O ÚNICO OBJECTIVO IRRENUNCIÁVEL

Conta-se de dois rapazinhos – ou melhor dito, um rapaz e um adulto – que, nascidos cada qual no seu palácio senhorial, mas em cidades diferentes, ainda que vizinhas, se encontraram um dia no espaço escolar que os atraíra pelo fulgor da ciência que, mesmo pertencente a igual quadro de conhecimentos, não fascinara a juventude do primeiro nem a maturidade do segundo pelo mesmo motivo.

Chamava-se Inácio, este, já entrado em anos e com marcas evidentes de um passado em que a ambição, a desordem moral, o compromisso político e o patriotismo se haviam chocado com uma intervenção especial de Deus.

O segundo tinha o nome de Francisco, tradicional na família, mas que, apesar de durante os três séculos precedentes, nunca ter deixado de seduzir uma certa juventude, tanto masculina como feminina, não entraria nos sonhos deste jovem fidalgo recém-chegado a Paris.

Encontram-se os dois estudantes, quase vizinhos, e conversam, como qualquer pessoa que sabe, pelo menos por intuição, que a palavra é o único instrumento de comunhão humana, porque só com ela o pensamento produz, desenvolve e comunica ideias.

Como qualquer profissional em início de carreira, tinham muito que dizer, perguntar e responder um ao outro, até pelo momento que se vivia na Europa, abalada pelo fervilhar das polémicas do dificílimo parto dos tempos modernos.

Tendo presente que para um crente nada acontece por acaso, quis a Providência que uma certa inquietação apostólica fizesse com que Início não se acanhasse de pôr o seu jovem vizinho e companheiro de estudos perante a necessidade de analisar o valor dos seus projectos de vida.

Também sabemos todos que, ao logo dos séculos, desde os primeiros discípulos de Jesus, até aos nossos dias, aconteceram grandes mudanças na existência de algumas pessoas, a partir de conversas entre amigos que não se contentavam com uma amizade superficial, de fachada.

De facto, pensando nesse encontro de Inácio de Loiola com o seu vizinho e amigo Francisco de Xavier, o que hoje me chama particularmente a atenção, não é, nem o facto, nem as suas circunstâncias, em si mesmas tradicionais na vida de muitos cristãos e que, acabam por ser um exemplo do que tem de ser o grande método de apostolado pessoal e a evangelização, adequado a todas épocas, culturas e nações.

O que me chama realmente a atenção, e penso que nem Santo Inácio nem os seus seguidores, dentro e fora da instituição de que é festejado como fundador, me levarão a mal, é o facto de aquilo que ele tomou como lema, apesar da sua falta de originalidade, continuar tão pouco e tão mal traduzido na vida da maioria dos cristãos.

Os biógrafos, tanto de Inácio como de Francisco, realçam a provocação daquele – “e depois”- com que Inácio ia respondendo à confissão dos sonhos do amigo e que fez com que o jovem chegado de Navarra se desse conta de que no oceano de objectivos que ali levava tantos estudiosos como ele, independentemente do seu valor ético, cultural e civil, um só era verdadeiramente irrenunciável: fazer a vontade de Deus.

O que na altura isso implicou para o jovem navarro, apesar de fundamental para a sua vida e a de tantos milhares, se não milhões de pessoas, em si mesmo considerado, já não é tão importante: porque perceber que não se pode renunciar ao dever de estar onde e como Deus quer tem muitas outras saídas; tantas quantas as ocupações dignas de uma existência que respeita de modo radical a condição humana.

Pôr Deus como mira suprema, o objectivo último do nosso pensar e agir, tem muitas formas concretas de realização.

O lema de Inácio é verdadeiramente universal.

-Tudo para maior glória de Deus!

O que três séculos antes dele, afirmara Tomás de Aquino, numa fórmula cuja brevidade não eludia o seu conteúdo – em tudo, repara no objectivo – encontramo-lo em São Paulo, numa parte polémica, mas não menos sagrada que as outras, da sua primeira carta aos Coríntios, que lemos esta manhã:

“Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus. Fazei como eu, que em tudo procuro agradar a toda a gente, não buscando o próprio interesse, mas o de muitos, para que possam salvar-se. Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo”.

Modifico ligeiramente o texto português, porque não me prece totalmente fiel ao original grego e latino.

Imitar a Cristo é procurar a Sua fusão com a vontade do Pai, que se consuma na cruz, donde depende a salvação de todos, mas que atinge apenas aqueles que a aceitam.

Bem sei que estamos perante o mistério, que não se resolve adaptando uma outra palavra; mas isso não legitima que o escondamos, porque, se, de facto nem todos se salvam, isso não pode ser por culpa de Deus.

Fiquemos com o preceito de São Paulo, incluído no lema de santo Inácio e que é o princípio fundamental da existência cristã, em todas as suas dimensões.

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