Lectio divina para o 2º Domingo do Advento

O Advento apresenta-se como um tempo novo: o tempo da espera, o tempo da esperança.

Preparai o caminho do Senhor

Lectio divina para o domingo II do Advento (Ano C), 5.12.2021

Breve introdução

O Advento é um tempo que nos une à longa espera da humanidade pelo Salvador prometido. Devemos entender e viver o tempo de Advento como um tempo de conversão, que dizer, de mudança de pensar, sentir e proceder, tanto na relação com Deus, como na relação com os outros.

1. Invocação: um novo começo

Deus, que renovas as coisas,
suplicamos neste tempo de Advento
que um novo espírito de interesse pelo outro
se estenda a toda a terra.
Que todas as nações ajam em favor da tua criação.
Que seja silenciado o barulho das motosserras,
se extingam os incêndios florestais,
se purifique a contaminação do ar,
se conserve a energia saudável,
Se contenha a maré da poluição;
De modo que os nossos hábitos de destruição
Se transformem em novas fontes de vida.
Ámen.

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Introdução à Leitura

Lucas, nas referências cronológicas que faz no seu evangelho, quer deixar claro para todos que não está a iniciar o relato de uma fábula, de um mito nascido da fantasia e da imaginação de um sonhador. Ele vai referir-se a factos concretos. A intervenção de Deus na história da humanidade aconteceu num momento e num lugar bem definidos. Em seguida, apresenta de João Batista que pede uma conversão radical. Como pô-la em prática?

2.2. Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (Lc 3, 1-6)

No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, 2sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. 3Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um baptismo de penitência para remissão dos pecados, 4como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. 5Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos.  6E toda a criatura verá a salvação de Deus.’

Palavra da salvação

(Momento para ler de novo e interiorizar a Palavra de Deus)

2.3. Breve comentário

No Evangelho aparece-nos a figura de João Batista, último profeta do Antigo Testamento a dizer o que é preciso fazer, sempre, mas de maneira especial no Advento: Preparai o caminho do Senhor…

Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas.

Tudo tem início no deserto, um lugar carregado de recordações e de profundas ressonâncias emotivas para os israelitas. No deserto eles tinham aprendido muito: a desapegarem-se de tudo aquilo que é supérfluo porque é um peso inútil a carregar ao longo do caminho; a serem solidários e a partilhar os seus bens com os irmãos, e acima de tudo, a confiar em Deus

João Batista não usava a túnica branca dos sacerdotes do templo, vestia um hábito grosseiro, como Elias (2 Rs 2, 13-14); não se alimentava dos produtos da cidade, mas daquilo que espontaneamente o deserto oferecia.

Também os cristãos, mesmo estando no mundo, vivem a espiritualidade do deserto. No mundo que considera normal o recurso à violência, ao conflito e até mesmo à guerra, os cristãos pronunciam apenas palavras de paz e de perdão; num mundo em que se proclamam bem-aventurados aqueles que acumulam bens explorando os mais fracos, os cristãos anunciam o serviço gratuito ao pobre e a partilha; num mundo em que se procura o prazer a todo o custo, eles pregam a renúncia e o dom de si próprio. A pregação de João Batista é uma mensagem de alegria e de consolação para todos.

Preparar uma estrada para o Senhor significa ao nível da pessoa: arrasar o orgulho através do reconhecimento da nossa condição de pecadores, e levantar, pela esperança, os ânimos decaídos. E a nível social, aplanar as desigualdades injustas e erguer os direitos humanos, tapando os buracos da fome, da ignorância e da pobreza, em toda a amplitude.

Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos.  E toda a criatura verá a salvação de Deus.’

Os montes e as colinas representam a soberba, a altivez, a arrogância de quem pretende impor-se e dominar os outros (Is 2, 11-17). É um mundo novo que se inicia, com uma nova lógica que assenta no dom de si, no serviço humilde recíproco e na procura do último lugar (Lc 22, 26).

Os vales a altear são as escandalosas desigualdades económicas denunciadas pelos profetas. Os caminhos tortuosos são as astúcias, as escolhas insensatas, as situações injustas que devem ser revistas e conformadas com os caminhos de Deus. A conversão que o Batista pede é radical.

Deus faz uma promessa: surgirá o mundo baseado em princípios novos, mesmo que aos homens possa parecer uma miragem.

Toda a criatura verá a Salvação de Deus

Eis agora a promessa: é na fraqueza da sua pessoa, que se manifestará a salvação de Deus; não haverá abismo de culpa suficientemente profundo e escuro para que não seja visitado e iluminado pelo seu amor.

Deus não reserva a Sua Salvação apenas para algumas pessoas privilegiadas, mas oferece-a a todos; ninguém é excluído. Mas não basta Deus oferecê-la; é preciso que o homem aceite! Podemos usar mal a nossa liberdade, recusando os dons de Deus. Para aceitar a Salvação que Deus oferece, há uma condição indispensável – a conversão, a mudança radical, a libertação do pecado.

3. Silêncio meditativo e diálogo

Preparar os caminhos do Senhor é a finalidade do Advento: endireitar as veredas, altear os vales, abater os montes e as colinas, endireitar os caminhos tortuosos… Temos de olhar para dentro de nós, e perguntarmo-nos:

Como vai o nosso coração e a nossa vida?

O que é que em nós impede ou torna difícil a vinda do Senhor?

Quais são os caminhos tortuosos?

Quais são os vales e colinas que precisam ser aplanados?

Ensinaram-nos e habituámo-nos a pedir perdão a Deus quando procedemos mal ou não fazemos o bem que podíamos fazer… A experiência diz-nos que não é fácil a conversão, mas não podemos desistir, porque Deus também está interessado nesta nossa caminhada, e isto dá-nos a certeza de que, no esforço que fizermos, não estamos sozinhos. Confiamos em Deus que liberta o seu povo da escravidão, que nos liberta do egoísmo. Temos razões para viver o Advento na Esperança e na Alegria, porque sabemos que, unidos a Cristo, poderemos ultrapassar todos os obstáculos e dificuldades.

4. Propósito e oração final

Proponho-me neste Advento Escutar (ler) mais a Palavra de Deus, para que o Espírito Santo vá destruindo todos os obstáculos à vinda do Senhor.

Procuro reconciliar-me a ajudar outros a reconciliarem-se para que haja fraternidade. Procuro estar mais sensível às necessidades das pessoas que me rodeiam, seja de que tipo forem.

Termino rezando a oração dos filhos de Deus, da fraternidade universal

Pai-nosso

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