O Museu de Leiria recebeu a apresentação do livro “A Lista do Padre Carreira”, do jornalista António Marujo, na passada sexta-feira, 24 de junho.
Muitas pessoas, entre familiares, conterrâneos e admiradores acorreram para conhecer e homenagear o homem que, nos anos 1943-1944, em Roma, no Pontifício Colégio Português, acolheu e salvou pelo menos quatro dezenas de refugiados antifascistas e alguns judeus. Na sessão participaram também o Vice-presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, e o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto.
Padre leiriense indicado como exemplo
para acolher refugiados hoje
Coube a Joaquim Ruivo, diretor do Mosteiro da Batalha e conterrâneo do biografado, a apresentação da obra. Com recurso a um filme, enquadrou a ação do Padre Joaquim Carreira no período da II guerra mundial, quando alastravam por vários países os horrores do regime nazi, que prendia e executava opositores e especialmente os judeus. Referiu que a investigação do jornalista permite conhecer o trabalho silencioso de membros e instituições da Igreja católica, em Roma, no apoio aos refugiados daquela época. Concluiu dizendo que a ação humanitária de homens como o padre Carreira impele-nos a imitá-lo e a ter confiança: “Mesmo depois de Auschwitz, é possível ter fé e fazer poesia”.
O sobrinho do homenageado, padre João Mónico, autor de uma biografia do tio, falou brevemente da sua vida, da ação caritativa e da amizade com os judeus. Sublinhou que é preciso continuar a dar a conhecer “este homem bom”.
O jornalista António Marujo contou a história da investigação que o levou à descoberta da lista onde o Padre Carreira registou o nome dos refugiados acolhidos no Colégio Português, num relatório sobre a atividade da instituição no ano letivo 1943-44. Foi a partir dele e dos nomes de judeus nela mencionados que se tornou possível a atribuição do título “Justo entre as nações” ao Padre Carreira por parte do Museu do Holocausto, de Jerusalém, e agora a publicação desta obra. Os cinco capítulos do livro contam a obra do antigo reitor do Colégio Português, a sua biografia, a ação de Pio XII perante a perseguição aos judeus e a relação entre cristãos e judeus ao longo da história. Os três apêndices são constituídos pelo relatório mencionado, uma cronologia breve e a referência aos outros “justos entre as nações” portugueses, Aristides de Sousa Mendes, Sampaio Garrido e o casal José Brito Mendes e Marie Louise Brito Mendes, que salvaram judeus da perseguição nazi.
António Marujo realçou que, ao escrever no seu relatório “concedi asilo e hospitalidade a pessoas que eram perseguidas na base de leis injustas e desumanas”, o Padre Joaquim Carreira entendeu bem o essencial do cristianismo: perante uma necessidade urgente de pessoas em sofrimento, não se pergunta pelo seu bilhete de identidade nem pelas suas ideias, mas ajudam-se. E atualizou com o dramático e trágico fenómeno dos refugiados que batem à porta dos países europeus, vindos de África ou do Médio Oriente. Como o Padre Carreira correu riscos para salvar vidas humanas, assim é preciso fazer hoje sem demora.
O Padre Joaquim Carreira é natural da Caranguejeira, onde nasceu em 1908. Foi professor do Seminário de Leiria, capelão da Boa Vista, reitor do Colégio Português em Roma e conselheiro da Embaixada Portuguesa junto da Santa Sé. Faleceu em Roma em 1981. Em 2014, foi distinguido como “justo entre as nações” pelo Memorial do Holocausto, de Jerusalém.
“Uma figura que honra a diocese e o país”,
disse D. António Marto
Convidado a intervir na sessão, o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, manifestou a sua congratulação ao autor pela lista encontrada, pelo testemunho das pessoas salvas e pela obra que escreveu, dando a conhecer a ação heróica do Padre Carreira. Referiu que ele é uma figura de dimensão mundial, ao lado de outras que fizeram ações humanitárias semelhantes como Aristides de Sousa Mendes, Oskar Schindler… Ele honra a família, o concelho, o presbitério de Leiria, a diocese e o país. Disse que conhecera o Padre Carreira em Roma, definindo-o como uma “pessoa boa e afável”. Terminou afirmando: “Gostaria que nos sintamos à altura do seu testemunho humanitário e evangélico. Sejamos também nós, hoje, testemunhas de acolhimento e de diálogo inter-religioso, lançando pontes na relação e convivência com os outros”.