracteriza — “amiguitos e amiguitas, é bom estar convosco como vosso irmão Bispo…” — e introduziu a três ideias mestras da sua preleção com uma pergunta: “o que é que BP pediu para fazerem?”. A resposta, já todos conheciam: “deixar o mundo um pouco melhor”.
D. António enumerou, então, três regras para, à maneira de Jesus, deixar o mundo melhor: “faz aos outros aquilo que queres que te façam a ti; não pagues o mal com o mal; faz o bem desinteressadamente”. Na prática, três regras que explicitam o mandamento cristão do amor em que, de acordo com o prelado, se manifesta “o respeito pela dignidade de cada um”. D. António chamou a atenção para a violência e para qual deve ser a resposta de um cristão. “O mal só se vence com o bem”, afirmou, acrescentando que “em cada um de nós há um instinto de vingança; no entanto, não se responde à violência com violência e à injustiça com injustiça”. Também indicou os destinatários preferenciais do bem que o cristão deve fazer desinteressadamente: “aqueles que não nos podem recompensar, os mais pobres, os mais necessitados”.
No final, o Bispo convidou a assembleia a rezar uma breve oração: “ó Jesus, dá-me a graça do teu grande amor para tornar o mundo melhor”.
As 25 velas do 1346
A atribuição da organização ao Agrupamento da Memória não foi por acaso, já que aquela agremiação de escuteiros completa este ano 25 anos de existência. Os dos seus dirigentes, a Tânia Ferreira justificava este momento a uma estação de televisão: “é muito importante pelas pessoas que nós temos e pelas que já tivemos, e é uma mensagem de futuro para as pessoas que possam vir”. Acrescentou ainda que, embora o agrupamento tenha 25 anos, apenas muito recentemente foi formalizada a sua adesão e atribuído um número. No entanto, foi acompanhando sempre todas a região e envolvendo-se nas actividades propostas.
O Agrupamento da Memória tem cerca de 60 elementos e para o chefe-adjunto do Agrupamento, Paulo Felizardo, “todos os dias devemos olhar para o legado de BP e deixar o mundo um pouco melhor”. Explicou que “o Dia de BP é, por natureza, a grande festa da Região de Leiria-Fátima, é o dia em que todos os escuteiros da Região, os seus pais e dirigentes vêm para fazermos um dia de festa”. O mesmo dirigente destacou a participação dos pais por serem fundamentais para a educação dos escuteiros. “O facto deles participarem nestas actividades faz com que vivam um pouco do escutismo”, acrescenta.
A integração dos pais na actividade
Após a celebração da Missa, a separação entre os escuteiros e os seus familiares continuou. Aqueles foram a vida deles, que é como quem diz, fizeram as actividades que lhes estavam destinadas, concretizadas numa bateria de jogos que envolviam lobitos, exploradores, pioneiros e caminheiros. Já os pais foram convidados a participarem num “rally-paper”, tendo respondido positivamente de forma massiva. Terão sido mais de cem viaturas correspondentes a outras tantas equipas a resolver um percurso com questões originais acerca das freguesias — Colmeias e Memória — que os acolhiam. Naquela tarde de domingo, os habitantes de vários lugares estranharam as movimentações inusitadas que se verificaram em vários pontos das diversas localidades. Porém, de acordo com diversos testemunhos de participantes, os naturais foram de uma simpatia bem generosa e ajudaram os participantes a responder ao questionário entregue e a conhecer ainda melhor alguns aspectos histórico-geográficos da zona.
Um dos pais, que também é dirigente, sente que o escutismo é uma referência para os jovens. Cada vez mais, os jovens “precisam de ter quem os ajude a viver em sociedade, e o escutismo é aprender a viver em sociedade, respeitando a natureza, ajudando-se uns aos outros”. Para ele, são os pais que ajudam a manter os agrupamentos vivos e, por outro lado “há agrupamentos que têm dificuldades porque os pais deixaram de participar”.