“A boa notícia que vos trago é que os Pastorinhos não nasceram santos”. A irmã Ângela Coelho, postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta Marto e vice-postuladora da causa de beatificação da Irmã Lúcia, quis sublinhar com esta frase que os pequenos videntes se tornaram santos por terem respondido ‘sim’ à pergunta feita por Nossa Senhora: “quereis oferecer-vos a Deus?”.
Na sua intervenção na Assembleia Diocesana, a religiosas da Aliança de Santa Maria começou por afirmar que “Deus anda à procura do homem”, como se depreende dos textos bíblicos e também dos relatos das Aparições de Fátima. O testemunho de vida dos irmãos Jacinta e Francisco é o desse processo de conversão, do “descentrar-se de si mesmo para se centrar em Deus, procurando em tudo configurar-se com Cristo”.
No caso da Jacinta, “a menina mimada e caprichosa” que se transformou em “alguém que faz da sua vida um dom para os outros”, essa configuração com Cristo torna-se especialmente intensa no seu processo de doença e morte. “Como Jesus, aceitou o sofrimento e a solidão no quarto de hospital”, onde os pais – pobres – não puderam acompanhá-la. Viveu a experiência do abandono, até da última consolação que pediu no dia da morte, a Sagrada Comunhão, prometida pelo capelão para o dia seguinte. Morreu com uma ferida aberta no lado esquerdo do peito. E foi sepultada à pressa, num sepulcro emprestado. “E tudo aceitou com um sorriso, tal como cada pequena contrariedade da vida que oferecia a Deus, pela conversão dos pecadores, pelo Papa, pela paz no mundo, por todas as intenções que lhe apresentavam”.
No caso de Francisco, a descoberta da centralidade de Deus na sua vida e “o desejo de O consolar permanentemente”. Tendo “como escola o sacrário, como mestra Nossa Senhora e como tesouro o Rosário”, o pequeno pastor desenvolveu a sua dimensão contemplativa na meditação dos mistérios da vida de Cristo. A “rezar muitos terços”, como Nossa Senhora lhe havia dito para fazer, encontrou no Rosário “o transporte místico para o Coração de Maria que o levou a deixar-se plasmar pela vida de Cristo.
O segredo de ambos era o “lume ardente que os queimava por dentro, a paixão por Cristo que queriam que toda a gente sentisse também”. É o mesmo segredo que poderá levar a que a vida de cada cristão “esteja cheia de alegria e não do lamento ‘custa tanto’, tantas vezes ouvido”.
“Na vida dos Pastorinhos ficamos a conhecer melhor quem é Deus, porque O vemos presente na história à procura da colaboração humana”, afirmou a Irmã Ângela Coelho, concluindo: “Se há pergunta a que, no próximo ano, os diocesanos de Leiria-Fátima devem responder, é “quereis oferecer-vos a Deus?”.