Franciscanos Capuchinhos, Missionários Capuchinhos, ou simplesmente Capuchinhos, são nomes usados por este que é um dos três ramos da Ordem dos Frades Menores fundada por São Francisco de Assis no século XIII.
“Paz e bem a toda a criatura”
A ordem fundada em 1223 por São Francisco de Assis tinha como grande ideal a instauração de uma fraternidade universal, cujos membros vivem como irmãos de todas as pessoas e criaturas e em partilha de vida e amor com os mais pobres, no respeito pela criação e no diálogo ecuménico e inter-religioso.
“Paz e bem a toda a criatura” é o lema que resume um carisma assente no Evangelho, na conversão do coração, na primazia da oração e nos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência. São estes os meios operativos para uma vida de intenso amor à Igreja e de dedicação incansável aos homens de todos os tempos, em especial aos mais pobres, débeis e doentes, em ordem à promoção e libertação integral da pessoa.
Irmãos da Comunidade de Fátima |
Membros da família franciscana, os Capuchinhos são o ramo mais recente, surgido em 1525, quando alguns Frades Menores das Marcas (Itália) quiseram viver uma vida mais estrita de oração e de pobreza, em maior proximidade com as intenções originais do fundador. O nome surgiu como alcunha dada pelo povo, pela forma especial do longo capuz, mas acabou por tornar-se oficial.
Os irmãos capuchinhos, clérigos e não clérigos, vivem em fraternidade, partilhando a vida e ajudando-se mutuamente a crescer, como numa família. À maneira de Francisco de Assis, o seu guia e mestre de vida é Jesus de Nazaré, imitando a sua vida simples e humilde no meio do povo. D’Ele recebem, também, a missão de anunciar o Evangelho com a vida e por todas as formas concretas: oração e contemplação, trabalho pastoral, serviços sociais, ministério da reconciliação e de assistência religiosa hospitalar, atividade missionária, ação cultural, edições e presença nos meios de informação e comunicação social. A sua identidade está, sobretudo, no modo como desempenham essa missão: alegria, simplicidade, amor, entrega, confiança no Pai e nos irmãos.
Em Portugal
Os Capuchinhos estão em Portugal, de maneira continuada, desde que, a partir de 1932, alguns irmãos de Espanha procuraram aqui refúgio da guerra civil no seu país. Da Andaluzia para o Alentejo ou de Castela para a zona Norte, começaram desde logo a colaborar na pastoral paroquial e a abrir fraternidades próprias. Em 1939 foi criado um Comissariado Geral, ainda dependente da província da Catalunha, em 1957 passou a ser Comissariado Provincial e, em 29 de junho de 1969, foi criada a Província Portuguesa da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Havia, então, casas em Barcelos, Porto, Gondomar, Coimbra, Fátima e Lisboa – algumas mais antigas tinham fechado e outras vieram a abrir depois.
Da Província Portuguesa, muitos Capuchinhos foram em Missão para Angola em 1954, onde ainda permanecem alguns integrados na nova Vice-Província de Angola. A partir de 2003, estão também em Timor-Leste, com duas fraternidades em Laleia e Tíbar. Acolhem ainda em Portugal os pós-noviços da Província de Cabo Verde, que fazem os seus estudos no Porto, enquanto os postulantes portugueses fazem o Noviciado naquele país africano.
Fraternidade de Fátima
No dia 13 de Maio de 1955 foi benzida a casa adquirida perto do Santuário, que seria depois restaurada para receber, no ano seguinte, a primeira comunidade da nova Fraternidade de Fátima.
Com o objectivo de trazer para aqui o noviciado, a casa foi vendida em 1957 e adquirido um terreno para construir uma nova. Seria inaugurada em 1961, mas só com uma das três alas previstas, sem capacidade para o noviciado. Serviu temporariamente para vários anos do seminário menor e foi acolhendo retiros, encontros e capítulos da Província, bem como peregrinos, grupos e movimentos.
Só em 1993 este edifício seria ampliado de acordo com o projeto inicial, de modo a receber o atual Centro Bíblico dos Capuchinhos e uma fraternidade mais numerosa de irmãos, especialmente dedicados a esta missão de estudo e difusão bíblica, continuando também a prestar acolhimento a peregrinos. Cinco anos volvidos, mais um edifício é construído, em frente, para instalação do Movimento Bíblico. Ao longo do anos, foi sendo formada a coleção que dará origem ao Museu do Presépio e, em 2012, foi inaugurado o Jardim Bíblico, que complementa o conjunto de serviços prestadas do Centro Bíblico.
Dinamização Bíblica
A dinamização Bíblica é a atividade apostólica mais caraterística dos Capuchinhos em Portugal, ao ponto de quase se identificarem com ela. Nas décadas de 50 a 80, contribuíram para evangelizar e animar a fé do povo, com as missões populares e pregação por todo o país. O seu Movimento Bíblico contribuiu para iniciar muitos cristãos na leitura e no amor à Bíblia, com formação em paróquias, escolas, comunidades religiosas, seminários, quartéis e movimentos. Com sede em Fátima, o Movimento Bíblico atua nas áreas editorial, pastoral e de formação permanente, sendo as suas marcas mais conhecidas a revista “Bíblica” e a editora “Difusora Bíblica”.
Testemunho vocacional
Nas águas de dois grandes rios…
O frei Manuel Rito Dias é guardião da comunidade de Fátima há 4 anos e administrador do Centro Bíblico. Natural do Soito, Sabugal (Guarda), tem 76 anos de idade e 53 de vida religiosa.
A vocação é sempre um dom de Deus, que atua habitualmente por intermediários. No meu caso, os intermediários foram muitos: na primeira fase, foram os pais, o pároco e o ambiente favorável nas famílias cristãs da minha freguesia; numa segunda fase, foi a circunstância de existir um seminário capuchinho no concelho de Belmonte, onde entrei no ano de 1951.
O meu caminho vocacional foi percorrido nas águas de dois grandes rios: o franciscano e o missionário. Com os meus mestres, alguns deles espanhóis e brasileiros, fui conhecendo a vida e o espírito de Francisco de Assis, que me conduziram à profissão religiosa em 1957. Esse conhecimento foi crescendo numa nova experiência de três anos passados a estudar em Salamanca e no Porto.
Completada a formação académica e religiosa, os superiores apontaram-me o caminho que iria marcar a minha vocação franciscana e sacerdotal: o campo missionário “ad gentes”. Foram 32 anos de serviço às populações de Angola, a que dediquei a maior parte da minha juventude apostólica. Vi Angola nos dias do seu maior esplendor económico, mas também nos seus dias mais trágicos de guerra pela independência. Nos bairros do Caxito, Uije, Songo e Luanda, tive ocasião de ver, viver e testemunhar o carisma de Francisco de Assis. Com os mutilados e refugiados da guerra, pude partilhar casa, alimentos, fé e oração. Nos bairros do Cazenga, paróquia de Santo António, em Luanda, depois do êxodo de todos os europeus, permanecemos apenas dois Capuchinhos, cinco irmãs de São José de Cluny, as folhas dos quintais e muitos cães sem dono. Só dali a alguns meses começaram a regressar algumas pessoas fugidas da guerra. Foram tempos de grandes alegrias, à mistura com grandes sofrimentos, num país repleto de mutilados de guerra e refugiados, sem luz e sem água, onde só a Igreja falava de paz e abria as portas às vítimas da anarquia e da destruição.
Regressei a Portugal no ano 2000, mas três anos depois o espírito missionário levou-me ao sudeste da Ásia, em Timor-Leste. Um povo ainda mais pequeno, mais pobre e mais sofrido do que o de Angola. Mas também mais cristão e com mais fé. Foram os quatro anos mais felizes da minha vida.
A falta de saúde trouxe-me de novo a Portugal e agora, sempre em espírito de missão, estou nesta Casa dos Capuchinhos em Fátima dedicado ao acolhimento de peregrinos e à difusão bíblica.
Fr. Manuel Rito Dias
Números
No mundo
Casas: cerca de 1700
Membros: cerca de 11.000
Em Portugal
Casas: 6
Membros: 56
Na Diocese
Casas: 1
Membros: 4 sacerdotes e 1 irmão
Mais novo: 51 anos
Mais velho: 77 anos
Média etária: 69 anos