
O ÓBULO DA VIÚVA
Veio-me ter às mãos, já hoje, um texto encantador, pela sua simplicidade e pelo seu conteúdo: um texto em que o Papa Francisco, no seu
Veio-me ter às mãos, já hoje, um texto encantador, pela sua simplicidade e pelo seu conteúdo: um texto em que o Papa Francisco, no seu
A palavra portuguesa “cansaço” pode induzir-nos em erro, porque quase sempre passamos imediatamente da realidade física para a moral, imaginando que quem está cansado está também à beira de desistir.
Desde as origens: que força teve o medo da morte na primeira luta do Homem com o Mal, figurado naquela serpente que lhe apontava o fruto proibido como a grande fonte da sua própria divinização?
Logo de manhã, depois de arrancar a penúltima folha do meu calendário de parede, ao verificar que estávamos no fim do ano e a memória me começou a fugir para a teimosia de certos arraiais de São Silvestre, que festejam tudo menos o grande pastor da Igreja de Roma.
Nossa Senhora da Visitação será sobretudo Maria, correndo da Galileia para a Judeia, onde mora a prima, que vai já no sexto mês de uma gravidez… de risco, diríamos nós hoje, tendo em conta as referências dos textos à sua idade.
Afinal, em meu entender, no domínio do mistério, são uma só: porque todos nós, em cada momento, somos procurados por Deus, segundo as circunstâncias pessoais de cada um.
A dois passos do Natal, que este ano será tão diferente daquilo a que estamos habituados, em plena Novena da Imaculada Conceição, não podemos deixar passar este momento sem pensar no coração de pura criatura que, em toda a história da humanidade, esteve mais aberto ao infinito.
Retido nos meus aposentos, prisioneiro de tantas circunstâncias adversas, recolho-me um pouco mais, a aprofundar o conforto da palavra de Deus, que há muito não sei ler senão como uma visita, d’Ele, da Sua misericórdia infinita.
Quase me fez estremecer a gritaria histérica daquele pregador islâmico, que incitava ao ódio e à guerra, repetindo palavras chegadas até nós com quinze séculos de conquistas e massacres e que encontram na ignorância de jovens e menos jovens, terreno fértil para o geminar dos gestos de ódio e de morte.
Só falta que caiam as máscaras da tirania que se insinuou na tua obra, quando o homem quis ser igual a ti, sem ti. Tu, ao contrário, fizeste-te igual nós, connosco. Sempre aliado, mesmo quando nós traímos essa aliança!
Vem tudo isto a propósito da gritaria que se ouviu entre nós, procurando fazer-nos crer que o Papa tinha defendido o direito dos homossexuais ao casamento, a constituir família, tiveram alguns meios de comunicação social o desplante de afirmar.
Nesta vida, tudo tem o seu preço, resmunga uma voz pouco conformada dentro de mim, tentando desfazer o meu pensamento agradecido desta manhã.
Há pouco, lendo e relendo a encíclica “Fratelli tutti”, depois de reflectir um pouco sobre o aproveitamento que nela se faz da chamada parábola do bom samaritano, a memória fugiu-me para a cozinha da casa.
Leio atentamente o exemplo da abertura de Job à vontade de Deus, que, de modo tão absurdo para o orgulho humano, parece tê-lo abandonado às fúrias da inveja de Satanás.
Desta maravilhosa conversa de Deus com Noé, retenho duas frases: «nunca mais um dilúvio devastará a terra». «Farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra».
Sobre a mesa tenho vários papéis – coisa que agora não se usa muito, mas que me faz grande falta, apesar de usar, ainda que mal, outros meios de escrita – tenho sobre a mesa vários papéis…
Na minha aldeia, onde nasci e cresci até bem entrado na adolescência, que era, pelo menos na sua estrutura sócio – cultural, profundamente cristã, não se falava do destino, mas ia-se dizendo, quase no tom de quem fornecia a chave – mestra para abrir todas as portas que davam para o significado mais profundo dos mistérios da vida: tinha de ser… estava destinado, estava escrito, não havia volta a dar-lhe.
Desde a mais tenra infância – quando eram sobretudo as lágrimas dos adultos que me comoviam – até à idade adulta, quando o sofrimento alheio acabava sempre por me parecer maior que o meu: tantos momentos em que pressentia que o que Deus me pedia era mais coração que discursos, que nunca me pareciam adequados diante da dor alheia.
Assim, a veste nupcial não pode reduzir-se ao estado de graça necessário para a comunhão sacramental, e torna-se mais compreensível a severidade do senhor do banquete para com o convidado que ousou entrar nele sem essa veste.
Também quando se arrepende, quando abre o coração à dor pelas suas infidelidades, o padre tem de ser sacerdote, de mãos erguidas para Deus, oferecendo-Lhe a dor que sente.
Nota: Depois de submeter a sua inscrição, deve confirmá-la. As instruções estão num email que irá receber.