“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino.”
Como um raio fulminante em céu sereno, no dizer do Cardeal Sodano, estas palavras de Bento XVI há um ano atrás, a 11 de fevereiro, rasgaram a pacatez do nosso viver quotidiano e abriram um tempo novo na Igreja.
Foi tão perturbador o anúncio da renúncia que foram poucos os que tiveram a serenidade para o acolher na extraordinária força da sua verdade. Muitos ficaram presos ao momento e à fácil solução das teorias conspirativas. Multiplicaram-se especialistas em encontrar razões totalmente ao lado e em sentido contrário às apresentadas por Bento XVI. Estas, as verdadeiras, não lhes serviam, não estavam de acordo com o seu modo de olhar viciado em jogos de poder que todos os dias fazem os títulos dos meios de comunicação.
Também nós podemos cair nesta tentação. Então veremos tudo distorcido e perderemos a beleza e a força de um gesto absolutamente coerente e evangélico. As palavras transmitidas aos cardeais e a todos nós naquela memorável manhã têm a força das palavras de Jesus que falava com a autoridade da coerência e não como os escribas e os fariseus. O que movia Bento XVI era simplesmente fazer o que, diante de Deus, lhe parecia em consciência dever fazer. O mesmo que tinha feito em 19 de Abril de 2005 ao aceitar a escolha para ser o Sucessor de Pedro. Se escutarmos algumas palavras ditas nesse dia: “os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor” e estas ditas na sua última audiência em 27 de Fevereiro de 2013: “Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo sempre diante dos olhos o bem da Igreja e não a nós mesmos”, perceberemos que Bento XVI foi um verdadeiro sucessor de Pedro que, tal como este, aprendeu com Jesus que a arte da vida cristã é a de se deixar conduzir por Deus.
Há distância de um ano, creio que todos subscrevemos estas palavras de um cartaz ostentado na despedida de Bento XVI em Castelgandolfo: “A Tua Humildade tornou-te maior. Obrigado, Papa Bento”.