O TRONO DOS REIS DA PAZ

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Esta manhã, ao recordar os sessenta e quatro anos da minha primeira missa no Santuário da Cova da Iria – segundo a liturgia do tempo, celebrava-se então a festa do Coração Imaculado de Maria, criada por Pio XII, tendo em atenção a própria mensagem de Fátima – ao recordar este aniversário e a especificidade da luta pela realeza da Cruz, que constitui a fidelidade ao ministério sacerdotal, pensei que ninguém podia dizer as coisas de modo tão simples, profundo e autorizado como o Santo Padre.

O Santo Padre, que, na passada quarta-feira terminara a Audiência Geral com o seguinte convite a todos os fiéis:

“Maria é Mãe dos que acreditam aqui na terra e é invocada também como Rainha da Paz, enquanto a nossa terra continua a ser ferida por guerras na Terra Santa, na Ucrânia e em muitas outras regiões do mundo. Convido todos os fiéis a viverem o dia 22 de Agosto em jejum e oração, suplicando ao Senhor que nos conceda paz e justiça, e que enxugue as lágrimas daqueles que sofrem por causa dos conflitos armados em curso. Maria, Rainha da Paz, interceda para que os povos encontrem o caminho da paz.”

A este convite do Papa junto, pela sabedoria do seu conteúdo, um passo da homilia que proferiu em Castelgandolfo, pouco depois, comentando algumas palavras de Jesus, que muitos acharão chocantes:

Diz assim o texto de São Mateus:

«Todo aquele que se declarar por mim, diante dos homens, também me declararei por ele diante do meu Pai que está no Céu. Mas aquele que me negar diante dos homens, também o hei-de negar diante do meu Pai que está no Céu.

Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho do seu pai, a filha da sua mãe e a nora da sua sogra; de tal modo que os inimigos do homem serão os seus familiares» (Mt 10, 32-36).

Sem se entreter em explicações conceptuais, o Papa procura mostrar aos seus ouvintes, com exemplos práticos o que afirmara São Paulo a dizer a vida cristã é um combate permanente:

“Pensemos, por exemplo, no preço que deve pagar um bom pai, se quer educar bem os seus filhos segundo princípios sãos: mais cedo ou mais tarde terá de saber dizer “não”, fazer algumas correcções, e isso custar-lhe-á sofrimento. O mesmo vale para um professor que queira formar correctamente os seus alunos, para um profissional, um religioso, um político, que se proponham levar a cabo honestamente a sua missão, e para qualquer outra pessoa que se esforce por exercer com coerência, seguindo os ensinamentos do Evangelho, as suas responsabilidades.

A este respeito, Santo Inácio de Antioquia, enquanto viajava para Roma, onde sofreria o martírio, escreveu aos cristãos dessa cidade: «Não quero que sejais estimados pelos homens, mas por Deus» (Carta aos Romanos, 2,1), e acrescentou: «Prefiro morrer em Cristo Jesus a reinar sobre todos os confins da terra» (ibid., 6,1).

Afinal, como pode alguém imaginar que, mesmo num plano puramente natural será possível construir um mundo pacífico, sem que as pessoas aprendam que tudo tem o seu preço e que só através de muitas renúncias, se é verdadeiramente fiel, pacífico – “fazedor da paz”, segundo o sentido original do vocábulo.

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”! (Mt 5, 9)

É tudo tão complicado e tão simples, ao mesmo tempo: no fundo, a grande recomendação do Papa é que evitemos o que acontece hoje, não apenas quanto à construção da paz, mas na generalidade dos sectores da vida social, política e até religiosa: sermos profissionais, sem um compromisso vital.

É tempo de assumirmos que não haverá no mundo completa harmonia, enquanto um só indivíduo que seja, estiver em desarmonia com o seu próprio ser interior.

Ninguém será verdadeiro construtor da paz – a paz por que anseia todo o coração humano – enquanto não empreender a luta, que tem de ser permanente e progressiva, pela coerência e fidelidade, cortando o que, de qualquer modo, contradiz a sua identidade, como homem e cidadão responsável.

O Papa, como seria de esperar, mantém-se na perspectiva comum da renúncia.

Quanto a mim, as suas palavras, tendo como fundo os meus sessenta e quatro anos de ministério pastoral, ajudam-me a entender melhor a insistência de São Josemaria Escrivá, no senti do de percebermos que o nosso afã de caminhar com Cristo para a glória, não era feito de renúncias, mas de afirmações gozosas: momentos de intensificação do amor, que não cresce senão na medida em que vamos cortando o que é excrescência, rebento impertinente da corrupção primordial.

Não quer verdadeiramente a paz quem não luta pela coerência da sua fé no Reino: Reino que é um só, o de Cristo, no qual mergulha o de Maria… o de cada um de nós. O seu trono é a Cruz, sem a qual ninguém chega à glória.

(25.08.22/23)

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