TODOS E MUITOS

Sem nenhuma pretensão de ensinar a alguém seja que for, vão dois dedos de conversa, apenas com o desejo de oferecer uma pista de saída para as dúvidas de alguém que muito estimo e a quem devo especiais favores.

Estamos perante a trecho da Carta aos Hebreus que lemos na missa desta terça-feira da primeira semana do que o nosso Directório Litúrgico designa por Tempo Comum.

“Não foi aos Anjos que Deus submeteu o mundo futuro de que falamos. Alguém afirmou numa passagem da Escritura: «Que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes? Vós o fizestes um pouco inferior aos Anjos, de glória e honra o coroastes, tudo submetestes a seus pés».

Ao submeter-Lhe todas as coisas, Deus nada deixou fora do seu domínio. Por enquanto, ainda não vemos que tudo Lhe esteja submetido. Mas aquele Jesus, que, por um pouco, foi inferior aos Anjos, vemo-l’O agora coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu, POIS ERA NECESSÁRIO QUE, PELA GRAÇA DE DEUS, EXPERIMENTASSE A MORTE EM PROVEITO DE TODOS. CONVINHA, NA VERDADE, QUE DEUS, ORIGEM E FIM DE TODAS AS COISAS, QUERENDO CONDUZIR MUITOS FILHOS PARA A SUA GLÓRIA, LEVASSE À GLÓRIA, PELO SOFRIMENTO, O AUTOR DA SALVAÇÃO. Pois Aquele que santifica e os que são santificados procedem todos de um só. Por isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos, ao dizer: «Anunciarei o teu nome aos meus irmãos, no meio da assembleia cantarei os teus louvores»” (Hebr 2, 5-12).

Todas as traduções que consultei, talvez porque todas têm como perspectiva a universalidade da Redenção, coincidem globalmente com a nossa litúrgica oficial; e, de facto, há nisso dificuldade maior, porque, tanto o texto grego como o latino, da Nova Vulgata, podem perfeitamente traduzir-se desse modo. Falta apenas repararmos bem que, enquanto no versículo nono se fala d’Aquele pelo Qual tudo existe e cuja misericórdia não exclui nada do que criou, no versículo seguinte fala-se d’Aquele consumou a Redenção.

E voltamos ao mistério do “todos” e do “muitos”, que está claríssimo no texto original grego e algumas traduções litúrgicas, como a nossa, quiseram contornar de forma que arrisca o significado eclesiológico, também claro, no contexto da instituição do sacramento da Eucaristia.

Sem querer de modo nenhum desfazer o mistério, nem duvidar da competência dos responsáveis pela tradução da Carta aos Hebreus, penso que poderíamos traduzir de outro modo, sobretudo o versículo nono:

“Vemo-l’O agora coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu, pois era necessário que, pela graça de Deus para com todos, experimentasse a morte”.

Não exclui o mistério, mas, além de me parecer gramaticalmente correcta, creio que reflecte melhor o pensamento paulino sobre a morte redentora de Cristo e o carácter exemplar do seu sofrimento pra os que abraçaram a fé e querem manter-se fiéis.

Segundo a expressão do mesmo Apóstolo, na Carta aos Colossenses:

“Agora, alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja.

Foi dela que eu me tornei servidor, segundo a missão que Deus me confiou para vosso benefício: levar à plena realização a Palavra de Deus, o mistério escondido ao longo das gerações e que agora Deus manifestou aos seus santos” (Col 1, 24-26).

“Completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo!

Nenhuma forma de hedonismo: nem o prazer de sofrer – masoquismo -, nem o de fazer sofrer – sadismo-; mas a assunção fraterna da comunhão no amor, na caridade – “Charitas” – universal de Deus pela criação inteira. Mistério de comunhão acessível a todos, no qual se entra pelo Baptismo, mas que tem de ser assumido por cada um, pela conversão permanente: esse gesto contínuo de dor, arrependimento e emenda, sem o qual traímos o nosso ministério, o serviço à humanidade, em que fomos introduzidos pelo Baptismo, a maioria, e o sacramento da Ordem, os ordenados.

Por isso São Paulo escreve aos cristãos de Colossos: alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja.

A Igreja, chamada “católica” desde o início, porque é para todos, em Jesus Cristo.

Sem Ele qualquer designação – “católica”, “ortodoxa”, “evangélica”, para falar apenas das mais conhecidas – é puramente formal, muitas vezes vazia de conteúdo, prestando-se a todo o tipo de equívocos, que abundam no jornalismo contemporâneo, às vezes mesmo no que se considera mais sério e responsável.

E não podem as igrejas enganar-se quando dizem que têm Cristo no centro?

Claro que podem. Por isso Jesus, que tantas vezes tinha prevenido os discípulos da necessidade de estarem atentos ao perigo dos falsos profetas, antes de ser arrastado para a prisão que o levaria à more, diz a um deles:

“Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31).

33ª Dia Mundial do Doente
11 de Fevereiro
Formação sobre administração de bens da Igreja
22 de Fevereiro
, às 14:30
ENDIAD – Encontro Diocesano de Adolescentes
8 de Março
, às 09:30
Partilhar

Leia esta e outras notícias na...

Receba as notícias no seu email
em tempo real

Pode escolher quais as notícias que quer receber: destaques, da sua paróquia

plugins premium WordPress