A necessidade de mais evangelizadores para a América Latina e de pessoas dispostas a consagrar as suas vidas a Deus e ao serviço dos irmãos mais pobres foi a razão que levou o bispo claretiano D. Geraldo Fernandes Bijos e a Madre Leónia Milito a fundarem as Missionárias de Santo António Maria Claret, em 1958, no Paraná, Brasil.
Também conhecidas por Missionárias Claretianas, assumem como lema “Bondade e Alegria” e como vocação “assemelhar-se a Jesus na sua doação aos irmãos”.
Este instituto religioso rapidamente se expandiu por todo o mundo e chegou também a Portugal, em 1995, a convite do Bispo de Leiria-Fátima, para assumir a condução da Casa de São Miguel, no Santuário de Fátima. Ali são acolhidas crianças oriundas de famílias desfavorecidas, “carentes de afeto e de um ambiente seguro, saudável e tranquilo para o seu desenvolvimento”, explica a diretora, irmã Rufina Ferreira. Assim, a sua missão é proporcionar a estas crianças e jovens “uma sólida formação humana, visando o seu harmonioso desenvolvimento psíquico-afetivo, moral-espiritual e intelectual-cívico, de modo a favorecer o seu crescimento, garantindo-lhes as condições básicas, de forma segura e integrada”
Carisma e espiritualidade
O carisma das Claretianas tem como princípio fundamental o seguimento de Jesus, Missionário e Redentor. Dele nasce e se sustenta a espiritualidade, centrada na Eucaristia e em Maria, em cujo coração Deus estabelece a morada humana da redenção. Vivem em comunidade fraterna, onde cultivam as virtudes da bondade, alegria, simplicidade, humildade, caridade, disponibilidade e obediência.
A Eucaristia é “o centro vivificador, o ponto alto da espiritualidade, comunhão e ação apostólica”. É dela que partem para servir os pobres e a ela regressam, a fim de retemperar o espírito e as energias apostólicas. Em complemento, a prática diária da adoração eucarística é o “prolongamento da celebração do mistério de Cristo, expressão de amor e de comunhão com Ele e de compromisso com os irmãos”.
Missão
A Congregação assume como missão essencial “o anúncio da Palavra de Deus em todos os lugares do mundo e o serviço da caridade para com os mais pobres, utilizando para isto todos os meios possíveis” (cf. C. 07).
Em concreto, as Claretianas, “por meio da leitura atenta dos sinais dos tempos”, procuram ir ao encontro dos que mais precisam desse anúncio e “ser presença profética e transformadora nos lugares onde a vida se encontra desprotegida e ameaçada”. É o caso da promoção da formação pastoral, teológica, bíblica, espiritual e, mesmo, profissional. Bem como do acolhimento a peregrinos, apoio a portadores do vírus HIV, trabalho em centros para idosos, jardins de infância e escolas, centros de atendimento de saúde física e psíquica, parcerias com projetos internacionais em favor da vida, etc. P
Um dia na comunidade
Nesta missão com os internos da Casa S. Miguel, as atividades diárias nunca são as mesmas. Mas, normalmente, o despertar é às 05h45, com a oração e a Eucaristia até às 08h15. A essa hora começa o trabalho com a educação das crianças e jovens, mas continua durante toda a manhã o clima de oração pessoal, com cada uma a marcar presença diante do Santíssimo exposto.
Ao meio-dia, voltam a encontrar-se para a oração da Hora Intermédia e, às 16h00, para as Vésperas. É a partir daí que se dedicam exclusivamente ao acompanhamento das crianças e jovens, até às 22h30.
“Apesar das exigências crescentes da missão, consideramos fundamental o cultivo da vida espiritual todos os dias”, explica a irmã Rufina. Por isso, duas vezes por semana, entre as 13h30 e as 15h00, têm formação comunitária e, uma vez por semana, a partilha comunitária da Palavra de Deus. Além disso, reservam um dia por mês para retiro e celebração da Confissão.
Testemunho vocacional
“O meu Amado esperou-me na contramão!”
A irmã Rufina Maria Ferreira, 62 anos de idade, natural do Brasil, é a diretora técnica da Casa de S. Miguel e coordenadora da Comunidade. Pedimos-lhe que nos contasse como aconteceu a sua vocação.
Filha de pais que todos os dias rezavam o terço, senti ainda muito pequena o despertar da vocação para o anúncio da Palavra e o serviço da caridade. Os meus pais eram fazendeiros, donos de uma quinta enorme para onde eu convidava outras crianças a brincar. Fazíamos andores e procissões e eu gostava de pregar às galinhas enquanto debulhava o milho, ou fazer hóstias com casca de laranja para as “missas” a fingir. Eram brincadeiras de criança, mas talvez no íntimo o Senhor estivesse já a seduzir-me para a missão ad gentes!
Uma situação que me marcou muito, por exemplo, foi uma visita que fiz com a minha mãe a uma família pobre, cujo filho era portador de uma doença rara e contagiosa. A criança estava isolada, não caminhava e tinha já perdido os dois braços. Era uma criança linda, contudo, evidenciava uma profunda tristeza! A minha mãe tinha-me preparado para aquele cenário, mas vê-la sentada no chão a comer uma banana apertando-a com os antebraços deixou-me quase em choque! Quando nos retirámos, perguntei à minha mãe se não havia ninguém para cuidar dessa criança. Ela respondeu-me que havia “umas freiras” que faziam esses serviços. Aquela resposta ficou cá dentro a intrigar-me…
Passado algum tempo, o meu pai mandou-me estudar para um colégio de freiras. Fiquei contente, porque alimentava o desejo de vir a ser como elas. Mas aquelas irmãs professoras eram muito rigorosas e eu via-as sempre casmurras. Por isso, desviava esse pensamento, recusava, fugia, porque não queria de forma alguma ser como elas, sempre sérias e de “cara feia”!
Mas Deus esperou… e apanhou-me em contramão! Um dia, ao entrar numa igreja com o meu namorado, vi uma irmã vestida de branco ajoelhada em frente ao altar. Num impulso, deixei-o à porta e corri para ela, perguntando-lhe “o que é preciso para ser freira?”. Ela ainda achou que era algum “mal de amor”, pois viu o rapaz “plantado” ao fundo da igreja, mas assegurei-lhe que não. Então ela disse-me: “Para ser freira, só é preciso querer!”.
Foi aí que tomei a decisão, mesmo contrariando a vontade dos meus pais. Tornei-me uma missionária sem fronteiras e plenamente feliz! Olhando para trás, sinto e sei que a minha vocação nasceu e nasce do desejo “louco” de me configurar com Jesus na vivência do Evangelho. O Senhor seduziu-me e eu deixei-me seduzir! Fui e sou levada, sustentada por um amor entranhável, esponsal!
Já corri países e continentes e estou em Portugal desde 1995, nesta Casa de S. Miguel, onde o Senhor me chamou para me doar aos pequeninos, seus prediletos! É uma missão que considero ser o “santuário vivo” da Mãe do Redentor.”
Irmã Rufina Maria Ferreira, mc
Números
No mundo
Casas: 77
Membros: 345 professas e 23 noviças
Em Portugal/Diocese
Casas: 1
Membros: 3
Mais nova: 54 anos
Mais velha: 64 anos
Média etária: 58 anos