Fundados em França no início do século XVIII, por São Luís de Montfort, os missionários da Sociedade de Maria Monfortina, ou Companhia de Maria, são mais conhecidos por Padres Monfortinos. O seu lema é o mesmo que o Papa São João Paulo II viria a adotar: “Totus tuus Mariae” (todo teu Maria), com a variante “Ad Jesum per Mariam” (a Jesus por Maria).
Apóstolos itinerantes para renovar o mundo
Nascido em 1673, Luís Maria Grignion de Montfort estudou no colégio dos Jesuítas de Rennes e no seminário maior de S. Sulpice, em Paris, onde maturou o seu amor a Cristo e a Maria, de quem assumiu o nome no dia do Crisma. Ao longo da sua formação, desde cedo exercitou a caridade com os mais pobres e, após a ordenação sacerdotal, em 1700, começou de imediato a vida apostólica como missionário itinerante, na diocese de Nantes e no hospital de Poitiers.
Dedicou os primeiros anos de sacerdócio às missões paroquiais, por vezes em confronto com o clero do seu tempo, pois desejava um renovamento pastoral que passava por missionários desinstalados e livres, imitando os Apóstolos itinerantes.
“Lembrai-Vos, Senhor, da comunidade que adquiristes desde tempos antigos. Lembrai-Vos de dar à vossa mãe uma companhia para renovar o mundo. Peço-Vos verdadeiros missionários consagrados à Santíssima Virgem. Lembrai-Vos, Espírito Santo, de formar filhos de Deus com Maria. Descei à terra, ó Espírito todo de Fogo, e suscitai sacerdotes que sejam também todos de fogo, para que seja renovada a face da terra”. Este excerto da “Oração Abrasada” resume o pedido que faz a Deus e o carisma da sua obra.
O seu desejo era partir em missão para “abrasar o mundo com o Evangelho”, pedido que faz a Clemente XI, numa audiência em Roma, em 1706. O Papa deu-lhe o título de Missionário Apostólico, mas recomendou-lhe que não saísse de França, onde tinha um vasto campo de missão, em obediência aos bispos das dioceses onde fosse pregar.
Foi o que fez: continuou as missões populares, para revitalizar pela radicalidade do Evangelho um país onde a vida cristã estava a entrar em decadência, pondo sempre em destaque o papel de Maria na obra da salvação. Para o acompanharem nestas lides apostólicas, começou a reunir uma companhia de bons missionários, inicialmente colaboradores pontuais nas missões que ia pregando, mais de 200 ao longo de 10 anos.
O seu zelo apostólico manifesta-se também numa atenção especial às carências sociais do seu tempo. Desde 1703, no hospital de Poitiers, associa a si Maria Luísa de Trichet, com a qual funda a congregação religiosa das Filhas da Sabedoria. Também preocupado com o ensino, forma a comunidade laical de Irmãos de S. Gabriel.
Expansão pelo mundo
Em 1716, durante uma Missão que pregava em S. Laurent sur Sevre, São Luís terminou a sua peregrinação na terra. Os poucos missionários que o acompanhavam ficaram com uma regra escrita por ele três anos antes e trataram de fazer crescer a sua obra. Mais tarde, sobretudo devido às dificuldades criadas à missão pelos tumultos da Revolução Francesa, muitos membros da Companhia foram partindo pelo mundo com o legado do fundador: “levando a chama luminosa do Evangelho para iluminar as trevas do mundo e o Rosário para pregar a verdadeira devoção a Maria”.
Atualmente, a Congregação está presente nos cinco continentes, sendo a Ásia (Índia, Filipinas e Indonésia) aquele onde regista maior crescimento.
Portugal e Diocese
A herança espiritual de Montfort chegou a Portugal em 1895, quando foi publicada no Porto a sua obra, considerada por São João Paulo II “um clássico da espiritualidade mariana, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”. Mas os primeiros missionários, vindos da Holanda, chegaram só em 1932, para um breve trabalho no Seminário de Vila Real. O mesmo se iria repetir, daí a quatro anos, na Capela da Senhora da Lapa, na Amadora. Atualmente, têm praticamente quarto comunidades em Portugal, com estilos de vida diferentes.
Duas delas são na Diocese de Leiria-Fátima, onde chegaram em 1952, instalando o Seminário Menor em Seiça, enquanto construíam em Fátima o edifício que seria inaugurado quatro anos depois.
O seminário encerrou, dedicando-se os seis membros ativos da comunidade ao apoio no serviço de liturgia e confissões no Santuário de Fátima e assumindo as capelanias de duas casas religiosas, além de cuidarem de um irmão doente. A casa serve também de residência a párocos em serviço na Diocese de Santarém.
Dois Padres Monfortinos formam uma outra comunidade em Mira de Aire, onde são responsáveis por esta paróquia e pelas de Alvados e de São Bento.
Testemunho vocacional
“Já que não é uma menina, que seja padre”
O padre António Martins Pereira, natural de Valongo, tem 71 anos e professou há 52, sendo nos últimos 16 o superior da comunidade de Fátima, além de ser também pároco.
Há realidades que não se entendem e mistérios que não se explicam. Assim é a vida de cada um. Nascido numa família profundamente cristã, em terras do Douro, mais propriamente em Sobrado, sou o mais novo de três rapazes. Daí o desabafo da minha mãe, quando viu nos braços mais um rapaz: “já que não é uma menina, que seja padre”. Ouvi esta frase vezes sem conto, mas parecia não ter grandes efeitos! Ouvia também falar da avó que tinha sido professora e mestra (catequista) na terra. Na boca da vizinhança, era uma santa, admirada por toda a gente. Eu não a conheci.
O meu pai tinha emigrado para a Venezuela, tinha eu pouco mais de um ano. Só o conheci aos 15 anos. Entretanto, a mãe ia abarcando com todo o peso, acrescido da desgraça de nenhum dos filhos ser uma menina. Tudo recaía sobre ela. E nada dava a entender que algum dos filhos lhe satisfizesse o desejo… Mas Deus parece não dormir…
Ao terminar a 4.ª classe, abeirei-me da minha mãe e manifestei-lhe o desejo de entrar no Seminário. Soltou uma enorme risada: “Tu, o pior dos três?”. Mas eu insisti e ela resolveu falar com o pároco. Decidiram mandar-me para longe, para não estar de volta poucos dias depois. Fátima e os Monfortinos foram os escolhidos. E uma nova aventura começara. Ao ver-me no Seminário, a mãe decidiu juntar-se ao marido, levando consigo os outros filhos. Eu decidi ficar sob os cuidados duma tia que deixou Lisboa para fazer de mãe. Mulher culta e corajosa. Foi decisiva na minha vocação. E assim prossegui o meu caminho com altos e baixos.
Terminei o Seminário Menor e o noviciado e “despacharam-me” para França, terra do fundador Luís Maria. Dois anos depois, fui para Roma, vindo a concluir os estudos em Lisboa, em 1969, ano em que fui ordenado. Foi então, 15 anos depois, que voltei a encontrar-me com a minha mãe.
Os primeiros 16 anos foram passados como formador e professor do Seminário. Depois duma breve passagem pelos EUA, encontrei o meu campo de ação em Portugal, com uma vida pastoral intensa, 10 anos em Ourique e, agora, na Diocese de Santarém.
O que há de vir, só Deus sabe…
P. António Pereira
Números
No Mundo
Casas: 171 (31 países)
Membros: 840
Portugal
Casas: 3
Membros: 15
Diocese
Casas: 1
Membros: 9 padres
Mais novo: 34 anos
Mais velho: 82 anos
Média etária: 60 anos