“Uma janela de esperança” é o mote da Angelus TV, operadora de televisão que começou a emitir em maio deste ano, com sede em Fátima. Mas também as palavras “alegria”, “evangelização” e, claro, “Igreja” são frequentes no discurso de Sandra Dias, diretora da TV e detentora da empresa com o marido, Joaquim Dias. Sonharam e construíram o projeto que está a surpreendê-los pela positiva e onde há gato…
Pode ser visto na posição 187 da NOS e da MEO e prevê-se que entre na grelha da Vodafone a partir de setembro, embora com outro número de canal, marcando assim presença nas três grandes distribuidoras do sinal de televisão por cabo. Para todo o mundo, está em www.angelustv.pt.
Luís Miguel Ferraz
Desde o início de maio, Portugal tem uma nova operadora de televisão que se apresenta como “uma janela de esperança” e dá pelo nome de Angelus TV. Com sede em Fátima, anuncia claramente a intenção de “evangelizar através da imagem, mostrando uma Igreja que está viva, cheia de alegria e de bons valores a transmitir ao mundo”. As palavras são de Sandra Dias, diretora do canal, que traz a experiência de uma década a trabalhar na TV Canção Nova em Portugal, oito dos quais também como diretora.
Todas as grandes obras começam com um pequeno sonho, e assim foi também neste caso. Enquanto diretora do canal ligado à Comunidade Canção Nova, a que pertence, Sandra Dias foi alimentando o desejo de “mostrar a riqueza da Igreja em Portugal, nos seus múltiplos serviços, grupos, movimentos, comunidades e pessoas que são o rosto vivo e alegre de Deus na história do homem”. Desenhou um projeto nesse sentido, mas o carisma específico da Comunidade e do canal em que trabalhava não era facilmente conciliável com esse objetivo. Ficava apenas o sonho…
Mas os grandes sonhos estão fadados a não morrer. Neste caso, à medida que ia partilhando a ideia com outras pessoas, entre as quais vários padres e bispos, ia também recebendo incentivos a desenvolvê-la. Aos poucos, com a ajuda de pessoas que conhecia no mundo da produção e direção televisiva, foi encontrando pistas para a concretização do projeto. Fundamental no processo foi a sua família, em especial o marido, Joaquim Dias, também ele ligado à Comunidade e aos media da Canção Nova, que com ela embarcou desde o início nesta aventura. Na conversa que tiveram com o PRESENTE, era evidente a cumplicidade e sintonia de ideias que foi o segredo para a decisão de passar do sonho à realidade.
Passo a passo
Como todas as grandes obras, é “com passos certos e pequeninos” que se cresce. A receita foi-lhes dada por D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, uma das primeiras pessoas que consultaram. “Tínhamos muito receio e fomos à espera que nos aconselhasse a desistir desta loucura, mas disse-nos que achava muito bem e isso deixou-nos desarmados e com menos desculpas para não avançar”, recorda Joaquim Dias com um sorriso aberto. Também a promessa de apoio logístico e pessoal por parte do Santuário de Fátima e de vários padres e bispos foi determinante para que, durante quatro anos, fossem amadurecendo a ideia e desenhando o programa a desenvolver.
Como é natural, o dinheiro é uma componente essencial e é preciso muito para pôr uma televisão a andar. Concorreram ao financiamento comunitário do programa Portugal 2020, pedindo cerca de meio milhão de euros e tiveram resposta positiva, embora em apenas cerca de 200 mil euros. Apostaram tudo, encontraram outros parceiros, e tomaram a decisão de criar esta Angelus TV, na qual já estão investidos mais de 800 mil euros. “O desafio agora é encontrar financiamento privado, sobretudo em receitas de publicidade, que estão muito dependentes das audiências que formos angariando”, confessam os donos da empresa.
Tão ou mais importante do que o dinheiro é o fator humano, as pessoas que dão rosto e corpo ao projeto. Também aqui valeram os conhecimentos na área, em especial alguns antigos colegas de trabalho, bem como os jovens bem qualificados que saem dos cursos de multimédia na região, nomeadamente, nos institutos politécnicos de Leiria e de Tomar, com os quais estão a estabelecer parcerias. “Fomos formando a equipa com a indicação clara da aventura que seria e da necessidade de ‘vestir a camisola’, e encontrámos pessoas muito boas e com o espírito necessário para criar uma verdadeira família”, refere Sandra Dias.
Na visita às instalações, um edifício arrendado na estrada da Batalha, logo à entrada de Fátima, junto à ponte sobre a autoestrada, confirmamos isso mesmo. O amarelo forte e um grande letreiro identificam o espaço que, num interior de amplas divisões, transborda luz e bom acolhimento. Desde a receção à cozinha, passando por jornalistas, animadores e técnicos, o sorriso é imagem de marca e respira-se um ambiente familiar em que nem falta o gato “Angelus”, mascote que se passeia livremente pelos espaços que sabe serem-lhe permitidos.
“Somos 23, quando devíamos ser o dobro, fazemos alguns sacrifícios em horas e férias, mas sabemos que só trabalhando com esta dedicação à causa que abraçámos em comum poderemos vir a crescer”, diz a diretora da TV, repetindo o conselho dos “passos pequeninos” dado pelo Bispo diocesano.
O que se vê
Outro conselho dado por D. António Marto foi que não fosse uma televisão “de sacristia” ou apenas “devocional”, mas que “apostasse na formação humana e cristã das pessoas, com ligação à nossa cultura, sempre com qualidade e que falasse de coração a coração aos telespectadores”.
Esses princípios estiveram presentes no momento de definir uma grelha de programação. “É outro ponto fundamental, pois para as pessoas é isso a televisão, não os bastidores e os estúdios, mas o que vêem em suas casas”, considera Sandra Dias. E esta televisão é, assim, feita de momentos de oração e de transmissão de celebrações, tendo como principais âncoras a Missa diária e o Terço das 21h30, a partir do Santuário de Fátima. Mas é muito mais uma televisão de programas formativos de exposição, debate e reflexão sobre a fé, a vida e o mundo, de informação sob o prisma da atualidade e da esperança, de entretenimento, música e espaço infantil, e até de bricolage, saúde e culinária, pois “os cristãos vivem todas essas realidades em sociedade, com e como todos os outros, e também aí vivem e dão testemunho da sua fé”.
A maioria da produção é local, nalguns casos em parceria com produtoras, agências e instituições nacionais e internacionais. Alguns desses parceiros encontram aqui também uma oportunidade para levarem ao público a sua ação, como é o caso da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, da Editora Paulus, do Santuário e do Movimento da Mensagem de Fátima ou da Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, entre outros.
Tudo isto pode ser visto, para já, no canal 187 da NOS e da MEO distribuído por cabo, bem como no sítio www.angelustv.pt onde há transmissão em direto e a possibilidade de aceder ao arquivo de programas e a outros conteúdos formativos e informativos. Entretanto, há previsão de entrada na distribuidora Vodafone em setembro, em canal ainda a definir, e estão a ser negociadas outras formas de emissão, nomeadamente, por satélite.
Futuro promissor
“Temos grandes expectativas na expansão da Angelus TV, não apenas por acreditarmos no projeto, mas também pela resposta que estamos a ter por parte das pessoas”, confessam Sandra e Joaquim Dias. Os primeiros dados audiométricos apontam para uma média de 18.000 visualizações diárias, duplicando nas transmissões celebrativas de maior importância. E o público situa-se maioritariamente na faixa dos 25-64 anos, apanhando a faixa mais ativa da população. “São números que nos alegram e surpreendem até as operadoras, pois em poucos meses superam os de alguns canais presentes no cabo há anos”, refere o casal.
Tendo iniciado as emissões a 2 de maio, tiveram de imediato como prova de fogo a visita do Papa Francisco ao Santuário de Fátima, que obrigou a TV Angelus a mostrar do que era capaz. “E estivemos à altura da situação, como demonstram as 70 mil pessoas que seguiram por nós a celebração, o que nos permitiu avaliar capacidades e potencialidades”.
Nesta linha, esperam vir a crescer também na área de atuação. “Para já, estamos algo limitados à Diocese de Leiria-Fátima, mas esperamos conseguir meios materiais e humanos para um âmbito nacional”, dizem os empreendedores, adiantando a preparação de uma “mostra” de todas as paróquias de Portugal e a confiança num público interessado no conhecimento de áreas da religião como a história, a cultura e o turismo.
Por isso insistem que, apesar de estar aqui situada, “não é uma televisão de Fátima, mas de toda a Igreja e para toda a Igreja”. E assumem-no sem medo, convictos de que “a evangelização feita por leigos também é da Igreja, não apenas a dos padres”.
Não dissemos o óbvio: presença constante na conversa foi Deus e a sua ação no mundo e também neste projeto. É nessa fé que baseiam a sua confiança e querem alimentar todos os colaboradores. A capela, logo na zona de entrada, simboliza esse ponto de partida e local de união diária da equipa. Todos reforçam aí a consciência de uma missão comum, ao serviço do Evangelho, praticada depois em cada função específica.
Até a do gato “Angelus”, empenhado em exigir todos os mimos a que uma verdadeira mascote tem direito.
Porquê “Angelus TV”?
Não era para ser. As primeiras opções seriam “Igreja TV” ou “TV Católica”, mas ao tentar o registo, eram marcas já detidas. Sandra Dias conta que, “em reunião de equipa, surgiu a palavra ‘anjo’, mas não soava bem à maioria; até que a atual diretora de produção sugeriu ‘Angelus’ e… recebeu o acolhimento imediato de todos”.
Agora, a curiosidade: o logótipo parece ter sido desenhado para corresponder ao nome, mas a verdade é que já existia antes. Desenhado pela própria diretora da TV, “surgiu a partir da imagem do mensageiro, que tantas vezes surge na Sagrada Escritura e também aqui na Mensagem de Fátima, pois queríamos assumir-nos como mensageiros da esperança”. O nome acabou por assentar tão bem que “só pode ter sido inspiração de Deus”, considera Sandra Dias.
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