Vivamos a alegria do Natal do Senhor
Breve introdução
Terminado o tempo de Advento, em que fomos convidados à conversão e à escuta, a alimentarmos a nossa caminhada a partir da esperança da vinda próxima do salvador, eis-nos chegados ao dia em que nos é proposto celebrar o momento histórico em que Deus assume a nossa condição humana, ao nascer em Belém. Se o Advento é promessa e espera, o Natal é cumprimento, felicidade e alegria.
Vivemos tempos especiais, em que, assumindo a responsabilidade de lutar contra um mal que a todos nos atinge, somos convidados a limitar e conter muita da alegria e da convivência familiar a que estávamos habituados. «Porém, o vírus não pode extinguir o amor, a esperança e a alegria natalícias» (D. António Marto, Mensagem de Natal 2020).
Durante esta leitura orante da Palavra de Deus, deixemo-nos possuir pela alegria que o Céu nos veio dar, porque «o Verbo fez-se homem e veio habitar no meio de nós» (Jo 1, 14).
1. Invocação inicial
Senhor Jesus, Tu és o Emanuel, o Deus connosco.
Fizeste-Te homem para nos salvar.
Nasceste na pobreza da gruta de Belém
para nos dizer que o Natal é verdade,
simplicidade, acolhimento, fraternidade e Amor.
Pedimos-Te que abras o nosso coração à Tua Palavra,
pois és Tu que nos falas e vens a nós,
és Tu que desejas ser recebido e nascer no nosso coração. Ámen.
2. Escuta da palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo São Lucas
O primeiro capítulo é a preparação do que agora encontramos nos primeiros versículos do segundo. Fixando-nos somente nas personagens, podemos dizer que Zacarias e Isabel, João Batista, Maria e José são personagens de uma história que apresenta agora o seu verdadeiro protagonista: Jesus, filho de Deus e filho de Maria. O relato do seu nascimento está cheio de pormenores, ricos de mensagem: Deus vem até nós na pessoa do Seu Filho, nascido na pobreza de uma gruta e recostado numa manjedoura. Aquele Menino é um sinal que precisa de ser lido e acolhido por cada um de nós, para que possamos receber dele a salvação e a paz.
2. 2. Leitura do Evangelho segundo São Lucas (Lc 2,1-14)
Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este primeiro recenseamento efetuou-se quando Quirino era governador da Síria. Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».
2.3. Breve comentário
S. Lucas, preocupado em escrever somente aquilo que previamente tinha sido cuidadosamente investigado (cf Lc 1, 1-4), começa por fazer um pormenorizado enquadramento histórico e político do acontecimento. O recenseamento decretado pelo imperador tinha, entre outros, objetivos económicos: sabendo-se o número de pessoas e respetivos haveres, os impostos cairiam com mais rapidez e exatidão. Por outro lado, este facto é usado pelo evangelista para “deslocar” José e Maria desde Nazaré até ao local onde o Messias devia obrigatoriamente nascer: Belém, a cidade do rei David.
A descrição do nascimento é simples e rápida, bastam dois versículos. Maria dá à luz o seu filho num local habitualmente usado como abrigo de pastores. O primeiro berço do recém-nascido foi uma manjedoura de animais. Desta forma, o evangelista sublinha a simplicidade, humildade e desprendimento de que se reveste toda a cena.
A revelação do mistério e do seu alcance surge de seguida, quando os pastores são surpreendidos pelo anjo que, depois de os convidar a não ter medo, lhes anuncia uma grande alegria, para eles e “para todo o povo”: o menino que tinha nascido era o Messias prometido. Esta Boa Nova não se fica por aqui, transforma-se imediatamente em convite a ir, encontrar e deixar-se encontrar pelo “Salvador, que é Cristo Senhor”. Aqui chegados, eis-nos perante algo completamente surpreendente e desconcertante: Deus escolhe tornar-se presente na vida do seu povo através da fragilidade de um recém-nascido. O verdadeiro Amor, o único que salva, não se impõe; a verdadeira Alegria, aquela que não passa, não faz algazarra; a verdadeira Riqueza, aquela que importa possuir, reside no coração e está envolvida em pobres panos.
Perante o grande mistério de Deus que se faz Emanuel, o coro celeste reúne-se para cantar a Sua glória: aquela que lhe é própria porque é Deus e aquela que a humanidade inteira é chamada a dar-lhe, por todo o amor que lhe fez chegar. Terra e céus unem-se por causa de um Menino mensageiro da paz.
- Silêncio meditativo e diálogo
José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe.
José é o homem discreto, não precisa sequer de usar da palavra para acolher a missão que Deus lhe confiava. O seu coração guarda uma fé e uma confiança tão grandes que dispensa uma compreensão total e completa do que estava a acontecer ao seu redor. No momento de agir, não vacila e faz o que Deus lhe segreda no coração.
O que me diz o exemplo de S. José? Sou decido e determinado em cumprir a missão que Deus me confia?
Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Deus tem uma lógica própria, foge do cómodo, do estabelecido, do pré-definido, do socialmente esperado, do politicamente correto. Veio salvar o que estava perdido, procurar a ovelha tresmalhada, curar os doentes, restituir a vista aos cegos, perdoar aos pecadores e dar esperança aos desalentados.
O que vejo no Menino do presépio? Como me sinto junto dele? Acolhido, compreendido, abraçado, reconfortado, aconchegado, salvo? O que me diz a mim e o que lhe digo a Ele?
Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor.
Fomos criados para a felicidade, através da comunhão com Deus e com a vida que Ele nos oferece. O hoje de Belém é também o hoje da história que habitamos e da vida que levamos. Nada é estranho ao amor de Deus que vem salvar-nos. Por isso, não tememos viver a vida e as suas contrariedades, porque nos habita a alegria que o Céu nos veio trazer ao dizer-nos que «um Menino nasceu para nós, um Filho nos foi dado» (Is 9, 5).
Estou a viver este tempo de Natal com verdadeira alegria? Como o estou a conseguir? Deixo que as dificuldades da vida me tirem a felicidade de acreditar que Deus está comigo para me salvar? Como concilio estas duas experiências?
4. Oração final e gesto familiar
Em silêncio, cada um responde à questão: qual o compromisso que faço com a Palavra escutada? O que vou transformar na vida por causa dela?
Cada família é convidada a fazer da celebração da Eucaristia de Natal um momento de verdadeira comunhão, de tal forma que possa levar aos outros a alegria que aí recebeu.
Para terminar, todos rezam o Pai Nosso.