Onde há misericórdia, há esperança

Homilia da Missa de Natal 2015

 

Onde há misericórdia, há esperança

 

† António Marto

Catedral de Leiria

Missa de Natal, 25 de dezembro de 2015

Refª. CE2015B-012

O célebre compositor austríaco do século XIX, Anton Brukner, foi o organista numa celebração da missa da noite de Natal, na catedral de Viena. No final da celebração toda a gente saiu e o sacristão fechou as portas da catedral. No dia seguinte abriu-as para a missa das sete da manhã. Qual não foi o seu espanto ao encontrar o célebre músico ajoelhado junto ao presépio. Aproximando-se dele exclamou: “Ainda aqui a esta hora, maestro?”. “Sim, porque me tinha esquecido que Ele tinha incarnado”. Também a nós pode acontecer o mesmo: esquecer o protagonista principal da festa, esquecer que o Natal é antes de mais a santa festividade do Deus que se faz Dom.

O Natal de Jesus convida-nos pois, tal como aos pastores peregrinos de Belém, a contemplar o admirável mistério da Incarnação que hoje representamos na simbólica do presépio. Por sua vez, o Ano Santo da Misericórdia é um motivo para vivermos o Natal na perspetiva da revelação da ternura e da misericórdia do Pai.

A manifestação da Ternura e do Amor misericordioso de Deus

Paremos um pouco em meditação junto ao presépio, contemplando no menino Jesus o Filho de Deus. Nele é a ternura de Deus que nos fala; nele contemplamos a misericórdia divina que assume rosto humano.  Na contemplação da ternura do menino, juntamente com Maria sua mãe, descobrimos que a nossa vida  é visitada e habitada por um mistério de amor que excede toda a nossa imaginação, todas as nossas previsões, pretensões e expectativas: a presença de Deus próximo na nossa carne humana, Deus misericordioso, Deus de bondade e de ternura que nos olha com os olhos cheios de afeto, que aceita os nossos limites e a nossa miséria, Deus enamorado da nossa pequenez. Eis como S. Pedro Crisólogo no-lo diz de modo sintético, belo e comovente:

“Ao ver o mundo oprimido pelo temor, Deus procura continuamente chamá-lo com amor: convida-o com a sua graça, atrai-o com a sua caridade, abraça-o com o seu afeto… A força do amor não mede as possibilidades, ignora os limites. O amor não desiste perante o impossível, não desarma perante as dificuldades”. É assim o amor misericordioso do nosso Deus. Mesmo quando nos afastamos, não deixa de nos amar, continua a estar próximo de nós com a sua disponibilidade a acolher-nos, a perdoar sempre, a renovar-nos com o seu amor! Verdadeiramente podemos dizer com S. Paulo na segunda leitura: “Apareceu a graça de Deus que traz a salvação a todos os homens”. “Que maior graça de Deus podia brilhar sobre nós?”(Sto Agostinho)

Interroguemo-nos: Como acolhemos a misericórdia e a ternura de Deus? Deixo-me alcançar e abraçar por Ele? Permito-lhe que me queira bem, que toque o meu coração com a sua bondade humilde como tocou o coração de Maria?

Maria, Mãe de ternura e de misericórdia

“Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura”, lembra-nos o Papa Francisco apresentando o exemplo de Maria como “aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura… Sempre que olhamos para Maria voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes”. Com Maria aprendemos como a ternura e a misericórdia são capazes de fazer maravilhas com pouca coisa, com pequenos gestos e atitudes.

Em todo o Natal está sempre presente a Mãe para nos ajudar a reforçar os laços da ternura e do afeto que nos devem unir a todos como filhos e irmãos. Que “a doçura do seu olhar nos acompanhe para podermos redescobrir a alegria da ternura de Deus” e enternecer o nosso olhar para os outros.

Felizes os misericordiosos

É preciso que os filhos de Deus tornem visível aos homens de hoje a ternura de Deus e a sua misericórdia por toda a criatura, mas particularmente pelos pobres, pelos mais frágeis, os sós, os mais desprotegidos, todos os necessitados.

A linguagem da misericórdia e da ternura é feita de atitudes, de gestos e ações concretas, capazes de criar relações calorosas de presença, de proximidade física e proximidade do coração, de cuidado do próximo ferido, de partilha das alegrias e dores, de consolação dos tristes e aflitos, de perdão entre os desavindos, de fraternidade e solidariedade. Estas relações fazem parte da ecologia da vida humana saudável e feliz, que leva o Papa Francisco a afirmar: “deste modo, qualquer lugar deixa de ser um inferno e torna-se um ambiente de vida digna”. Onde há misericórdia, há esperança. Não há Natal cristão sem esta marca!

Temos a coragem de acolher com ternura e misericórdia as situações difíceis e os problemas de quem está a nosso lado? Sou capaz de partilhar? Dou espaço ao perdão num mundo de rancor, de amargura e de vingança?

Não tenhamos medo da ternura e da misericórdia! “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”! Abramos o nosso coração ao Deus-menino e supliquemos: “Senhor, ajuda-me a ser como Tu; dá-me a graça da ternura mesmo nas circunstâncias mais duras da vida; dá-me a graça da proximidade a toda a pessoa necessitada; a graça da mansidão e da paz em todo e qualquer conflito, divisão ou tensão”.

Santo Natal de ternura, de alegria e de paz e Novo Ano abençoado para todos vós, para as vossas famílias e para todos os diocesanos.

 

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