Querido irmão e querida irmã que te encontras doente: ao longo destes anos em que sou Bispo desta Diocese, distribuí muitas vezes a Sagrada Comunhão aos peregrinos doentes. Vi muitos rostos sofredores, mas que transmitiam uma grande confiança no Senhor.
Muitas vezes me comovi, porque me senti fortalecido pelo testemunho de uma fé grande vivida no sofrimento; senti-me amparado pela oração e entrega de vida de tantos e tantas; outras vezes interrogava-me a mim mesmo: porquê este sofrimento tocou àquele ou àquela e não a mim? Porquê?
Quantas vezes desejei dirigir uma mensagem aos doentes ou dizer obrigado, pessoalmente, a cada um/a de vós, por quanto sustentais a Igreja. Mas faltavam-me as palavras e a coragem. É tão difícil falar sobre o sofrimento e a quem sofre! Agora chegou o momento. Hoje, no encerramento do centenário das aparições de Nossa Senhora, não podia, de modo algum, deixar de vos dirigir uma palavra pessoal.
Em primeiro lugar, uma palavra de gratidão, em nome da Igreja e no meu pessoal, por quanto a vossa entrega, unida à entrega de Jesus, sustenta o trabalho e as canseiras apostólicas de quem vive para difundir o evangelho no seguimento de Jesus.
Vós escreveis, com as vossas lágrimas e dores, o evangelho do sofrimento que consiste em fazer bem a quem sofre e a fazer bem com o próprio sofrimento. Olhando para vós, que procurais viver na fé o mistério do sofrimento, tornais-vos memória viva de Cristo que se entregou por nós. O vosso exemplo e testemunho ensina-nos, a nós que ainda temos força, a aprender a viver os limites e os fracassos amparados em Jesus e na sua e nossa Mãe, a Virgem Maria, e no apoio fraterno de uns aos outros.
Em segundo lugar, deixo-vos uma palavra de encorajamento, aquela mesma palavra de consolação e conforto que Nossa Senhora deixou à Irmã Lúcia: “E tu, sofres muito? Não desanimes, eu nunca te deixarei. O Meu Coração Imaculado será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”! Tem sido esta, ao longo destes cem anos, a esperança maior de Fátima: o Coração Imaculado da Mãe não deixa que a solidão seja vivida como abandono.
Querido irmão e querida irmã que te encontras doente: peço ao Senhor presente na Eucaristia, que a bênção que Ele deu ao mundo, precisamente há cem anos na visão do milagre do Sol, desça hoje sobre o teu corpo, o teu coração, a tua mente, a tua alma e te infunda a paz e a fortaleza que prometeu. Ámen!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima