Luzes natalícias

“Quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite estava no meio do seu curso, a vossa palavra omnipotente, Senhor, desceu do seu trono real” (Sap 18, 14-15).

Finalmente, o silêncio, as ruas mal iluminadas e os passeios cheios de entulho material e humano.

Entulho humano? Que disparate!

Ouvi dentro de mim uma voz revoltada contra visão tão negativa:

Neste meu primeiro despertar após as festas natalícias, que terminei em luta contra os efeitos da gripe, apesar de todas as tentações nascidas das circunstâncias, o texto bíblico mais teimoso em martelar-me os ouvidos trazia uma marca positiva que lhe vinha da leitura que dele fazia a Liturgia, em contextos diferentes, desde a minha adolescência. E soava sobretudo em latim: “dum silentium teneret omnia…” por isso levei tanto tempo em reecontrá-lo:

Ele aí está, precisamente na tradução litúrgica do sexto dia da Oitava do Natal.

“Quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite estava no meio do seu curso, a vossa palavra omnipotente, Senhor, desceu do seu trono real” (Sap 18, 14-15).

Segundo a opinião dos exegetas, os sábios da Escritura, os eventos concretos que o autor sagrado tem diante dos olhos (1Cr 21, 15—22,1), não têm de positivo senão o que neles se descobre na coerência global da Revelação divina. É por isso que me interessa tanto – neste momento, interessa-me exclusivamente -, a leitura que do texto faz a Tradição cristã:

Trata-se, afinal, de uma referência ao mistério da Encarnação do Verbo, a Palavra eterna de Deus, que sem ruído nem violência de qualquer espécie, penetra no mundo em ruínas, restaurando por dentro, na mediada em que ela aceita, a Criação inteira, com o Homem como sua coroa indiscutível.
Coroa indiscutível e, por isso mesmo, também responsável pela eficácia dos gestos divinos pelos quais a misericórdia transforma o Criador em Redentor.

A linguagem tradicional, desde os tempos bíblicos, do Novo como do Antigo Testamento, favorece a criação de uma ideia excessivamente jurídica de redenção, como, aliás acontece com a noção de pecado; e isso dificulta a compreensão global do mistério de amor divino e desamor humano em que assenta a nossa fé num Deus que cria e salva porque ama.

E este Deus, que cria e salva assim, continua a ser o mesmo para mim, quando estou de saúde ou doente, quando floresço de sonhos juvenis e quando sinto o peso dos anos a encurtar-me os passos, quando determino livremente o que posso e devo fazer agora, ou quando me sujeito aos cuidados de quem me ajuda nas minhas debilidades.

“A vossa palavra omnipotente, Senhor, desceu do seu trono real”, não para dominar, punir ou esmagar: mas para dar valor divino ao que corre permanentemente o risco de o perder.

Pela recusa original de não querermos senão o que conquistamos, de rejeitarmos tudo quanto seja recepção, acolhimento, dependência.

Natal de todos os dias!

É uma frase que se repente em muitos tons, nem todos positivos, mesmo quando se quer dizer que o cristão tem de estar todos os dia em Natal.

Por mim, a grande súplica que faço a Jesus Menino – repare-se que não digo ao Menino Jesus – é que esta chegada tão silenciosa quão permanente da Palavra omnipotente me encontre sempre de coração aberto para o que me quiser dar – saúde ou doença – e como tal o valorize a cada momento.

Só assim se não apagarão para mim as luzes natalícias.

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