Presidente da CEP é um dos representantes de Portugal em assembleia sinodal centrada no futuro da Igreja
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse à Agência ECCLESIA que a próxima assembleia sinodal é um “etapa fundamental” na vida da Igreja, com muitas “esperanças” e também “objeções”, que devem resultar num trabalho de “unidade”.
“Há uma perspetiva de fazer tudo juntos, cada um no seu papel, sem concentrar em si todos os papéis da comunidade”, com “participação e corresponsabilidade na tomada de decisões”, precisa D. José Ornelas, que com D. Virgílio Antunes, vice-presidente da CEP, vai representar Portugal na primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se inicia quarta-feira.
“É isto que temos de restituir à Igreja, não estamos a inventar, estamos a restituir. Não estamos em contraposição com a tradição, com o passado”, acrescenta.
O bispo de Leiria-Fátima destaca o percurso realizado desde 2021, quando Francisco convocou este processo sinodal.
“Chegamos capilarmente às comunidades paroquiais, até a grupos, a nível vicarial e de cada diocese, em todo o mundo. Isto significa, realmente, escutar o Povo de Deus, não simplesmente para ouvir ou ir a votos, mas para fazer caminho juntos”, precisa.
O representante da CEP considera que esta metodologia de trabalho “já está a mudar a Igreja”, assumindo a necessidade de “reconduzir à unidade” a diversidade da vida eclesial.
“Não se está a discutir um tema, está a procurar-se entender, para os dias de hoje, o que é a Igreja. O tema é a própria Igreja. Isso significa pôr-se em questão, cada um e cada instituição, sobre o modo como vivemos, como participamos, como organizamos, como partimos em missão para quem precisa”, sustenta.
É bom que lutemos por ideais, também, mas essas ideias têm de ser reconduzidas à unidade da Igreja, que não pode ser posta em causa. Caso contrário, perdemos a própria credibilidade de ser Igreja. Não estou aqui para impor a minha vontade nem para saber quem vota, quantos milhões são mais a favor e quantos são contra. Não se trata disso. A missão da Igreja é discernir o que Deus quer para este momento e, para isso, é necessário ouvir todos, porque o Espírito fala em todos”.
Para D. José Ornelas, o caminho sinodal chama todos a “exercer o serviço que cada um é chamado a desempenhar na Igreja”.
“O Papa não perde autoridade nem o seu papel, porque não seria bom para a Igreja. Os bispos não perdem o papel nas suas dioceses, o pároco não perde papel nem importância na sua comunidade”, realça, numa entrevista realizada antes da partida para o retiro espiritual que decorre até terça-feira, a ‘Fraterna Domus’, em Sacrofano, cerca de 25 quilómetros a norte de Roma, com todos os participantes no Sínodo.
O presidente da CEP considera que a JMJ Lisboa 2023 foi um “bom exemplo” desta dinâmica, com protagonismo de vários responsáveis, incluindo as novas gerações.
“Fizemos a experiência de que isto pode funcionar e de como é bonito o resultado desta Igreja: não porque é moderno, de moda. Não se trata de modas, trata-se da raiz mesma da Igreja, da Igreja como nasceu”, explica.
D. José Ornelas mostra-se satisfeito com o percurso feito em Portugal, nos últimos anos, tanto na preparação da JMJ como no caminho sinodal, destacando a necessidade de a Igreja “estar presente na vida dos homens e das mulheres deste mundo”.
Já o padre Filipe Diniz, assistente do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, considera que este Sínodo se inspirar na experiência da assembleia de 2018, dedicado aos jovens.
“O Sínodo é esta capacidade de caminharmos juntos, de uma Igreja que dá sentido à dimensão da escuta”, refere.
Quanto ao papel das novas gerações, o sacerdote vê na assembleia sinodal uma “oportunidade e reconhecimento daquilo que eles são, dando-lhe voz”.
Ivo Faria, chefe nacional do Corpo Nacional de Escutas (CNE), entende, por sua vez, que Francisco desafia a Igreja a “caminhar, a discernir, a crescer e a encontrar também um rumo, para o seu futuro”.
“Ficamos muitos felizes por perceber o compromisso que o Santo Padre tem em estar com os jovens, ouvir os jovens e fazer, também, com que sejam membros ativos da comunidade, não porque vai ter um papel no futuro, mas porque já a tem hoje”, sublinha.
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano