Na passagem do VIII Centenário do seu nascimento, foi apresentado o livro “Santa Teresa de Ourém”, de António Rodrigues Baptista, no Centro Pastoral Paroquial de Nossa Senhora da Piedade, com a presença de meio centena de participantes, entre os quais os Presidentes da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Piedade e da Universidade Sénior de Ourém que usaram da palavra para dizer da importância da obra em causa.
O autor agradeceu a presença de todos, em especial dos representantes das Instituições acima referidas, do pároco de Nossa Senhora das Misericórdias, padre Pedro Ferreira, de antigos colegas do Seminário de Leiria e outros amigos, e recordou alguns aspectos de maior actualidade da vida de Santa Teresa, salientando o valor e o alcance do evento, pois coube-nos a nós celebrar tão significativa data. A apresentação da obra ficou a cargo do pároco de Nossa Senhora da Piedade, padre Armindo Janeiro, cujo texto se publica. No final, o autor ofereceu a todos os presentes um exemplar.
I – Breve nota biográfica
Teresa nasceu em 1220 no Zambujal, hoje freguesia de Atouguia, e faleceu a 03.09.1266; viveu com os pais até à morte deles. Sendo familiar do Prior da Freguesia de São João Baptista (ao tempo, uma das quatro freguesias da Vila de Ourém), entrou ao seu serviço, como doméstica. Ali viveu até à sua morte, exercendo exemplarmente as suas funções e dedicando-se à oração, à penitência e às obras de caridade.
A fama de santidade começou logo em vida e muitos são os milagres a ela atribuídos, antes e depois da sua morte. Sobre Ourém e Santa Teresa, escreveu, em 1758, o Padre Luís António Flores, Coadjutor da Colegiada de Ourém, cinco séculos mais tarde e três anos após o Terramoto que destruiu a Vila de Ourém: “porém quem mais enobrece esta Vila é a santidade da gloriosa beata virgem Teresa de Ourém que (…) na mesma Vila viveu e nela foi o seu glorioso trânsito”.
Durante séculos, as relíquias de Santa Teresa (casco da cabeça) atraíram devotos e motivaram peregrinações à Igreja da Colegiada de Ourém; no aniversário da morte (3 de Setembro), as suas relíquias eram expostas à veneração dos fiéis.
Embora o único papa português – João XXI – tenha exercido o múnus petrino durante oito meses (26.09.1276 – 20.05.1277) e dez anos após a morte de Santa Teresa de Ourém, o certo é que ela não foi canonizada e o seu nome não se encontra nos registos da respectiva Congregação, conforme consulta recente do nosso Bispo D. António Marto à Santa Sé. Contudo, o nome de Santa Teresa de Ourém consta nas Actas do Santos (1756) e na Biblioteca do Santos, como o Doutor António Baptista documenta no livro que hoje se apresenta.
É certo que a Igreja sempre reconheceu os santos, mas nem sempre o fez do mesmo modo. Nos primeiros séculos, o reconhecimento da santidade acontecia localmente, a partir da fama popular do santo e com a aprovação dos bispos. No final do primeiro milénio, sobretudo no Ocidente, começou a ser solicitada a intervenção do Papa a fim de conferir um maior grau de autoridade às canonizações dos santos.
Em 1234, Gregório IX determinou que as canonizações passariam a ser da exclusiva competência do Papa. No século XVI, começou a distinguir-se entre “beatificação” – reconhecimento da santidade de uma pessoa com culto local – e “canonização” – reconhecimento da santidade de uma pessoa com culto universal, isto é, em toda a Igreja. Em 1662, Alexandre VII determinou que também as beatificações passariam a ser da exclusiva competência do Papa.
II – O livro “Santa Teresa de Ourém”
No espaço de quatro anos, por três vezes e em contextos diferentes, foi-nos dada a oportunidade de revisitar a vida desta nossa ilustre conterrânea.
Em 2016/2017, por ocasião da exposição colectiva de pintura “Santos da terra – Santa Teresa e Beato Simão Lopes”, tivemos a oportunidade de escutar uma comunicação do Doutor Baptista sobre Santa Teresa, na passagem dos 750 anos da sua morte. Descobrimos então que este tema o acompanhava desde os tempos de Seminário.
Em 2019, quando decidimos incluir no livro “Ourém, nos caminhos da Palavra”, uma reportagem fotográfica sobre a referida exposição e a sua comunicação, o Doutor Baptista procedeu a novas investigações para completar a informação antes recolhida.
Agora, ao celebrarmos o VIII Centenário do seu nascimento, o nosso Autor deu-lhe forma final e publica-a, acompanhada de belas fotos das imagens de Santa Teresa.
O livro “Santa Teresa de Ourém”, além de uma Nota de Abertura e de uma Conclusão, compõe-se de três capítulos: no primeiro, o Autor apresenta as principais fontes sobre Santa Teresa de Ourém: “Actas do Santos” (1756) e “Biblioteca do Santos”; no segundo, apresenta 22 autores e escritos sobre a nossa ilustre conterrânea; e no terceiro, procura fazer uma breve interpretação dos seus milagres. Para o nosso Autor, esta é “talvez a nota mais significativa do livro” (pg. 11).
Do ponto de vista histórico e pastoral, muito lhe agradecemos o serviço que nos presta, tanto espiritual como culturalmente, pois enraíza na nossa história a veneração que prestamos a Santa Teresa, seguindo os critérios definidos pelo II Concílio do Vaticano (SC 23), e oferece a toda a comunidade cristã um exemplo de vida vivida em plenitude, pois a santidade é o pleno cumprimento da nossa humanidade, segundo o modelo que é Cristo.