NA LÓGICA DA ENCARNAÇÃO A MÍSTICA DA DIFERENÇA

Deus, que toma a iniciativa de criar, é também o aliado que toma a iniciativa de restaurar a Aliança, quebrada pela infidelidade do homem: para entrar nessa restauração de modo definitivo, só temos um modelo, que é o próprio Deus.
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“Eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus.”

Jesus fala a ouvintes, por isto e por aquilo, habituados a considerarem-se membros de um povo particularmente favorecido pelo seu Deus e detentor de uma cultura religiosa superior. No seio deste povo, sobretudo entre os que moravam na Palestina, havia duas categorias de pessoas que toda a gente considerava como modelos no conhecimento (os escribas) e no cumprimento da Lei (os fariseus).

O Mestre não contesta tal complexo de superioridade, nem ataca o prestígio desses que o comum das pessoas tomava como modelos. Porque, na mentalidade do tempo, eram, de facto modelos: o que jesus quer é que todos percebam, os Seus discípulos, antes de mais e acima de tudo, é que só Deus é perfeito e, consequentemente, só Ele pode ser tomado como modelo. No fundo, do que se trata é de salvar a Aliança, não propriamente a que ser exprime através dos diferente códigos escritos ao longo dos séculos, para o Povo os cumprisse. Mas a Aliança absolutamente gratuita, incluía no gesto criador de Deus.

Deus, que toma a iniciativa de criar, é também o aliado que toma a iniciativa de restaurar a Aliança, quebrada pela infidelidade do homem: para entrar nessa restauração de modo definitivo, só temos um modelo, que é o próprio Deus.

Ouçamos São Paulo, na sua carta aos Gálatas:

“Quando chegou a plenitude dos tempos. Deus enviou o Seuseu Filho, feito de mulher, feito sob a lei, a fim de libertar aqueles que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adopção de filhos. E, porque vós sois filhos. Deus mandou aos vossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Abbá, Pai! Portanto já não és servo, mas filho; e, se és filho, também és herdeiro de Deus (Gal 4, 4-7).

E na carta aos Hebreus, que reflecte muito do ensino de São Paulo, diz-se, a certa altura:

“Tendo nós, pois, um grande pontífice, que penetrou os céus, Jesus, Filho de Deus, sejamos firmes na profissão da nossa fé. Não temos um pontífice que não possa compadecer-se das nossas enfermidades, mas que foi tentado em tudo á nossa semelhança, excepto no pecado (Hebr 4, 14-15)

Em tudo igual a nós, excepto no pecado.

Esta é a lógica da Encarnação: o Criador faz-se criatura. Totalmente criatura, menos naquilo que nega a verdade do ser criado, porque é precisamente para salvar essa verdade que Ele Se faz criatura.

Mas não Se faz criatura a fingir, nem sequer provisoriamente: é por isso que certos teólogos falam, em meu entender correctamente, na humanidade de Deus. E como poderia ser de outro modo, se Ele é suma Verdade, e vem para salvar a verdade das coisas e das pessoas, afogada nos ardis do pai da mentira?

Jesus é este Deus, assim, feito um de nós, para que todo o mundo recupere a sua dignidade primitiva. Sim, todo o mundo, incluindo as criaturas irracionais, os animais e os seres inanimados, que, no abismo da nossa degradação ética e cultural, estão a ser vítimas do pior insulto da história da civilização: porque os querem privar da dignidade que lhes vem da harmonia do conjunto criatural e não de ideologias aberrantes, que, por estranho que pareça, projectam no mundo envolvente a degradação do próprio homem.

Jesus quer que os Seus discípulos, mesmo à custa de qualquer das mortes que isso possa provocar-lhes, amem o mundo como Ele o amou, até morrer por ele.

Ouçamos ,mais uma vez, São Paulo:

“Irmãos: Como colaboradores de Deus, nós vos exortamos a que não recebais em vão a sua graça. Porque Ele diz: «No tempo favorável, Eu te ouvi; no dia da salvação, vim em teu auxílio». Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação. Evitamos dar qualquer motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado.

Mas mostramo-nos em tudo como ministros de Deus, com grande perseverança nas tribulações, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nos tumultos, nas prisões, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns; pela pureza, pela sabedoria, pela paciência, pela bondade, pelo espírito de santidade, pela caridade sem fingimento; pela palavra da verdade, pelo poder de Deus; pelas armas ofensivas e defensivas da justiça; na honra e na ignomínia, na difamação e na boa fama.

Somos considerados como impostores, embora verdadeiros; como desconhecidos, embora bem conhecidos; como agonizantes, embora estejamos com vida; como condenados, mas livres da morte; como tristes, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como não tendo nada, mas possuindo tudo” ( 2 Cor 6, 1-10).

É certo que Paulo está apensar sobretudo nas dificuldades que ele próprio tem encontrado no seu ministério; mas quando Jesus diz aos discípulos que têm de ser diferentes dos que dante deles eram tidos como os melhores, não aponta um caminho diferente diferente.

“Porque eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mt 5, 21).

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