Mensagem do Santo Padre para o 51.º Dia Mundial da Paz: “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”

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Todos os anos se iniciam com o mote da paz, cujo dia mundial é celebrado a 1 de janeiro, desde há mais de meio século. E todos os anos o Papa indica um caminho de reflexão que contextualiza a atualidade do tema. Em 2018, a tónica é colocada na relação dos migrantes e refugiados com as comunidades de acolhimento.

Luís Miguel Ferraz

Na sua mensagem para o 51.º Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco começa por recordar que “a paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal, é uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos” e passa imediatamente a lembrar “os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados”. São homens e mulheres, crianças, jovens e idosos que arriscam a vida e se sujeitam a todos os perigos para fugir da guerra, da fome e de todo o género de perseguições.

“Não basta abrir os nossos corações ao sofrimento dos outros”, pois “acolher o outro requer um compromisso concreto”, afirma o Santo Padre, apontando a responsabilidade concreta dos governantes nesta matéria, sempre com “prudência” e atenção ao “desenvolvimento harmónico” das próprias comunidades.

Francisco constata que o século XXI “não registou uma verdadeira viragem” em relação aos conflitos e horrores que caracterizaram o século XX. Mas há novas razões para a migração, como a busca de uma vida onde os direitos humanos sejam respeitados ou a fuga da “miséria agravada pela degradação ambiental”. Estes fluxos têm gerado em muitos países de destino “uma retórica que enfatiza os riscos para a segurança nacional ou o peso do acolhimento dos recém-chegados”, aponta o Papa, dizendo sem medo que “quem fomenta o medo contra os migrantes, talvez com fins políticos, em vez de construir a paz, semeia violência, discriminação racial e xenofobia”. Solução: “Eu, pelo contrário, convido-vos a vê-las com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um futuro de paz”, escreve.

 

Olhar cristão

É aqui que entra a “sabedoria da fé”, que indica a humanidade como “uma só família”, com “o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal”. Francisco desafia, por isso, à descoberta das riquezas trazidas pelos migrantes e refugiados: “uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas”, o que enriquecerá “a vida das nações que os acolhem”. Por outro lado, são também uma riqueza “a criatividade, a tenacidade e o espírito de sacrifício de inúmeras pessoas, famílias e comunidades que, em todas as partes do mundo, abrem a porta e o coração a migrantes e refugiados, inclusive onde não abundam os recursos”. Potenciar estes dinamismos será caminho para transformar “em canteiros de paz as nossas cidades, frequentemente divididas e polarizadas por conflitos”.

Concretizando esta mensagem, o Papa aponta quatro ações: “acolher, proteger, promover e integrar”. Acolher implica “ampliar as possibilidades de entrada legal”. Proteger leva a “reconhecer e tutelar a dignidade inviolável” dessas pessoas e “impedir a sua exploração”. Promover obriga a oferecer um “desenvolvimento humano integral”, que inclui o acesso à instrução. Integrar significa permitir que “participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe”.

 

Política internacional

O Chefe da Igreja Católica deixa, ainda, o voto de que seja este o espírito dos dois pactos a aprovar este ano pelas Nações Unidas nestas matérias, “inspirados por sentimentos de compaixão, clarividência e coragem, de modo a aproveitar todas as ocasiões para fazer avançar a construção da paz”. E concluiu: “Só assim o necessário realismo da política internacional não se tornará uma capitulação ao cinismo e à globalização da indiferença”. Palavras duras, para defender que “o diálogo e a coordenação constituem uma necessidade e um dever próprio da comunidade internacional”.

Francisco aponta, por fim, o empenho da própria Igreja neste campo, através do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que sugere “pistas concretas” para a “conduta e ação das comunidades cristãs”. Isto porque “tal interesse confirma (…) a solicitude pastoral que nasceu com a Igreja e tem continuado em muitas das suas obras até aos nossos dias”.

 

Comissão Nacional Justiça e Paz sublinha

Portugal “ganha” com imigração

A Comissão Nacional Justiça e Paz, em nota publicada no final de dezembro, associa-se à Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz e sublinha que as migrações “contribuem para o desenvolvimento, quer dos países de origem dos migrantes, quer dos países de destino”.

Assim, defende que “é bom que estas palavras tenham um particular eco em Portugal, um país marcado pela emigração desde há séculos (e que dela tanto beneficiou e continua a beneficiar) e também, mais recentemente, pela imigração”.

Neste contexto, a CNJP aponta os “dados mais recentes” do Observatório para as Migrações, indicando que “os contributos financeiros dos imigrantes para o Estado português são maiores do que as prestações de que beneficiam. E apesar de estes conhecerem maior risco de pobreza e privação material severa do que os nacionais”.

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