A iniciar a oração da tarde, para fugir à dispersão dos discursos publicitários das nossas televisões, procuro ambientar-me com um pouco de contemplação estética: o “Requiem Alemão” de Brahms traz-me o encanto da música, aparentemente neutra, mas que me ajuda a perceber que, mesmo sem falar de Deus, se torna quase evidente que, sem a Cruz, não entenderemos nada do seu amor por nós.
Afinal, o essencial da mensagem dos evangelhos que alimentam a vida interior de tantos milhões de pessoas, homens, mulheres, adolescentes, jovens e até crianças, está aí: num tempo e num espaço tão marcados pela dor, como seria possível acreditar num Deus que não sofresse connosco, mais, que não assumisse as nossas dores?
“Simpático”, embora raramente se pense nisso, etimologicamente é aquele que sofre verdadeiramente com quem sofre; ou então, se alegra, sem fingimento, porque nos vê alegres: faz sua a nossa alegria.
Daqui salto para o grande desafio de Jesus aos seus ouvintes:
“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva.»
Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que n’Ele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 39-39).
– Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede!
A primeira coisa que me chama a atenção é que Jesus não diz que quem crê n’Ele deixa de ter sede, ou de pensar que a não tem.
Claro. Diz que sacie a sua sede, que não ande atarefado por saciar com águas mortas, ou inquinadas; mas saciada esta, terá tornar-se-á sedento de outras águas, as vivas, que jorrando do coração de Cristo, tornarão quem crê, numa nova torrente de águas vivas.
O evangelista comenta: “Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”.
E que faltava para a sua glorificação? O que diz o mesmo evangelista:
“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva.»
Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).
O mesmo evangelista escreverá mais tarde:
“Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca.
Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água.
Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também.
É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. E também outro passo da Escritura diz: Hão-de olhar para aquele que trespassaram” (Jo 19, 28-37).
Termino, com o olhar em Cristo morto na cruz, com palavras do Papa Francisco, o qual quero homenagear, meditando o trecho que cita de São Paulo.
Escreveu o Papa:
“Todos esperam. No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã. Porém, esta imprevisibilidade do futuro faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: desde a confiança ao medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida. Muitas vezes encontramos pessoas desanimadas que olham, com cepticismo e pessimismo, para o futuro como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade. Que o Jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança! A Palavra de Deus ajuda-nos a encontrar as razões para isso. Deixemo-nos guiar pelo que o apóstolo Paulo escreve precisamente aos cristãos de Roma:
«Portanto, uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. Mais ainda, colorimo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança.
Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rom 5, 1-5).