No dia 13 de novembro, o Colégio de Nossa Senhora de Fátima celebrou os 95 anos da sua existência, numa cerimónia plena de emoção e nostalgia, mas, também, de esperança no futuro. Ao longo da manhã, a comunidade educativa teve a oportunidade de assistir à bênção do ginásio requalificado, por parte do padre Gonçalo Diniz, que presidiu, também, à Celebração da Palavra. Foram, sem dúvida, momentos inesquecíveis, em que foi possível recordar os primórdios desta instituição de ensino, que, com o esforço de todos os profissionais, alunos e pais que por ali têm passado, se tornou a escola de referência que é hoje.
Para quem participou neste momento, não foi fácil esconder a emoção de ver 502 crianças e jovens, do pré-escolar ao 9º ano, reunidas, no mesmo espaço, a comungar do sentimento de união e de pertença que os liga à sua escola. Enche-nos de esperança perceber que, do íntimo de cada um dos que participaram neste momento, brotam estas manifestações de fé e que é possível, nos dias de hoje, a escola continuar a ser um contexto privilegiado de evangelização. Parabéns ao Colégio!
Memória das Crónicas do Colégio
Assim começou o Colégio Nossa Senhora de Fátima
Era o dia 12 de outubro de 1924, 2 horas da tarde.
De Coimbra saíam, de comboio, 3 Irmãs Dominicanas: M. Amada, Maria de Jesus e Escolástica. Iam rumo a Leiria para ali fundarem uma Escola. Ao entrarem no Comboio deram com 2 Irmãs que se dirigiam a Fátima.
Esta Fundação tinha sido pedida à Madre Geral das Irmãs Dominicanas Me. M. José Soares de Albergaria por D. José Alves Correia da Silva, Bispo de Leiria.
Porquê? Porque o Ensino, a Educação andavam muito degradados no País. As Escolas rareavam e havia casos em que o nº de Professores e Funcionários era muito superior ao nº de Alunos.
Saídas de Coimbra às 2 da tarde, chegaram as Irmãs à estação de Leiria, às 7. Aí, grande confusão para conseguir transporte até casa. Diz a Crónica: “…tivemos que ir num carro que prometia levar-nos as malas e a quem o dono dava o nome de Galera.
Todas introduzidas e agarradas na Galera que não tinha nada para nos amparar nas costas, apenas com duas malas, lá fomos para Leiria.
A noite estava linda e a lua nos acompanhava mostrando-nos, à sua luz suave, a bonita estrada que atravessávamos e o Castelo que, de longe, apenas distinguíamos.
A Galera corria e, a cada momento, nos imaginávamos no chão, mas depois de uma paragem, acenderam um toco de uma vela dentro de um cartucho de papel, lá chegámos a uma praça onde nos esperavam a Me. Amada e o seu mano (tinham ido à frente). Tínhamos já um quarto alugado em casa de uma senhora D. Teresa Nogueira para onde íamos ficar, mas também já tinham mandado dizer que a Casa para o Patronato já nos esperava. E nesse caso ficava mais fácil levar já as malas para lá. E como havia tantos peregrinos, talvez já lá pudéssemos ficar.
A dita casa do Patronato pertencia ao Sr. D. José, Bispo de Leiria. Ele não estava, tinha saído por causa da morte de um cunhado, mas na esperança de que teria deixado algumas ordens à Me. Amada e ao mano. Foram ao Paço, ficando nós a um canto da Praça, sentadas nas malas; de vez em quando olhávamos a ver se os descobríamos, mas foi depois de passado um bom bocado, que voltaram.
A Ir. M. Amada disse que no Paço não encontraram ninguém. Foi à Sé, aí conseguiu, com grande custo, falar com o Sr. Secretário Rev. Pe. Augusto Maria que lhe disse que lhe podia dar a chave mas que a casa precisava de muitos arranjos. Com estas notícias ficamos um pouco tristes e, no dia 13 lá fomos a Fátima, aí pedimos a Nossa Senhora por esta casa que devia ser a Sua. Voltamos à noite para a casa da Sra. Inácia…..
No dia 15, voltamos a casa do Sr. Bispo, íamos com imenso desejo que nos desse a Chave e a Me. Amada perguntou-lhe quando é que poderíamos ir, disse-nos que quando quiséssemos, que a casa era nossa. As Irmãs queriam ir nesse dia por ser dia de Sta. Teresa mas era já tarde e não tínhamos tempo de fazer as camas, e resolvemos ir então no dia 16….
No dia 16 fomos outra vez a casa do Sr. Bispo. Sempre amável lembrando-se de tudo o que nós poderíamos precisar, deu-nos uma bênção particular e com ela lá fomos para a nossa casa.
Entramos às 3 da tarde do dia 16 de outubro de 1924.
Nesta tarde não fizemos mais que arranjar camas para todas, e à noite com bastante medo, fomos todas três de luz na mão fechar as inumeráveis portas que a casa contém.
Estes dias que se seguiram…. Comíamos sentadas no chão, com uma cadeira por mesa, umas grandes colheres de pau que a Ir. Escolástica comprou, fomos limpando tudo, o que nos não deu pouco que fazer….
Íamos fazendo progresso…
…no oitavo dia depois de chegarmos, tivemos pela primeira vez café que nos pareceu delicioso. …
No dia 22 o Sr. Bispo mandou-nos também 36$00 (0,15€) que recebeu da renda de uma casa e que nos presenteava com eles.
Dia 23 a Me. Amada saiu à procura de camas para as Irmãs, mas voltou sem encontrar nada.
Dia 24 saiu a Me. Amada, comprou três lavatórios e dois baldes. O jantar neste dia das Irmãs foi feito na véspera, comeu-se quatro vezes do mesmo arroz e para se poupar a lenha faz-se chá ao meio dia guarda-se numa garrafa bem agasalhado para se tomar às 5.
De noite tinham medo … – e continua vindo dormir cá, o criado do Seminário que nos disse que o Sr. Bispo lhe recomendou olhasse por esta casa com o mesmo zelo que olha pelo Seminário que veja se precisam lenha ou outra coisa qualquer para trazer para cá…
Dia 27 vieram quatro operários caiar a casa. Ir. M. Amada recebeu 100$00 para a nossa Capelinha da Sra. D. Londrina Carqueja…
No dia 30 chegou aqui a nossa Rev. Madre Geral trazendo com ela uma Mestra para o Colégio, sendo esta uma Senhora já conhecida, D. M. Luisa Lezameta… Chegaram pelas 8 h da noite com grande alegria nossa. Depois da ceia que foi servida apenas com os 6 pratos e as 6 colheres que tínhamos a nossa Madre ainda foi ver a casa que estava em desordem por causa das obras…
No dia 2 de novembro foi a nossa Madre Geral ao Paço falar com o Sr. Bispo.
No dia 4 veio a Ir. Conceição com uma cunhada que nos trouxe … um saco de castanhas, pão de milho, fruta,… Nesse dia, à ceia, a nossa querida Madre Geral comeu maçã assada com um garfo de ferro porque não tínhamos outra coisa; facas havia 2, de maneira que esperávamos umas pelas outras para descascar as maçãs. Estas tinham-nos sido dadas pelo Sr. Bispo.
No dia 7 foi a abertura do Patronato., 1ª sexta feira do mês de novembro deste ano de 1924.
Vieram 3 meninas, sendo estas a
1ª Maria Gabriela Banazol,
2ª Maria Ermelinda Vieira dos Reis,
3ª Florinda Carreira Poças.
Veio também uma menina já crescida para Francês e Inglês.
À noite deste dia 7 chegaram a Madre M. Margarida com a Ir. Maria Celeste trazendo as últimas malas destinadas a esta casa. Também neste dia chegaram 5 camas que a nossa Madre Geral comprou em Coimbra, sendo logo armadas algumas para as Irmãs dormirem, tendo dormido até agora no chão e uma com os colchões em cima de 6 cadeiras.
Neste mesmo dia 7 saiu a nossa Madre Geral a compras e comprou pano para toalhas das mesas do refeitório das meninas e do nosso, pratos, alguns d’esmalte para as Irmãs, uma terrina, um faqueiro, uma concha, um ferro d’engomar e 2 copos, os primeiros que vieram, tendo até agora bebido a água e o Café em canecas, enquanto saímos trouxeram para casa as duas mesas para o nosso refeitório, e pela manhã tinha vindo uma para a cozinha, onde temos comido
No dia 8 vieram as 3 meninas e a Mestra que já também veio é uma senhora d’aqui de Leiria, a quem o Sr. Bispo já tinha falado, D. Trindade.
A mana da Ir. M. da Conceição continua ainda aqui fazendo algumas roupas que estavam para fazer, com uma máquina emprestada da Sra. D. Inácia.
Dia 9. Neste dia houve uma grande consolação entre as Irmãs; rezamos pela 1ª vez o Ofício em coro, Vésperas , depois d’estas foi a nomeação de Prioreza da Me. M. Amada, a nossa querida Madre Geral fez uma exortação às Irmãs, animando-as a santificarem-se cada vez mais, pedindo desde já o silêncio que tendo-o temos tudo.
Dia 15 veio o Sr. Bispo com o seu Secretário benzer a casa…”
Irmã Maria Manuela dos Anjos