Manuel dos Santos Jacinto tem 74 anos e é da Barosa. Ministro extraordinário da Comunhão há mais de 30 anos, assumiu, há alguns anos atrás, as funções de sacristão. Na altura da construção da nova igreja da Barosa, integrou o conselho económico e atualmente, está no conselho pastoral.
Gostava de ter mais tempo para se dedicar ao gosto que tem pela pesca, mas desde que foi “pescado” por Deus para o serviço da Igreja, nunca sentiu que esse tempo lhe fizesse falta. Talvez por isso, fale do exemplo na “forma de agir e de ser de cada cristão” como o “isco” ideal para pescar outros Homens.
Marcámos encontro com Manuel Jacinto ao início da tarde, na igreja paroquial da Barosa. O templo já se tornou numa segunda casa. É ele que abre a porta para as celebrações e ensaios que ali têm lugar. A nova igreja foi construída no mesmo lugar onde se localizava a anterior, da qual se manteve a fachada. Manuel acompanhou todo o processo desde as fundações. Na altura, fazia parte do conselho económico paroquial. Na visita guiada que nos propõe pelo espaço, identifica, em gestos largos, a memória da antiga igreja.
Manuel nem sempre morou na Barosa. Veio do Louriçal com a esposa, três meses depois de casar. Mesmo assim, abraçou a comunidade que agora é a sua e participou, de forma disponível e empenhada, na sua missão pastoral.
Do Louriçal para a Barosa
Manuel Jacinto é o mais velho de seis filhos. Quando veio viver para a Barosa com a esposa, a restante família permaneceu no Louriçal, terra onde nasceu, em 1941.
“Os meus pais sempre me indicaram a fé católica. Eram pessoas com pouca cultura, mas muito religiosas. Tinha ainda uma tia muito ligada à Ação Católica Rural (ACR)”, conta, ao falar da herança que abriu caminho à sua fé e que procurou transmitir aos dois filhos que tem.
Manuel não teve oportunidade de andar na escola e desde cedo ajudou os pais na agricultura: no cultivo de arroz, milho e vinha. Aos 18 anos, começou a dar serventia a pedreiros, primeiro no Louriçal e depois pela zona de Leiria. Foram estes serviços que anteciparam a sua vinda para cá. Através de um colega de trabalho, arranjou casa na Barosa, para onde veio morar com a esposa, três meses depois do Matrimónio. “Quando vim para cá morar, trabalhava a construir os depósitos de água na Boa Vista. Depois, empreguei-me na Cerâmica do Lis, onde estive durante 44 anos, até me reformar.”
Naturalmente, também houve momentos difíceis na vida de Manuel, que foram ultrapassados através de uma fé que foi suporte essencial e que se fez viva em todas as dimensões da sua vida. Na profissão, procurou sempre ter uma boa relação com os colegas, promovendo a entreajuda e o entendimento, numa atitude que era reconhecida pelos pares e pela chefia.
Trabalhar por turnos e servir a tempo inteiro
Das primeiras coisas que se lembra de ter feito quando chegou à paróquia, foi o Curso de Cristandade. Tinha então cerca de 30 anos, os mesmos que conta enquanto ministro extraordinário da comunhão. Neste serviço, fala com especial carinho da visita que habitualmente faz aos doentes, quando lhes leva a Sagrada Comunhão. “Cheguei a visitar mais de 30 doentes, de porta a porta.” Fala de uma altura em que trabalhava por turnos e aos domingos. Conta que havia dias em que, depois de exercer o seu ministério, depois da missa dominical, ainda ia trabalhar às quatro da tarde. “Fazia com amor a Deus… Sentia uma preocupação. Nos domingos em que não fosse, por estar a trabalhar, sentia um vazio dentro de mim.” Nestas visitas, Manuel criava laços com os doentes. “Além de se levar a Sagrada Comunhão, que é o Corpo e Sangue de Cristo, também levamos um carinho a quem visitamos. Na maneira como somos recebidos, acabamos por receber muito, pela alegria e satisfação de quem visitamos.”
Manuel Jacinto assumiu o cargo de sacristão há cerca de dez anos. No Louriçal, na adolescência, já tinha ajudado um primo nestas funções, mas à parte desta experiência e das poucas vezes em que pontualmente ajudava o anterior sacristão da paróquia, pouco mais conhecia das exigências daquele serviço. Ao assumir a responsabilidade deste cargo, procurou, desde logo, informar-se o quanto pôde, para o desempenhar da melhor forma. Hoje, para além de acolitar nas celebrações, ajuda a manter o templo que viu construir. É ele que abre e fecha a porta da igreja, toca sinais nos funerais zela pela manutenção do espaço.
Para além da vida profissão que lhe exigia um tempo retalhado em turnos, houve sempre tempo para o serviço na igreja.
Ser pescador
Disponível e responsável são dois adjetivos que saltam à vista quando ouvimos o testemunho de Manuel Jacinto. Nos serviços para os quais se disponibilizou, procurou exercê-los sempre com responsabilidade. Confessa que gostava de ter um pouco mais de disponibilidade para dedicar ao gosto que tem pela pesca, mas nunca lamentou o tempo que dedica ao serviço na Igreja. “Há dias em que roubo um bocadito de tempo de outro lado para estar aqui, mas Deus compensa sempre e nunca senti que esse tempo me fizesse falta.” Aproveitando este gosto, perguntamos qual é o “isco” ideal para chamar as pessoas a uma participação mais ativa na Igreja. “Temos de ser nós, cristãos, pela nossa maneira de ser e agir. O nosso testemunho é o melhor “isco” para que as pessoas queiram saber o que nos dá esta força…”
Quanto é que ganhas? São 50 ou 60?
Um dia, convidei um paroquiano para assumir o serviço de sacristão. Acabou por dizer que não se ajeitava para isto. Ainda assim, eu disse-lhe que o ensinava. Como pensava que tinha de abrir sepulturas, ainda foi falar com um outro indivíduo, que era coveiro, para lhe garantir esse trabalho. Veio ter comigo e perguntou-me ‘Então, quanto é que lá ganhas? São 50 ou 60 contos?’ ‘Você tira o cinco e tira o seis’, respondi-lhe, perante a admiração dele, que ainda me disse: ‘O quê? Não recebes nada pelo trabalho de sacristão? Andas para lá a caminhar de graça?’
Há muitas pessoas que acham que as pessoas que têm um serviço na Igreja recebem dinheiro em troca e custa-lhes acreditar que estamos aqui apenas por devoção.