QUANDO O QUE NOS CHOCA É UM SINAL DE DEUS

Não é exclusivo mente nosso, mas torna-se particularmente forte num mundo cada vez mais alheio ao que sai do visível, imediato e palpável, rejeitar tudo o que parece ou é estranho. Assim, não damos importância, ou rejeitamos mesmo, o que não cabe na rede, cada vez mais apertada do que consideramos razoável.

Também se deve a isso que a célebre afirmação do sábio e místico pensador francês – o coração tem razões que a razão não entende – atire com ambos, razão e coração, para o charco pútrido das leituras e aplicações dominadas por uma desumanização cada vez maior.

Quando as pessoas aprenderam a pensar, de modo que – parafraseando o mesmo sábio do século XVII europeu -, não sejam apenas um caniço, dão-se pelos menos conta da razoabilidade do génio com que os poetas e os artistas em geral, descobrem a beleza no que, a olho nu, parece totalmente plano, sem nenhum significado especial.

A ausência de instrumentos mentais que sirvam à apreciação transcendente dos acontecimentos, das coisas e das pessoas, além do resto, tem duas consequências graves, hoje muito evidentes nas relações entre as culturas e os povos: o aumento da ignorância sobre valores essenciais a uma vida verdadeiramente humana e a dependência cada vez maior da manipulação de pequenos grupos e ideologias sem escrúpulos e com interesses inconfessáveis

Será também inevitável que a religião, seja qual for o culto ou a fé a que se liga, sofra o assalto das mesmas correntes e manipulações.

Se alguém achar isto estranho, convido-o, no caso do judeo-cristianismo, a pensar um pouco na veemência dos profetas, dos escritos do Novo Testamento, dos santos Padres e do magistério solene da Igreja.

Aquilo que, na minha fraca maneira de ver, são os sinais da amorosa Providência de Deus, na condução do Seu povo, ao qual manda, com a necessária oportunidade, os pastores adequados.

Acontece, porém, que, quando entramos no campo da fé, à mediada que esta diminui, a religião pode tornar-se cada vez mais formal, aumentando assim a dificuldade em perceber a voz de Deus, em ler os sinais da sua passagem, que, quando não coincidem com as estruturas mentais a que nos habituámos, podem ser tomados como erros e perigosos desvios do caminho correcto.

E também aqui, não faltará quem se aproveite do vazio e da ignorância geral.

Esse terá sido o grande drama dos que na Palestina, após o exilio, que deixou fora dos limites geográficos do reino de Judá – reino que, aliás, nunca teve limites geográficos, no sentido em que os imaginaríamos hoje – a maioria dos judeus, terá sido o grande drama dos que assumiram a missão de defender a religião comum: o drama de, por uma larga série de motivos que não podemos elencar por completo, não se defenderem cabalmente da tendência a reduzir a fé dos antepassados a práticas que, umas tradicionais, outras não, acabaram todas, no geral, esvaziadas do seu significado.

Não podemos levar a mal que esses guardiões da lei, profundamente empenhados no cumprimento do seu dever, se sentissem perturbados e inquietos, não tanto com os milagres e os discursos de Jesus, como sobretudo com aquilo que o crescente número dos discípulos via n’Ele.

Até que, perante o Sinédrio, interrogado por quem tinha autoridade para o fazer, afirmou claramente quem era.

Diz o texto sagrado:

“O Sumo Sacerdote ergueu-se e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos que depõem contra ti?» Mas Jesus continuava calado. Então o Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.»

Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.»

O Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. Que vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte»” (Mt 26, 62-66).

Que me lembre, em todos os quatro evangelhos, tirando uma ou outra insinuação, nem sempre dos mesmos personagens, só uma vez, antes da solenidade deste momento, se fala em dar a morte a Jesus; e não se trata de pura coincidência, porque, afinal, o motivo é o mesmo:

Escreve, com efeito, João, num passo do evangelho de ontem, quarta-feira:

“Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: «Meu Pai trabalha incessantemente e Eu também trabalho em todo o tempo». Esta afirmação era mais um motivo para os judeus quererem dar-Lhe a morte: não só por violar o sábado, mas também por chamar a Deus seu Pai, fazendo-Se igual a Deus” (Jo 5, 17-18).

Claro. Não podemos reduzir todo o mistério da existência terrena do Verbo eterno de Deus, feito criatura humana, a um mero equívoco e ao aproveitamento que dele fizeram pessoa e grupos rivais, dominados pelo ódio e pela inveja; mas continuo a pensar que precisamos de ser mais compreensivos com quem não entendeu, até para apreciarmos melhor o milagre da misericórdia divina que fez e continuará a fazer com que, em tantos milhões de pessoas, se realize a profecia de Jesus:

«Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a mim» (Jo 12, 32).

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