O MEDO E A EXTENSÃO DO REBANHO

De vários modos a liturgia deste domingo e certos hábitos pastorais a ela ligados, nos falam de pastores, ovelhas e rebanhos.

No fundo da minha sensibilidade, algo se agita sempre, quando releio as páginas do Evangelho em que Jesus, não só parece conhecer como ninguém a relação das pessoas com estes animais, mas utiliza a pastorícia para transmitir algumas das verdades mais belas e profundas da Sua mensagem divina.

É todo o encanto de uma grande parte da minha infância e adolescência que regressa à superfície da memória, limpo de qualquer lembrança mais dolorosa: memórias que, por outro lado, me sussurram, cada vez com miais força, o murmúrio que comecei a ouvir, quando, mais tarde, me dei conta de que também a relação do homem com o animal era manipulada e destruída, na sua pureza original, pelo esquecimento das exigências reais que brotam da verdade do eterno Criador da natureza.

Falar de pastores, ovelhas e rebanhos: páginas recheadas de poesia e profundo significado messiânico!

Mas não me envergonho de confessar que as memórias da minha infância me ajudam mais a compreender esse significado do que as imagens que às vezes me chegam, pelo cinema ou a televisão, dos grandes espaços, com enormes rebanhos, sem a beleza das florestas e o fascínio das explorações agrícolas familiares, que, quando os pastores se descuidavam, faziam com que as ovelhas se tresmalhassem.

Lobos, não havia; mas as histórias que nos contavam as pessoas mais idosas, eram suficientemente coloridas, para entendermos que constituiriam um perigo maior que o da raposa: animal matreiro que por vezes assaltava as capoeiras mais próximas das pequenas florestas onde se poderiam, ainda que muito raramente, encontrar algumas tocas desse animal, já também em franca extinção.

Espiritualmente e de forma, tanto quanto possível total, envolvido pelo ambiente que nestes dias se respira na Igreja, como povo de Deus, escolho como baliza doutrinal das minhas reflexões, dois textos que, de uma forma ou de outra, me ajudam, ao mesmo tempo, a evitar especulações, no mínimo inúteis, e a recentrar duas ideias de Leão XIV que, como não podia deixar de ser, me fazem escutar de novo o que têm vindo a dizer, de muitos modos, os seus antecessores dos últimos cem anos.

Diz-se assim, no terceiro evangelho:

“Em seguida, disse Jesus aos discípulos: «É por isso que vos digo: Não vos preocupeis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir; pois a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que o vestuário. Reparai nos corvos: não semeiam nem colhem, não têm despensa nem celeiro, e Deus alimenta-os. Quanto mais não valeis vós do que as aves! E quem de vós, pelo facto de se inquietar, pode acrescentar um côvado à extensão da sua vida? Se nem as mínimas coisas podeis fazer, porque vos preocupais com as restantes?”

Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois Eu digo-vos: Nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. 28Se Deus veste assim a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé. (…)

Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.» (Lc 12, 22-32).

Uma grande figura da Igreja, como Leão XIV, bispo de Roma e por isso, sucessor de Simão Pedro, escreveu, há mais de treze século séculos:

“As suas ovelhas, portanto, encontram pastagem, porque todo aquele que O segue na simplicidade de coração é nutrido com um alimento de eterna frescura. Que são afinal as pastagens destas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? O alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem interrupção, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida.

Procuremos, portanto, irmãos caríssimos, alcançar estas pastagens, onde poderemos alegrar-nos na companhia dos cidadãos do Céu. A alegria festiva dos bem-aventurados nos estimule. Reanimemos o nosso espírito, irmãos; afervore-se a nossa fé nas verdades em que acreditamos; inflame-se a nossa aspiração pelas coisas do Céu. Amar assim, já é caminhar.

Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior. Se alguém, com efeito, deseja atingir um lugar determinado, não há obstáculo no caminho que o demova do seu intento. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquecesse de continuar a sua viagem até ao fim (São Gregório Magno).

Peço desculpa de transcrições tão longas; mas, quando comecei e procurar as grandes ideias que, quanto a mim, fazem o núcleo central da primeira mensagem do Santo Padre, dei-me precisamente com algumas repetições que o ligam à grande tradição da Igreja, como mistério de Cristo, presente na história dos homens:

Confiança ilimitada no Pastor divino, sem se intimidar com a falta de meios, a pequenês aparente do rebanho, nem com a violência – ou as múltiplas violências – da perseguição.

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