Maria Felício tem 20 anos e estuda medicina em Lisboa. Apesar da agenda apertada pelo estudo, não abdica do espaço para o encontro com Deus.
Este zelo na fé vem da família e de uma presença ativa na paróquia da Boa Vista, de onde é natural. É acólita desde o 4.º ano de catequese, foi catequista, pertenceu ao grupo de jovens e colabora, desde o ano passado, ao nível diocesano, com a pastoral pré-matrimonial, onde integra uma equipa que oferece aos jovens namorados e noivos propostas de aprofundamento da fé na relação.
A alegria é a sua imagem de marca, a alegria contagiante de quem está ao serviço de Deus.
Maria Filipe Guarda Felício nasceu e cresceu na Boa Vista. A ligação com a família é estreita. Para além das duas irmãs, do pai e da mãe, fala também da avó, do tio que é padre e de outros familiares que, lembra, muito contribuíram para a sua formação. Está agora mais longe da família devido à vida académica. Estuda no 2.ºano de medicina, na capital. Embora reconhecendo em cada profissão uma vocação de serviço, escolheu ser médica pela oportunidade de poder servir numa das alturas mais vulneráveis do ser humano. “Na doença, podemos não só dar o nosso contributo ao nível técnico, como também dar uma palavra de conforto, até porque, no desempenho da minha profissão, serei um instrumento de Jesus.” “A ideia tem tanto de angélico, quanto de cativante”, admite, mas não deixa de “ser uma maneira bonita de poder servir os outros”.
A forma expedita com que fala da sua fé, faz notar uma consciência já aprofundada e fundamentada por várias interpelações. Para perceber como é que Maria chegou aos 20 anos com uma fé tão desperta e lúcida, conversámos com ela acerca do seu percurso.
Crescer com exemplos
“Eu tenho muita sorte… Tenho uma família muito boa”, diz Maria, com um sorriso, enquanto fala do dinamismo eclesial com que se habituou a conviver em família. “A minha mãe é catequista. O meu pai é ministro extraordinário da comunhão e também já foi catequista.” As “primeiras memórias de fé” que tem levam-na até às atividades nacionais da Ação Católica Rural (ACR), à qual pertence a avó e a mãe. “Lembro-me de, com três anos, adorar participar nas dinâmicas que ali se faziam.” As estadas na casa da avó materna, que considera ter sido a sua “primeira catequista”, são a lembrança que se segue.
Entrou depois na catequese paroquial onde, nos primeiros anos, aprendeu “a olhar para Jesus como um amigo”. Com a adolescência, vieram as dúvidas naturais da idade, no entanto, Maria nunca questionou o legado de fé que lhe fora transmitido. “Como tenho bons testemunhos em casa, tudo me pareceu sempre muito verdadeiro. Aquilo que eu ouvia na catequese era o que eu ouvia e via em casa”. Nunca passou por uma profunda crise de fé, assegura. “As dúvidas surgiram como ainda hoje surgem, até porque a fé não é algo acabado, mas um caminho que se faz.”
Ao nível escolar, frequentou um colégio católico. É do percurso académico que se serve, para delimitar o ano que mais a marcou: a altura em que estava no 11.ºano.
Um ano espetacular
O mês em que Maria concluiu o 11.ºano do secundário coincidiu com a altura em que recebeu o Crisma. “Foi um ano espetacular”, diz, enquanto evoca os acontecimentos que a levam a adjetivá-lo desta forma. “Ainda durante o primeiro período, frequentei um curso de catequistas, em Fátima e, em fevereiro, fui com minha irmã mais velha à Terra Santa, numa viagem organizada pelo secretariado diocesano da catequese.”. A viagem foi um marco na sua caminhada. “Poder estar nos sítios onde aconteceu o que é narrado nos Evangelhos, foi inesquecível.” Ao recordar a jornada, projeta a experiência numa perspetiva de fé que a levou a querer saber mais.
Para concluir este período memorável, foi às jornadas mundiais da juventude em Madrid, no verão, numa atividade que lhe mostrou uma Igreja jovem. “Depois da viagem à Terra Santa com pessoas mais velhas que eu, pude partilhar uma experiência com pessoas da minha idade.” Regressou cheia de vontade de continuar um caminho que já tinha iniciado e, em 2013, repetiu a experiência, desta vez nas Jornadas Mundiais do Rio de Janeiro. As viagens no âmbito do seu percurso de fé levaram-na ainda, no verão passado, a Taizé, numa atividade organizada pela pastoral juvenil da diocese de Leiria-Fátima. O espírito ecuménico e o ambiente de reflexão e de oração que ali encontrou são os aspetos que faz questão de assinalar.
Estudar para tratar do corpo e da alma
Atualmente, Maria estuda medicina em Lisboa e, apesar de ter deixado a comunidade de origem, não deixou de viver a sua fé na cidade que agora a acolhe.
Com os estudos, o tempo aperta, mas a missa dominical é um imperativo do qual não prescinde. Na capital, opções não faltam: a igreja do Sagrado Coração de Jesus, a de São Sebastião da Pedreira ou a de Nossa Senhora de Fátima são três das opções de que dispõe e que lhe permitem escolher o horário mais compatível com os estudos.
Vai, quando pode, à Missa dos universitários, no Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV), à quarta-feira, onde encontra dicas de reflexão ajustadas à realidade académica. “Aquela paragem semanal dá-me força para o resto da semana.” Soube desta Missa através dos amigos da faculdade que também partilham uma ligação próxima com a Igreja, a quem carinhosamente chama de “amigos do Senhor” e com os quais se sente a crescer de uma forma construtiva na fé.
Em setembro último, participou numa academia de verão de teologia, dirigida a estudantes universitários, sob o lema “não basta sentir, é preciso saber”, mote que explica a razão que levou Maria a frequentar estes sete dias de formação. “Eu creio com todo o meu ser, não é só com a minha parte emocional. Há muito para saber sobre a vida de Jesus que implica um lado mais racional e lógico até porque Deus fala-nos de muitas maneiras e algumas vezes não é assim tão literal, há que estudar.”
A alegria de ter fé
Maria sente que a sua fé a define e anima a pessoa que é. “Sei que dou o melhor que posso, mas que não está tudo nas minhas mãos. Eu controlo uma parte, mas é bom saber que tenho Alguém que tem tudo sob controlo.”
A caminhada na fé que vai fazendo surge como um percurso encadeado, em que as experiências de encontro vão surgindo na altura certa, revela, e esta perceção dá-lhe uma maior certeza no sentido da sua ação.
Se pudesse ser definida por uma característica, Maria escolheria a alegria. Ao enunciar a escolha, cita as palavras do Papa Francisco: “a alegria deve ser a marca de um cristão”. “Acho que só assim, através da minha alegria, consigo levar Jesus às pessoas e levá-las a perceber que há em mim Alguém maior.”
No final tirámos uma foto. O sorriso está lá, num gesto espontâneo do rosto, que não carece de solicitação, como sinal de uma certeza que vem de dentro e que irradia e contagia de vida, a vida de quem tem fé.