A celebração da Missa Crismal: um renovado compromisso com o serviço do Evangelho

A Missa Crismal é, por natureza, a celebração que recorda a instituição do ministério ordenado e tem um caráter particularmente litúrgico e simbólico.

No dia 17 de abril de 2025, quinta-feira santa, a Catedral de Leiria foi o lugar habitual da celebração marcante e simbólica para a Diocese de Leiria-Fátima: a Missa Crismal. Presidida pelo bispo diocesano, D. José Ornelas, esta celebração, que antecede o início do Tríduo Pascal, é um momento de renovação e de ação de graças pela vida sacerdotal e pelos sacramentos que sustentam a Igreja.

Com o início da celebração às 11h00, a catedral reuniu, além do bispo, 90 presbíteros, entre diocesanos e religiosos que colaboram pastoralmente na Diocese. O restante do templo encheu-se de fiéis que quiseram participar no momento em que a Igreja de Leiria-Fátima renovou a sua fé, a sua missão e a sua união, celebrando a vida sacerdotal e os sinais que marcam a vivência do Evangelho.

A Missa Crismal: um memorial da instituição do ministério ordenado

A Missa Crismal é, por natureza, a celebração que recorda a instituição do ministério ordenado e tem um caráter particularmente litúrgico e simbólico. Realiza-se na manhã de Quinta-feira Santa e tem como um dos seus principais rituais a bênção dos óleos sagrados, utilizados ao longo do ano nas celebrações sacramentais. Durante este gesto, o bispo abençoa o óleo dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma, um símbolo da força do Espírito Santo.

Para além disso, a Missa Crismal oferece aos ministros ordenados um momento privilegiado para renovar as promessas feitas no dia da sua ordenação. Este gesto de renovação, realizado na presença dos seus irmãos sacerdotes, é um momento de reafirmação do compromisso com o serviço ao povo de Deus, um ato de consagração pessoal e de afirmação da missão pastoral. É também uma oportunidade para recordar aqueles que, ao longo do ano, celebraram aniversários significativos de ordenação e para rezar por aqueles que partiram, deixando um legado de serviço à Igreja.

Em Leiria, a celebração de 2025 recordou os sacerdotes falecidos entre setembro de 2024 e março de 2025: os padres Manuel Gonçalves Janeiro, Ramiro Pereira Portela, David Pedrosa Gaspar, João Vieira Trindade e António Lopes de Sousa. O seu legado foi lembrado com carinho e gratidão, um reconhecimento da sua dedicação incondicional à Igreja.

O chamamento para a renovação

A introdução de D. José Ornelas na Missa Crismal foi um momento de acolhimento e de reflexão sobre o significado da celebração. O bispo, em palavras simples e com a profundidade característica de quem vive a missão sacerdotal, lembrou a importância desta jornada de fé que une a comunidade diocesana. “Hoje, desejamos ardentemente celebrar esta Páscoa convosco”, disse, referindo-se à profundidade do Mistério Pascal e à renovação constante do compromisso com a Igreja. Com uma saudação especial aos bispos que o antecederam na Diocese, D. José fez questão de recordar os sacerdotes jubilares e de partilhar o sentimento de comunhão com todos os presentes.

Nas palavras introdutórias da celebração lembrou que, como discípulos de Cristo, a Igreja é constituída por pessoas imperfeitas, mas que são chamadas a servir e a dar vida ao Evangelho. A Missa Crismal, mais do que um simples rito litúrgico, é um memorial que põe em prática essa vivência do Evangelho na vida quotidiana, na celebração dos sacramentos e no compromisso com a fraternidade.

O serviço e a conversão das relações

Na homilia, D. José Ornelas convidou todos os presentes a refletirem sobre os sinais do dia. A Quinta-feira Santa, que marca o início do Tríduo Pascal, é, no seu cerne, um convite à renovação das relações. “A conversão pastoral a que somos chamados é, antes de mais, uma conversão das relações”, sublinhou o bispo, reforçando a necessidade de vivermos de acordo com os ensinamentos de Jesus, que nos chamou para a humildade, o acolhimento e o serviço. A lavagem dos pés, gesto de acolhimento e ternura, foi evocada como o sinal central da renovação das relações dentro da Igreja. A Eucaristia, coração da celebração do dia, foi lembrada como o lugar onde se manifesta a unidade da Igreja, que se reúne ao redor do altar e do Pão partido.

D. José referiu, ainda, que a Missa Crismal é o momento em que os sacerdotes renovam o compromisso com o serviço ao povo de Deus. Este compromisso, tal como o Evangelho, não depende da perfeição humana, mas da disponibilidade e humildade para acolher e servir, como o próprio Cristo o fez. O óleo abençoado na Missa, seja o óleo dos catecúmenos, o óleo dos enfermos ou o crisma, foi visto como o sinal da presença e ação do Espírito Santo, que fortalece a Igreja e os seus membros na missão de anunciar o Evangelho.

O sentido da Missa Crismal na vivência do Tríduo Pascal

No contexto do Tríduo Pascal, a Missa Crismal tem um significado que se estende para lá da celebração. Este momento litúrgico não é apenas um rito separado, mas faz parte de uma grande celebração da Páscoa, que, como a liturgia nos recorda, é a passagem de Cristo da morte para a vida. A celebração da Missa Crismal prepara o coração da Igreja para a reflexão e a vivência dos mistérios que serão celebrados na tarde da Quinta-feira Santa, com a Ceia do Senhor, e durante a Sexta-feira Santa, com a Páscoa da ressurreição.

O simbolismo dos óleos abençoados na Missa Crismal repete-se nas ações sacramentais da Igreja ao longo do ano. O óleo dos catecúmenos, utilizado no batismo, é um sinal da purificação e da preparação para a vida cristã. O óleo dos enfermos, sacramento que traz conforto e cura, testemunha a proximidade da Igreja com aqueles que sofrem. O crisma, que é usado na confirmação e na ordenação, é o sinal da consagração ao serviço do Evangelho e da força do Espírito Santo na missão da Igreja.

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Um compromisso renovado

A Eucaristia, presidida por D. José Ornelas, foi mais do que uma simples celebração litúrgica. Foi um convite a todos os presentes para uma renovação da sua fé, do seu compromisso com a missão da Igreja e da sua disponibilidade para viver o Evangelho no serviço aos outros. Num ambiente de comunhão e gratidão, o bispo e os sacerdotes renovaram as suas promessas sacerdotais, enquanto os fiéis presentes se uniram na oração e na ação de graças, sentindo-se parte integrante do mistério pascal e da missão da Igreja.

Na sé de Leiria, a celebração da Missa Crismal revelou também a profundidade do serviço sacerdotal e o chamamento à transformação da vida e das relações humanas à luz do Evangelho. A Igreja de Leiria-Fátima, unida no Espírito, renovou o seu compromisso de ser testemunha da esperança, da cura e do amor que Cristo nos trouxe.

Homilia: transcrição integral

Irmãs e irmãos,

nesta manhã de Quinta-feira Santa, reunimo-nos na igreja-mãe da nossa Diocese de Leiria-Fátima para dar início ao Tríduo Pascal, que celebra e actualiza os acontecimentos principais e fundadores da nossa fé, baseada na vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus.

Gostaria de chamar a atenção para os sinais deste dia especial: sinais que marcam tanto esta celebração da manhã como a celebração da tarde, a Ceia do Senhor. Jesus preparou com cuidado este dia e esta festa para celebrar a Páscoa — a Páscoa da tradição, a Páscoa de sempre — mas fá-lo de modo novo. Como escutámos no Evangelho, Ele diz: “Hoje cumpre-se esta palavra”, revelando que o que antes estava apenas anunciado agora se realiza.

Jesus não prepara esta festa sozinho: preparou-a ao longo de anos com os seus discípulos. Ensinou-lhes os mistérios de Deus, mas eles ainda não tinham compreendido tudo. Por isso, Ele afirma: “Desejei ardentemente celebrar esta Páscoa convosco”. E isso continua a dizer-nos sempre que nos reunimos como hoje: desejou ardentemente estar connosco nesta Páscoa, porque nós somos a sua Igreja nesta diocese de Leiria-Fátima. Somos aqueles e aquelas que dão vida a esta Igreja, e também hoje, para nós, realiza-se este acto renovado da fé.

É importante reconhecer que os discípulos não tinham compreendido — tal como nós também ainda não compreendemos plenamente. No caminho sinodal iniciado há quatro anos, a que o Papa Francisco chamou toda a Igreja, e no caminho de conversão pastoral que procuramos realizar na nossa diocese, há sempre um “hoje” que precisamos de renovar.

Jesus age com pessoas que não sabem tudo, que não são perfeitas, mas com quem Ele conta para o serviço do Evangelho. Mesmo os discípulos que queriam ser as “colunas” da Igreja não acertaram sempre — era importante que percebessem que este mistério não nasce deles, mas que são apenas intérpretes do que receberam, procurando, com a força do Espírito, torná-lo vida e actualidade para a Igreja.

Jesus conta com pessoas frágeis e pecadoras. Senta-se à mesa com elas, pois veio como médico para os doentes. É precisamente naqueles que fizeram a experiência da cura que se revela o Evangelho: eles tornam-se anunciadores de uma novidade de vida. Da resposta a este dom gratuito de Jesus, e da renovação das relações que Ele estabelece, nasce a Igreja.

A Igreja compreende-se à luz de um sinal essencial: a lavagem dos pés. É o primeiro grande sinal deste dia. O lava-pés é um gesto que, no tempo de Jesus, se opunha à exclusão, à prepotência, ao desprezo. Era um gesto de acolhimento, gratidão, ternura. Jesus já o aceitara antes — em casa de Lázaro, da parte de Maria, a quem tinha resgatado de uma vida sem dignidade. Ela lavara os seus pés com lágrimas e enxugara-os com os cabelos. Escândalo para muitos, mas antecipação do gesto que o próprio Jesus faria.

Este é o novo modo de viver gerado pelo Evangelho: acolhimento, afecto, serviço. Para todos os discípulos, e especialmente para os ministros ordenados, esta atitude deve marcar o nosso estilo de vida. “Se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, assim como Eu fiz, façais também vós.”

No caminho sinodal, a conversão pastoral a que somos chamados é, antes de mais, uma conversão das relações. Relações novas, fundadas no baptismo que nos faz irmãos e irmãs, servos uns dos outros.

O segundo sinal desta Quinta-feira Santa é a Eucaristia, tema central do dia. A Eucaristia resume a vida, morte, ressurreição e presença de Jesus entre nós. Celebra-se na tradição da festa pascal, mas recebe novo sentido nos gestos e nas palavras de Jesus. Ele parte o pão e reparte-o como fez nas multiplicações, mas agora deixa-nos um pão novo — o seu Corpo — que vai além do que podemos dar, e que nos confia como missão.

Nós, ministros, não somos os donos do pão: somos voz emprestada por Jesus para que Ele continue a dizer: “Isto é o meu corpo”. Ao dizermos estas palavras, referimo-nos a Ele, mas também afirmamos a nossa disponibilidade para nos tornarmos pão partido pelos irmãos, na palavra, no gesto, no acolhimento.

A conversão pastoral da nossa diocese deve brotar da vida eucarística, especialmente daqueles que presidem à Eucaristia, mas envolvendo toda a comunidade. Celebramos juntos, e é isso que hoje nos reúne.

Outro sinal é a oração de Jesus pela unidade: “Pai, que todos sejam um”. Esta oração liga-nos ao Pai e uns aos outros. À volta do altar, hoje reunimo-nos como Igreja — santa e pecadora — animada pelo mesmo Espírito, a celebrar a vida e a presença de Deus. E esta unidade forja-se à volta da Eucaristia, como filhos e filhas do mesmo Pai.

Finalmente, nesta manhã, um sinal especial: o óleo. É este sinal que marca toda a celebração da manhã e dá sentido ao nosso ministério e serviço. É abençoado pelo bispo, rodeado pelos presbíteros e pelo povo, como sinal da comunhão da Igreja. Este óleo, com o qual fomos ungidos e transformados, é agora confiado ao nosso ministério, para ser administrado às comunidades e a todo o povo de Deus.

É o óleo da alegria do Evangelho, com que Cristo foi ungido pelo Espírito para anunciar aos pobres. A nossa missão é associarmo-nos a Ele.

Cada vez que celebramos os sacramentos, este “hoje” cumpre-se. A sua eficácia não depende da nossa perfeição, mas a nossa atitude de acolhimento e fraternidade é essencial para que as pessoas compreendam a força da misericórdia.

É o óleo dos catecúmenos, que ilumina e fortalece. É o óleo dos enfermos, que sara as feridas do corpo e da alma. É a presença da Igreja junto de quem mais sofre: nos hospitais, nos lares, nas casas dos mais frágeis.

Este é o óleo da profecia, do anúncio e da misericórdia. O Senhor ungiu-nos e enviou-nos. Que isso seja a nossa consciência e o nosso compromisso.

É o óleo da esperança, que nos liberta da limitação e nos coloca ao serviço da vida eterna. Vivamos com alegria esta celebração, que nos transcende e à qual, com humildade, dizemos: “Eis-me aqui para servir”.

Este serviço é pedido a nós, presbíteros, chamados a renovar hoje as promessas do nosso sacerdócio, mas é também pedido a todos os que aqui estão: a Assembleia, o coro, os catequistas, os membros dos conselhos e todos os que, com os seus dons, fazem da Igreja um corpo vivo.

Hoje damos graças por todos os que, nas nossas comunidades, continuam a derramar o óleo da alegria e da credibilidade do Evangelho, com a sua palavra, atitude e coragem.

Agora, sacerdotes, vamos renovar juntos a nossa disponibilidade, como no dia da ordenação, para continuar a encontrar-nos com o Senhor e ser caminho para os nossos irmãos e irmãs.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO
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