Testemunhas de uma fé viva e corajosa

Homilia da Eucaristia da trasladação dos restos mortais do Cón. Formigão

 

Testemunhas de uma fé viva e corajosa

† António Marto

Basílica da Santíssima Trindade

Fátima, 28 de janeiro de 2017

Refª: CE2017B-001

Para além do motivo da celebração eucarística diária há um outro que nos reúne hoje, aqui, a muitos de nós vindos dos mais variados ângulos do país: a trasladação dos restos mortais do servo de Deus, Padre Manuel Nunes Formigão, do cemitério da freguesia de Fátima para um mausoléu próprio na casa mãe da Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima de que P. Formigão foi fundador. Nesta Basílica da SS. Trindade fazemos uma estação de ação de graças a Deus por este seu servo, verdadeiro Apóstolo de Fátima, cuja causa de beatificação e canonização já foi introduzida e esperamos chegue a bom termo. Desde já quero saudar cordialmente a todos vós e, de modo particular, as Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima.

Este evento ocorre no mês em que se evoca o nascimento e a morte do servo de Deus e ainda no significativo contexto do centenário das Aparições e da memória litúrgica dum grande santo, S. Tomás de Aquino, o doutor sublime da fé.

Por sua vez, as leituras da Palavra de Deus iluminam todos estes aspetos. Ambas elas convidam os cristãos a conduzir a sua existência pela fé em tempos difíceis, também neste nosso tempo por vezes tão doloroso e triste.

Para animar os cristãos, a carta aos Hebreus recorda-nos que estamos rodeados por uma “nuvem imensa de testemunhas”, homens e mulheres, unidos por um denominador comum: todos agiram movidos pela fé (expressão que aparece 24 vezes) nas mais variadas circunstâncias. Assim apresenta como uma galeria de retratos, fazendo desfilar uma série de figuras de mestres e estímulos da vivência da fé.

A leitura de hoje destaca a figura de Abraão, o homem de fé por excelência, que mereceu ser chamado “pai dos crentes”. De modo narrativo, podemos ver como a fé é uma relação viva: Abraão escuta a palavra de Deus que o chama, obedece-lhe, confia nEle e na sua fidelidade, e com esta confiança sai da sua terra e parte como peregrino para uma aventura no desconhecido. A sua fé é submetida à prova, sobretudo na oferta do filho único. Mas ele crê contra toda a evidência e espera contra toda a esperança segundo os cálculos humanos, mesmo até aos limites da morte esperando cair nas mãos de Deus: “ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos”.

Depois de apresentar a galeria dos campeões da fé, o autor da carta conclui exortando: “corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, tendo o olhar fixo em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição”. É precisamente a isto que nos chama a passagem do evangelho. O Senhor está connosco na barca da nossa vida e da Igreja que atravessa o mar da história e por vezes tem de enfrentar tempestades de ventos e ondas contrários. Mas ele não nos dorme, não nos deixa faltar a sua força, a sua consolação, a sua luz, o seu amor, a sua paz. A nossa fé é que pode estar adormecida: “Ainda não tendes fé”?

À galeria das testemunhas da fé nós podemos acrescentar também as figuras de S. Tomás de Aquino e do servo de Deus P. Formigão que nos estimulam a reavivar a fé hoje. Salientarei apenas três aspetos.

Fé orante e adorante

Em primeiro lugar, são exemplo e chamamento à vivência de uma fé orante e adorante da presença próxima e íntima de Deus. É interessante verificar que S. Tomás, sendo um génio do pensamento teológico, apresenta-nos a fé como deixar-se abraçar pela luz e pelo amor de Deus que enche de sentido a nossa vida, confiar totalmente nEle e confiar-se a Ele. O seu ideal de vida era conhecer mais e melhor a Deus para o amar mais e melhor. E daí provinha o seu lema: contemplata aliis tradere, isto é, transmitir aos outros o que tinha contemplado, descoberto e saboreado do mistério de Deus. Diz-se que estudava a teologia de joelhos!…

Também o P. Formigão se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos e que o levava a exclamar: “Deus é o meu tudo”; “o nosso coração se abrasará cada vez mais no seu amor”; “o que é preciso é que coloquemos toda a nossa confiança em Deus e que nos lancemos nos seus braços”. Esta experiência de Deus é a grande prioridade da evangelização. “O futuro da Igreja será determinado pelos orantes e a Igreja do futuro será sobretudo uma Igreja de orantes” (W. Kasper). Somos homens e mulheres com esta experiência de fé?

Fé eucarística

Em segundo lugar, uma fé profundamente eucarística. S. Tomás tinha uma alma profundamente eucarística. Os belíssimos hinos para celebrar o mistério da presença real do Corpo e Sangue de Cristo na festa do Corpo de Deus são atribuídos à sua fé e à sua sabedoria teológica. Era tão grande a sua devoção à Eucaristia que na celebração da santa missa chegava a derramar lágrimas de compaixão (união à paixão de Criso), de gratidão e de alegria. E mais ainda, refere-se que ele encostava a cabeça ao sacrário como para sentir palpitar o coração divino e humano de Jesus.

Também para o P. Formigão, a participação na celebração da eucaristia e na adoração ao santíssimo é o pilar da sua espiritualidade. Ele mesmo escreve: “A eucaristia é a maravilha de Jesus para connosco”, “escola de amor a Deus e ao próximo”. Vivemos uma fé cheia de amor a Jesus na eucaristia?

Fé reparadora do pecado do mundo

Por fim desejava focar a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima e que o P. Formigão captou de uma maneira admirável para o seu tempo. De facto, Nossa Senhora veio à busca de colaboradores para a reparação do pecado do mundo e seus estragos e destruições na relação com Deus, com os outros e com o mundo como casa comum: “Quereis oferecer-vos a Deus em reparação pelos pecados”? – perguntou a Virgem Maria aos pastorinhos. O P. Formigão entendeu a reparação como “adesão plena à vontade de Deus”, aceitar a vontade de Deus a colaborar com Ele nos acontecimentos da vida quotidiana e do mundo mesmo que isso exija sacrifício e renúncia. Reparar quer dizer pois recompor, refazer, reconstruir, re-sanar, tecer de novo o que se rompeu, renovar o mundo, a começar pelo coração de cada um na relação com Deus, com os outros e entre os povos. Isto realiza-se na oração e adoração como expressão de amor a Deus e da comunhão dos santos em que oramos uns pelos outros; mas realiza-se também no trabalho de evangelização e na caridade cuidando e curando as feridas, as chagas, os sofrimentos da humanidade. Queremos também nós oferecer-nos a Deus e colaborar com Ele nesta missão de reparação?

Para satisfazer o pedido de Nossa Senhora, que lhe chegou de modo explícito através da Jacinta, o
P. Formigão fundou a congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima e depois a Obra Reparadora destinada aos fiéis leigos.

Com justiça, ele recebeu o epíteto de Apóstolo de Fátima. “Sem ele, Fátima não seria o que é presentemente” (Cardeal A. Ribeiro). A ele devemos, sem dúvida, a garantia da autenticidade dos acontecimentos e das testemunhas, da sinceridade dos videntes e da verdade das suas afirmações, a divulgação da mensagem através de escritos, a fundação da Voz da Fátima e dos Servitas. Queremos exprimir a nossa gratidão a ele e a Deus que o escolheu para esta missão. E pedimos a Nossa Senhora e aos pastorinhos a sua intercessão para que ele possa aceder em breve à veneração dos altares.

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