Há padres e padres. Há aqueles que passam e pouco nos deixam. E há aqueles cuja marca é indelével, que nos marcam para sempre, que ficarão na nossa eterna gratidão, pois fizeram toda a diferença nas nossas vidas. É o caso do nosso querido amigo padre Trindade, como era conhecido por todos. Um grande ser humano. Um sacerdote formado nos tempos antigos, mas com uma mente e um espírito sempre abertos. Um sacerdote sábio e inteligente. Uma alma acolhedora e atenta, a tudo e a todos. Um grande pregador. Um sacerdote sempre com um sorriso no rosto. Um padre muito relacionável. Um padre sempre pronto para servir. Um sacerdote que não se poupava e que vivia no seu silêncio e na sua pobreza edificante. Um sacerdote sempre com uma palavra amiga e certeira. Um sacerdote muito cuidador. Um padre que rezava e ajudava a rezar. Um sacerdote que tinha um pé ligeiro, mas muito firme. Um ser humano incrível.

Hoje, infelizmente, temos padres que não passam de meros funcionários clericais, de serviços mínimos, de apenas celebrar e administrar. Apenas fazedores de coisas que pouco acrescentam à felicidade real das pessoas. O padre Trindade não foi nada disso. Antes, pelo contrário. Estar e cruzar-se com o padre Trindade nas ruas, nos corredores do hospital ou nas celebrações era um encanto que nos dispunha bem e nos fazia alegrar a alma. Sempre muito atento aos problemas das pessoas. Sempre preocupado com o bem-estar dos outros. E sempre com um conselho amigo e uma palavra de encorajamento.
Só conheci, de forma mais próxima, o padre Trindade no ano de 1996, quando foi nomeado Capelão do Hospital de Leiria. E tudo porque abriu as portas da capela do hospital a quem quisesse, juntamente com os doentes, participar nas missas dominicais. Eu ainda era seminarista. Acolheu-me com uma simpatia e um carinho sacerdotal inexcedíveis. Deliciava-me com as suas homilias e com as suas palavras bem pronunciadas e bem audíveis. A partir daí, nunca mais o perdi de vista. Mesmo depois de ter sido ordenado sacerdote, em 2000, quando vinha de férias, tinha um prazer enorme em ir à missa no hospital. Entre os Pousos e Santa Eufémia, não hesitava. Uma capela acolhedora. Junto dos mais frágeis e com um sacerdote que fazia toda a diferença.
Foi neste contexto hospitalar e com a confiança do padre Trindade que tive a grande graça de o substituir durante umas férias, para ele poder ir fazer as suas habituais termas. Amor com amor se paga. Uma experiência inesquecível que me marcou na minha vida de sacerdote missionário.
Se já tinha uma grande admiração pelo padre Trindade, depois desta experiência vi nele um sacerdote a imitar e a seguir. Obrigado, querido padre Trindade. Entraste no meu coração e permanecerás para sempre.
Sacerdotes como este são hoje uma raridade. Saibamos imitar o seu exemplo.
Alegro-me pelo facto de o padre Trindade ter tido um continuador à altura da sua estatura sacerdotal e espiritual. Refiro-me ao atual capelão, padre Pedro Viva.